Texto de Arie Halpern, economista e diretor da israelense Gauzy Technologies

Esqueça motoboys e entregadores. No futuro próximo, documentos, pequenas encomendas e pizzas serão transportados e entregues por pequenos veículos aéreos não tripulados, os drones.

Esqueça também os canteiros de obras tal como são hoje. Eles terão mudado de figura. Lembrarão uma colmeia, com um enxame de drones em volta. Em substituição aos trabalhadores humanos pendurados em andaimes, eles se encarregarão de assentar as peças da estrutura em construção, com precisão, num verdadeiro balé aéreo.

Por toda parte nos depararemos com drones em funções diversas: policiamento, inspeção de vias públicas e instalações, controle de tráfego, manutenção de instalações, limpeza, irrigação, dedetização e bisbilhotices, dos vizinhos e dos serviços de informação. Bombeiros serão auxiliados por drones em operações de resgate ou combate ao fogo. A imprensa será quase onipresente com suas câmeras voadoras. Nos parques, veremos drones inteligentes interagindo com humanos como o cão que corre atrás da bola e a traz de volta para o dono.

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Talvez essa seja uma visão tímida da sociedade dos drones que vai se desenhando. Afinal, ela contempla apenas funções que esses veículos já são capazes de executar com maior ou menor desenvoltura. Mesmo essa projeção conservadora do que será o futuro, no entanto, nos indica que assistiremos a uma grande e disruptiva mudança em nossas vidas quando os drones estiverem sendo utilizados em grande escala.

Pode-se imaginar essa sociedade assistindo a um desenho animado dos Jetsons ou a alguns dos vídeos sobre experiências com drones. O registro da instalação Flight Assembled Architecture, realizada no FRAC Center de Orleans, próximo de Paris, é uma antevisão do futuro da construção. Na experiência, realizada por uma equipe de pesquisadores do Swiss Federal Institute of Technology, drones levantam uma edificação de seis metros de altura. Matthias Kohler, um de seus idealizadores, garante que os drones vão mudar a cultura da construção e da arquitetura.

O roboticista Raffaello D’Andrea, por sua vez, mostrou à plateia do TEDGlobal quadricópteros capazes de agir com base na experiência adquirida. Eles podem, por exemplo, se mover rapidamente equilibrando um copo d’água ou protagonizar a cena do parque descrita acima. 

No setor militar, até aqui o maior patrocinador dos drones, a nova tecnologia mudou a maneira de fazer a guerra. Há uma discussão muito séria em andamento, alimentada por vazamentos sobre a ação das Forças Armadas dos Estados Unidos a respeito de abusos na utilização de drones. Como sicários inumanos, eles são capazes de perseguir e alvejar um indivíduo onde quer que ele se esconda. Basta que o serviço de inteligência tenha conseguido rastrear os sinais de seu celular.

Transposta para o uso civil, a tecnologia dos drones tem um potencial disruptivo tão grande – especialmente na logística de transporte – que está obrigando as grandes empresas a repensar suas operações. Assim é com a alemã DHL, com a Amazon, com o Google, com o WalMart, com a Shell.

Todas estão em campo fazendo experimentos. A DHL obteve a primeira licença na Europa para utilizar drones em serviços de entrega, em caráter experimental. Faz seus ensaios na Alemanha com veículos não tripulados que cruzam 12 quilômetros, à velocidade de 18m/s para levar medicamentos aos habitantes da ilha de Juist. O Google faz entregas com drones no interior da Austrália, onde pode operar os equipamentos sem restrições. E a Amazon vem causando com a criação de um serviço que promete entregar produtos na casa do consumidor em 30 minutos.

Como toda inovação, as disrupturas na aplicação de drones vêm acompanhadas de conflitos e questões. A disputa pelo espaço aéreo, o incômodo causado pela convivência com os drones, a redução da privacidade, os riscos à segurança são algumas delas. Sobre todas, porém, está colocado o desafio de elevar a sociedade a um grau de desenvolvimento político e cultural que não transforme tecnologias tão poderosas em ameaças à vida e à liberdade dos humanos.

*As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade de seus autores