O New Scientist revelou ontem que um bebê nascido em abril de 2016 é a primeira criança a nascer com o código genético de três pessoas diferentes. A criança foi gestada por meio de um procedimento que permite que pessoas portadoras de genes de doenças fatais possam conceber normalmente.

Uma mulher portadora do gene para síndrome de Leigh entrou em contato com o endocrinologista reprodutivo John Zhang, do New Hope Fertility Center em Nova York, para tentar engravidar. A moça já havia passado por quatro abortos involuntários e já havia tido dois filhos que morreram por volta dos seis anos de idade por conta da síndrome.

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Embora a moça não sofra da síndrome de Leigh, seu DNA contém o gene para a doença, o que faz com que seus filhos nasçam com ela. A síndrome é uma doença neurológica que provoca cansaço e fraqueza generalizados, falta de tônus muscular e acúmulo de ácido lático no corpo que causas problemas nos rins e no sistema respiratório, segundo o The Next Web.

A cara de um, a mitocôndria de outro

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Para contornar essa situação, Zhang propôs um método que envolve a utilização do código genético de três pessoas diferentes para criar um embrião. A técnica utiliza o núcleo de um óvulo da mãe, que é então injetado em outro óvulo, proveniente de uma doadora, cujo núcleo foi removido. Esse óvulo é então fertilizado com os espermatozóides do pai, resultando num embrião com o código genético de três pessoas diferentes.

A técnica funciona porque a síndrome de Leigh é uma doença mitocondrial – ela afeta as mitocôndrias, componentes das células do corpo, que têm seu próprio DNA. Os núcleos das células, no entanto, não têm mitocôndrias; utilizando o DNA do núcleo do óvulo da mãe e o DNA do restante do óvulo de uma doadora, o embrião terá o código genético da mãe, mas o seu DNA mitocondrial será o da doadora, segundo a CBS News.

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Trata-se, no entanto, de um procedimento controverso. Embora tenha sido aprovado no Reino Unido no ano passado, nos Estados Unidos, por exemplo, ele não é aprovado. Isso levou Zhang e sua equipe a realizarem o procedimento no México, onde não há leis proibindo essa técnica. O endocrinologista disse à New Scientist estar confiante de sua escolha: “salvar vidas é a coisa certa a se fazer”.

Saudável

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Por tratar-se ainda de um método muito novo, os médicos produziram cinco embriões utilizando essa técnica. Um deles iniciou seu desenvolvimento normalmente, e foi então implantado na mãe, que deu continuidade à gestação normalmente e deu à luz em abril de 2016.

Como era necessário algum tempo para comprovar que a síndrome de Leigh não afetaria a criança, a notícia do sucesso da operação só pode ser anunciada agora. De acordo com exames, menos de 1% das mitocôndrias do bebê têm a mutação que desencadeia a síndrome. Isso deve ser suficiente para que ele tenha uma vida saudável, já que é necessário que cerca de 18% das mitocôndrias sejam afetadas para que a doença se desenvolva.

No entanto, Zhang ressalta que é importante continuar a realizar exames periódicos. Isso porque existe a possibilidade de que as mitocôndrias afetadas se reproduzam de maneira mais eficiente que as demais. Ainda assim, segundo o endocrinologista, “isso é muito revolucionário”, já que “é a primeira vez, ao menos na reprodução humana, que os filhos são gerados com o envolvimento de três partes”.