Após o sucesso do transplante de rim de um porco para um ser humano nos Estados Unidos, a Universidade de São Paulo (USP) estuda alinhar o feito à uma pesquisa comandada por Silvano Raia, pioneiro do transplante de fígado na América Latina.

De acordo com informações do jornal Estadão, caso o estudo consiga os investimentos necessários para construir um criadouro biosseguro (pig facility), o cirurgião pretende iniciar os testes em humanos nos próximos dois anos.

“Por mais que os dados de laboratório indicassem que estávamos no caminho certo, existiam os céticos”, disse o cirurgião.

“É importante no sentido de mostrar: ‘Olha, já está sendo feito nos EUA’”, acrescentou a geneticista Mayana Zatz, também envolvida na pesquisa, argumentando que o sucesso da equipe nos EUA facilita a aprovação do experimento por comitês de ética brasileiros.

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Assim como no experimento americano, a pesquisa brasileira segue uma linha que consiste na modificação dos genes dos porcos para que o órgão possa ser aceito pelo organismo humano – e não seja rejeitado.

Porcos domesticados
Pesquisadores da USP planejam 1° transplante de rim de porco para humano no Brasil. Imagem: Makic Slobodan / Shutterstock

Raia adianta que os primeiros filhotes serão gerados em um biotério comum da USP e, a partir daí, os testes pré-clínicos serão tocados em perfusão isolada – sistema que permite manter a preservação de órgãos desde a coleta do doador até o transplante. Neste método, geralmente é aplicado o chamado líquido de preservação (perfusato), no entanto, sangue humano será usado.

“Se a perfusão do rim geneticamente modificado com sangue humano, durante 12 horas, não demonstrar rejeição tanto nas biópsias do órgão quanto do perfusato, ficará demonstrado que nosso produto é adequado para ser transplantado em pacientes”, explicou o médico.

Zatz acrescenta que, no futuro, a pretensão também é tornar possível transplantar o coração, a pele e a córnea do porco ao ser humano.

Apesar de o assunto estar em alta agora – após o experimento nos EUA – o estudo brasileiro existe há quatro anos e está sendo realizado no Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células Tronco da USP – laboratório de xenotransplante que também pesquisa transplantes entre espécies diferentes. A iniciativa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da farmacêutica EMS.

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Por que os porcos?

Na última década, a comunidade cientifica tem focado no que se chama “órgãos adicionais”, que não advêm de cadáveres ou voluntários, devido a tendência de envelhecimento da população e as preocupações relacionadas a transplantes e filas de espera. 

Ainda de acordo com Raia, os suínos foram escolhidos por três motivos: “eles têm uma fisiologia digestiva e circulatória muito parecida com a nossa, têm um tempo de gestação mais curto e são prolíferos.”

O transplante em um porco comum – sem genes modificados – no entanto, resulta em rejeição imediata, que ocorre minutos após o enxerto, causando trombose e necrose.

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