A era dos smartphones e da computação pessoal popularizou o uso de aplicativos: isto é, programas desenvolvidos para executar funções específicas através dos comandos do usuário. No futuro, porém, a tendência é que a relação entre humanos e máquinas se torne cada vez mais natural, o que pode mudar radicalmente a maneira como usamos esses aplicativos.

Google e Facebook já mostraram suas ideias neste sentido. Hoje, a Microsoft se juntou ao grupo, revelando a visão de um futuro em que não nos relacionamos mais com apps, mas com robôs virtuais. Durante a Build 2016, sua conferência anual para desenvolvedores, a empresa apresentou uma nova plataforma que permitirá a programadores e empresas construir seus próprios robôs.

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Mas de que tipo de robôs estamos falando? Esqueça os homens de lata da ficção científica e das pesquisas em desenvolvimento militar da Boston Dynamics. Os robôs que interessam à Microsoft são sistemas de inteligência artificial que conversam com o usuário pela internet, executando funções através de ordens simples, seja por comandos de voz ou de texto.

Um exemplo foi o robô da Domino’s Pizza, popular rede de pizzarias dos Estados Unidos, apresentado na conferência. A ideia é que um cliente possa simplesmente entrar em contato com esse sistema – uma espécie de atendente virtual – por SMS, WhatsApp, Telegram ou qualquer outro meio; dizer o que quer e onde será entregue o pedido. Mas em vez de usar frases claras e objetivas, a ideia é que o cliente possa conversar com o robô como quem fala com um amigo.

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Reprodução 

Por exemplo: em vez de dizer “Uma pizza de sabor Pepperoni, entregar na Rua X, número 100, bairro Tal”, etc.; o usuário pode simplesmente dizer “quero uma pizza de Pepperoni entregue aqui”. No futuro imaginado pela Microsoft, a inteligência artificial por trás do robô poderá usar dados de geolocalização e interpretar a linguagem do cliente de forma subjetiva para entender que “aqui” identifica um endereço específico no mapa.

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Imagine, portanto, um mundo em que você não precise mais tocar no ícone do Facebook Messenger no seu celular, selecionar um amigo na lista de contatos – digamos, alguém chamado Rafaela -, escrever e pressionar a tecla “enviar” para mandar uma mensagem. Em vez disso, com um robô, você poderia simplesmente dizer ao seu celular: “mande um oi para Rafaela” e pronto.

Obstáculos

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No entanto, para que robôs sejam “os novos aplicativos”, como previu Satya Nadella, presidente da Microsoft, durante a conferência desta quarta, é preciso superar os obstáculos da linguagem. E entender como humanos se comunicam e traduzir essa linguagem para comandos que um sistema informatizado possam compreender é uma tarefa muito mais complicada do que parece.

Recentemente, a Microsoft lançou o Tay, um robô desenvolvido para se relacionar com usuários do Twitter e entender como os jovens modernos se comunicam nas redes sociais. O objetivo era interpretar nuances, ironias, gírias e outras expressões mais subjetivas no discurso das pessoas e usar essas informações para aprimorar sistemas de inteligência artificial. Mas as coisas saíram do controle.

Apenas um dia depois da estreia do projeto, a Microsoft se viu obrigada a remover Tay da rede. O motivo? A interação contínua com um certo grupo de usuários mal-intencionados fez com que o robô passasse a distribuir mensagens de ódio, promovendo o racismo, a xenofobia e outras afirmações polêmicas no Twitter. Não era essa a ideia original, segundo a empresa.

De todo modo, Satya Nadella disse que a Microsoft ainda não desistiu de Tay. Na Ásia, por exemplo, o robô tem sido um experimento de sucesso, e a empresa ainda está trabalhando em formas de compreender o que deu errado com a iniciativa no Ocidente. De qualquer forma, a empresa diz que o caso tornou ainda mais visíveis os obstáculos no processo de comunicação entre humanos e máquinas.

Robôs falam em códigos, muitas vezes binários e extremamente objetivos; enquanto nós, seres humanos, usamos figuras de linguagem, gírias, expressões de duplo sentido, mudamos o tom da fala, entre outras subjetividades. Cada uma dessas nuances pode mudar completamente o conteúdo da mensagem que tentamos transmitir, e um robô realmente inteligente precisa saber interpretar da maneira correta todas elas.

“A linguagem humana é a nova interface de usuário”, disse Satya. “Robôs são os novos apps, enquanto assistentes digitais são ‘meta apps’. Nosso objetivo é inserir inteligência em todas as interações do usuário com um software”, acrescentou o CEO, dizendo ainda que um dos pilares para que esse futuro se torne realidade está em uma filosofia simples: a de inclusão e respeito humano em primeiro lugar.