A mente de Elliot, o personagem principal de “Mr. Robot”, pode ser definida como algo entre um circo e um hospício. Desde a primeira temporada a série conta com sequências bizarras, elucidando a loucura em que o protagonista vive internamente.

Como esquecer daquela já icônica sequência de desintoxicação na primeira temporada, que conta até com peixes falantes e outros delírios dignos de filmes como Trainspotting? Loucura comparável apenas a de “eps2.4_m4ster-s1ave.aes”, o episódio exibido esta semana nos EUA e no Brasil, quando o nível de bizarrice ultrapassa todos os limites.

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Leia nosso review da temporada até aqui:

A partir deste ponto, cuidado com spoilers.

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O episódio começa com uma longa sequência quase indecifrável que joga a série de volta à década de 1980. A proporção de tela muda dos 16:9 tradicionais para 4:3, os tons sombrios são substituídos por cores vivas e alegres em toda a arte e figurino dos atores, enquanto surgem até gargalhadas de auditório em momentos-chave.

Fica nítido, em pouco tempo, que tudo aquilo não passa de uma alucinação, mais uma da mente insana de Elliot. Mas o cuidado da produção em reviver a fórmula e o tom das sitcons de 20 anos atrás é impressionante. A abertura em ritmo de balada familiar, os créditos retrô, o enquadramento e a fotografia, tudo faz lembrar imediatamente séries como “Três é Demais” e “ALF: O E.T.eimoso”.

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Este último, aliás, faz até uma participação especial no episódio. O que realmente torna toda essa sequência de abertura ainda mais absurda, porém é a acidez e o cinismo da violência. Vemos Darlene levar um soco da própria mãe, Gideon Goddard reaparecer só para ser atropelado e deixado sangrando na estrada, e até Mr. Robot assassinar casualmente um indefeso Tyrell Wellick, com direito a esguicho de sangue na roupa branca.

Tudo isso enquanto as risadas de auditório ecoam ao fundo, como se toda essa violência fosse engraça, em um cenário nitidamente montado e um carro que não sai do lugar viajando por uma estrada de mentira. A ilusão, como logo sabemos, foi criada por Mr. Robot para proteger Elliot da violência real que ele sofria fora daquele mundo de fantasia. Por isso tantos momentos de súbita agressividade inexplicável: é como se a violência no mundo real estivesse tentando penetrar aquele mundo de mentira.

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Mas falaremos mais sobre essa sequência depois. Antes, é preciso tirar o chapéu para os roteiristas que finalmente deram a Angela um papel de destaque na série. A evolução da personagem, de donzela em perigo para hacker, chega ao máximo neste episódio, durante um falso plano sequência que, apesar dos cortes, é de tirar o fôlego.

Após um início lento, é muito bom ver que “Mr. Robot” não perdeu sua essência. No episódio que pode ser classificado como o melhor da temporada até agora, tudo o que os fãs mais gostam da série está lá: esmero artístico, alucinações, hackers realistas e personagens bem desenvolvidos.

O que nos leva ao fim do capítulo, que mais uma vez concentra a ação em torno do relacionamento entre Elliot e seu falecido pai. O herói finalmente abraça sua alucinação, agradecendo-o por tê-lo protegido do perigoso Ray (que finalmente mostra a que veio) quando mais um flashback entra em cena.

Temos um vislumbre da infância de Elliot no dia em que ele descobre que o pai está doente – justamente o mesmo dia em que o garoto é apresentado à loja de eletrônicos Mr. Robot. Numa referência à abertura do episódio, estamos de volta a um carro em uma estrada, dessa vez filmados com muito mais realismo, e cores um pouco menos sombrias do que o restante da série.

Vemos, então, Elliot e seu pai num momento de carinho, totalmente inédito na série até agora, que sempre os colocou em posição de antagonismo. O catarse emocional parece ser a chave para o desenvolvimento dos personagens, que agora precisam dar as mãos e trabalhar juntos para sair do calabouço onde Ray os colocou.

Um final otimista para um episódio marcante, que parece colocar esta segunda temporada a caminho de uma conclusão surpreendente.

“Mr. Robot” é exibido no Brasil pelo canal Space, toda quinta-feira, às 23h20.