Quando grandes ciberataques acontecem, a primeira fase é o choque e a surpresa. A segunda é tentar entender como eles aconteceram. O último caso notório vitimou a HBO com o roubo de episódios inéditos de seriados, além de roteiros e dados de funcionários, totalizando 1,5 TB de informações subtraídas da empresa. Mas como isso aconteceu?

Sem as informações oficiais partindo da própria HBO ou de autoridades envolvidas no caso, é impossível cravar com certeza o método de ataque. No entanto, existem duas teorias mais fortes, conforme revelado pelo especialista Roderick Jones em entrevista ao site Digital Trends. Fundador da empresa de cibersegurança Rubica e ex-membro da Scotland Yard, ele acredita que a indústria do entretenimento esteja “uns cinco ou seis anos atrasada” em relação ao ponto em que deveriam estar em termos de segurança digital, lembrando do desastre que foi o ataque à Sony Pictures em 2014.

Sua principal teoria é a de que o ataque à HBO se sucedeu graças ao Windows desatualizado, como aconteceu com o WannaCry, com um malware moldado para fazer uso de uma vulnerabilidade ainda não corrigida.

“Isso criou uma vulnerabilidade para a HBO. Eu diria que é bastante provável, porque é aí que moram as fraquezas”, afirma. Para isso, ele se baseia no ataque à Sony, que usou brechas em ferramentas de gerenciamento do Windows, e no ataque que causou o vazamento de episódios de “Orange is the New Black”, da Netflix; segundo representantes do Larson Studios, a empresa que foi hackeada para ter os episódios vazados, os cibercriminosos não procuravam pelo seriado, apenas queriam atingir computadores com Windows.

publicidade

“As pessoas pensam que você pode ligar uma chave e falar ‘oh, eu terei cibersegurança’. Não funciona assim, porque as máquinas que eles têm cuidando desse conteúdo serão sistemas antigos. Não é possível fazer isso do dia para a noite”, ele conclui.

E se não for o Windows?

Então a coisa fica mais pessoal. Supondo que a HBO tenha uma boa política de segurança e cuide de seus sistemas adequadamente, não é tão fácil garantir que todos os seus funcionários estejam cumprindo à risca os procedimentos mais seguros. Assim, a segunda teoria é a de que os hackers miraram funcionários individualmente.

“Se você é um executivo em uma dessas empresas, você provavelmente tem segurança enquanto está sentado em seu escritório, mas não quando está em casa. Os hackers pensam: ‘Eu vou esperar você ir para casa ou esperar você parar para tomar um café perto do estúdio’”, explica Jones.

Ou seja: para prejudicar uma empresa inteira, basta atingir um funcionário com acesso a informações sensíveis, e a maioria deles só toma precauções no trabalho, podendo se expor até mesmo em redes Wi-Fi públicas, que têm péssima segurança e permitem a interceptação de dados com facilidade para um hacker experiente.

A partir daí, o vazamento de “Game of Thrones” pode ser um incômodo para fãs da série fugindo de spoilers, mas não é o maior dos problemas para a HBO. Neste momento, o cibercrime pode ter em mãos e-mails e informações extremamente sigilosas que poderiam custar fortunas à empresa.