Quase uma semana já se passou, mas nem todo os fãs da Apple se recuperaram da notícia de que o iPhone 7 vem sem entrada para fones de ouvido. Mas o que pode ter vindo como uma supresa para alguns, porém, não deve ter assustado quem já conhece a história da empresa em detalhes.
Afinal de contas, a Apple tem um longo histórico de mudanças polêmicas em favor de novas tecnologias que ainda não são populares no mercado. O que para alguns parece precipitação, para outros é mais uma prova do DNA inovador que a empresa tem – mesmo se a mudança, em si, não for inédita.
Steve Jobs, o lendário fundador da companhia, explicou essa característica em uma conferência realizada em 2010. “Se o mercado nos disser que estamos fazendo escolhas erradas, nós daremos ouvidos. Nós tentamos fazer produtos incríveis para as pessoas. E nós temos a coragem, nas nossas convicções, de dizer ‘não achamos que isso faz desse um produto incrível, por isso vamos deixá-lo de fora’.”
“Algumas pessoas não vão gostar disso, vão nos xingar, mas nós vamos aguentar porque queremos fazer o melhor produto do mundo para as pessoas. E quer saber? Eles estão nos pagando para fazer essas escolhas. Se tivermos sucesso, eles vão comprar nossos produtos, e se não gostarem, não vão comprar!”, simplificou o executivo.
Seja removendo recursos que muitos usuários se acostumaram a usar ou antecipando-se a tendências de tecnologia do futuro, relembre abaixo 5 decisões da Apple que mudaram seus produtos, causaram polêmica, mas acabaram aceitos – ou não – pelos consumidores e pelo mercado.
Os usuários mais jovens podem reconhecê-lo apenas como o ícone padrão para salvar arquivos, mas os floppy disks – ou disquetes, como eram conhecidos no Brasil – são os avôs dos pen drives. Trata-se de um dispositivo de armazenamento que há alguns anos já caiu no esquecimento.
E foi justamente a Apple a primeira empresa a decretar a morte do formato, numa época em que ele ainda era muito usado. Em 1998, no lançamento do iMac G3, Steve Jobs surpreendeu o mercado com a nova versão do seu PC que não vinha com leitor de disquetes.
Em vez disso, o iMac G3 foi o primeiro computador a usar o recém-criado padrão USB para conexões entre diferentes dispositivos. O que parecia loucura para muitos acabou sendo uma decisão copiada por toda a indústria nos anos que se seguiram.
O iPhone 7 não foi o primeiro smartphone da Maçã a vir com uma problemática entrada para fones de ouvido. A primeira geração do iPhone, lançada em 2007, vinha com a porta de 3,5 mm tradiconal (o que era raro em telefones celulares da época), só que essa porta era mais profunda do que o normal.
Resultado: muitos consumidores reclamaram que seus fones de ouvido não funcionavam no iPhone. A opção dos usuários era usar um adaptador ou o fone de ouvidos original da própria Apple. O “defeito” foi reconhecido por Steve Jobs na apresentação do iPhone 3G, em 2008, dizendo que a segunda geração do smartphone era compatível “com qualquer fone de ouvido”.
Hoje em dia é cada vez mais difícil encontrar uma empresa que ofereça forte suporte ao formato de mídia Flash. O padrão, pertencente à Adobe, revelou-se uma fonte de consumo de energia e memória desnecessária, além de um chamariz para malware, sendo lentamente substituído pela maioria dos programas e browsers da web em favor de formatos mais modernos e seguros.
No entanto, quando o primeiro iPad chegou ao mercado, em 2010, sem suporte ao Flash, as reações foram bem negativas. Muitas avaliações sobre o aparelho feitas pela imprensa criticaram a decisão da Apple, considerando que muitos websites da época que dependiam do plugin não funcionavam bem no tablet.
“Nós realmente acreditamos que todos os padrões pertencentes à web deveriam ser abertos. Em vez de usar Flash, a Apple adotou o HTML5, CSS e JavaScript”, justificou Steve Jobs. O executivo também foi um dos primeiros a apontar as falhas de segurança do Flash e o fato de que o formato era “a razão número um para travamentos nos Macs”.
Além disso, no mesmo artigo em que Jobs fez essas declarações, o fundador da Apple fez uma previsão que se confirmaria anos após sua morte. “A avalanche de aplicativos para aparelhos móveis da Apple demonstra que o Flash não é mais necessário para assistir a vídeos ou consumir qualquer tipo de conteúdo para web. Novos padrões abertos criados na era móvel, como o HTML5, irão triunfar em aparelhos móveis (e PCs também)”.
Outro produto que fez sua estreia no mercado surpreendendo o público (pelo bem e pelo mal) foi o MacBook Air. O notebook da Apple, lançado em 2008, era incrivelmente fino para a época, mas diminuir a espessura do aparelho não foi uma decisão sem consequências.
Assim como a saída da porta P2 diminuiu a espessura do iPhone 7, a Apple removeu do MacBook Air a porta de Ethernet e o leitor de CDs e DVDs, recursos comuns em notebooks da época (até em outros MacBooks), para deixá-lo mais fino. Na apresentação do dispositivo, Steve Jobs disse que a maioria dos usuários não sentiria falta do leitor de discos.
Fato é que a decisão da Apple não se tornou tendência no mercado. Até hoje fabricantes incluem leitores ópticos em seus notebooks. Tanto é que a Apple não demorou para lançar um adaptador, que custava US$ 99, para quem quisesse rodar CDs ou DVDs no primeiro MacBook Air.
Contudo, é bem provável que os dias do leitor de discos estejam contados. Com as facilidades do streaming e das plataformas online de consumo de música, filmes e séries, é cada vez menor o número de vendas de mídias físicas em todo o mundo. Talvez Jobs estivesse certo no fim das contas, apenas um pouco precipitado.
Não é de hoje que a Apple usa um padrão pouco convencional na entrada para carregador de bateria do iPhone. Até 2012, a empresa usava um sistema de 30 pinos compatível com a maioria dos acessórios do smartphone, até que o iPhone 5 chegou causando polêmica.
Semelhantemente ao que aconteceu com o iPhone 7, o iPhone 5 deixou alguns usuários furiosos com a estreia do novo padrão Lightning. A mudança significava que quase todos os acessórios lançados até então para o smartphone, compatíveis com a entrada de 30 pinos, não serviam mais no novo iPhone e nem nas gerações futuras.
Adaptadores foram lançados em seguida, custando entre US$ 29 e US$ 39, mas demorou um pouco até que os fãs se acostumassem com o novo padrão, mesmo sendo ele mais rápido e seguro do que seu antecessor. A história da Apple com uma arquitetura fechada, em máquinas que só aceitam acessórios da mesma marca, é, portanto, bem antiga.
Esta post foi modificado pela última vez em 12 de setembro de 2016 15:42