Por Gustavo Sumares

Havia alguma expectativa em torno do lançamento do Moto X4. Afinal, ele era o sucessor de uma das linhas mais populares da Motorola que, por algum motivo, a marca deixou de lado no ano passado. Mesmo assim, o Moto X de 2014 continua sendo uma referência histórica em termos de dispositivo com bom custo benefício – quem teve (ou ainda tem) um deve se lembrar bem.

O Moto X de 2014, no entanto, foi sucedido por dois outros aparelhos: o Moto X Play e o Moto X Style, ambos mais caros – e não tão bons – quando seu antecessor. Foi o começo de uma estratégia da marca de lançar cada vez mais aparelhos diferentes. Se antes ela tinha só o Moto E, Moto G e Moto X, só em 2017 ela já lançou nove outros celulares além desse.

Esperava-se, portanto, que o Moto X4 marcasse o retorno de um aparelho intermediário com excelente custo-benefício ao portfólio da empresa. E, nesse aspecto, ele decepciona – a razão preço/performance desse dispositivo ainda passa longe da do Moto X de 2014. Mesmo assim, trata-se de um dispositivo intermediário interessante, que pode ser o aparelho ideal para algumas pessoas.

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Design

Aparelhos na faixa de preço do Moto X4 precisam se destacar, e ele com certeza consegue. Ele tem uma traseira de vidro muito bonita nas duas cores: topázio (um azul claro bem brilhante) e preto. A traseira de vídeo tem seus contras: é outro ponto de fragilidade além da tela, acumula manchas de gordura rapidamente e deixa o dispositivo um pouco escorregadio. Ao menos, a aparência compensa, e a traseira é pelo menos resistente a riscos e arranhões.

Os botões de volume e de destravar a tela do aparelho estão bem colocados, no lado direito do dispositivo (com a tela virada para frente), facilmente acessíveis ao polegar direito. O botão de ligar a tela tem uma textura que permite diferenciá-lo facilmente dos demais, e os de volume são dois botões separados parecidos com o do Moto Z2 Force – e não um único botão duplo como o do Moto G5S. Esses detalhes também ajudam o celular a se diferenciar quanto ao design.

Outra diferença dele para os demais aparelhos está na aparência de sua traseira, mais especificamente na parte onde ficam as câmeras. Em vez de o flash ficar embaixo das lentes formando aquele “sorriso” que aparece no Moto Z2 Force e no Moto G5S Plus, por exemplo, ele fica acima das câmeras, na forma de uma pequena bolinha. Esse conjunto todo tem um desenho bem legal e fica um pouco elevado com relação à traseira do dispositivo. A “lombada” das câmeras é bem pronunciada. Não chega a ser um problema, mas se for algo de que você não gosta, é bom saber.

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O peso das câmeras também cria uma espécie de desequilíbrio no aparelho. Como boa parte do peso dele fica bem para cima, ele fica um pouco solto nas mãos quando você o segura com as duas mãos para digitar, por exemplo. E como a traseira dele é de vidro, ela é escorregadia e não tem o tradicional “furinho” que os aparelhos da Motorola costumam ter na traseira para apoiar o dedo indicador. De novo, não é um grande problema. Mas se as suas mãos forem pequenas, pode ser um incômodo considerável. O dispositivo, felizmente, tem saída para fones de ouvido, e ela fica na parte inferior do smartphone.

Software e usabilidade

O Moto X4 tem a versão tradicionalmente limpa do Android que os aparelhos da Motorola usam, com as pequenas mas interessantes modificações que a marca inclui no sistema. As modificações incluem alguns recursos já conhecidos, como os Moto Gestos: balançar o aparelho duas vezes como se ele fosse um martelo faz com que ele acenda a lanterna, por exemplo. E girar o pulso com o celular na mão faz com que a câmera seja ativada.

Esses gestos são bem legais, pois permitem um acesso fácil a recursos úteis. Um pouco menos legal é a Moto Tela – teoricamente, ele permite que você ative a tela do celular para ver dados como a hora e as notificações simplesmente passando a mão sobre a tela. Na prática, no entanto, o recurso não funciona muito bem: ora ele não acende quando você passa a mão por cima dele, ora ele acende sem motivo aparente. É uma pena, pois trata-se de um recurso bem interessante.

Há outros recursos parecidos. Por exemplo, o sensor biométrico do aparelho pode ser usado para substituir os botões de navegação do Android. Nesse caso, deslizar para a esquerda substitui o botão “voltar”, deslizar para a direita substitui o “apps recentes” e cutucar o sensor faz as vezes do botão home. Com isso, você consegue ganhar um pouco mais de espaço na tela, já que os botões não aparecem.

Na minha experiência, o recurso funcionou bem, mas eu ainda preferi deixar os botões; o costume de usá-los não vale o espacinho de tela que se ganha. O sensor biométrico, aliás, é bastante rápido e confiável. Ele funciona com regularidade, mesmo se o dedo do usuário estiver um pouco molhado ou engordurado.

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Fora isso, a Motorola opta por uma experiência de Android bem próxima do que o Google pretende, e seu aparelho é melhor por isso. Por exemplo, você pode acessar a Google Assistente segurando o botão Home, e deslizar para a direita a partir da tela inicial leva você para o Google Home. São dois recursos bem úteis em qualquer situação, e é meritoso que a empresa deixe-os facilmente acessíveis aos usuários em vez de fazer como a Samsung, por exemplo, e substituir as posições deles por recursos menos úteis da própria empresa.

Performance

Boa performance, em um celular, é aquela que não é percebida, exceto em alguns casos positivos. E, nesse sentido, dá para dizer que o Moto X4 tem uma performance bem aceitável. Ele consegue abrir a maioria dos aplicativos sem muita demora e troca de um app para outro sem muito atraso, mesmo quando há diversos programas abertos. Para a enorme maioria de tarefas diárias e jogos não muito exigentes, ele se sai muito bem.

É o que se esperaria. O aparelho tem um processador Snapdragon 630 – o mesmo do Zenfone 4, por exemplo – com 3 GB de RAM, o que garante esse desempenho aceitável na maioria das tarefas medianas. A pontuação dele no benchmark Antutu é semelhante à do Moto Z2 Play, que tem um processador um pouco mais lento, mas tem também 1 GB de RAM a mais. De qualquer maneira, ainda é menos performance do que a de um Galaxy S7, por exemplo – que já é um top de linha com mais de um ano de idade.

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No caso de jogos muito exigentes e de aplicativos muito pesados, no entanto, o MOto X4 engasga um pouquinho. Isso não chega a ser um problema – afinal, ele só apresenta lentidão nos tipos de apps que você esperaria que qualquer celular se encrencasse. Mas há uma exceção notável a essa regra: o aplicativo de câmera da Motorola.

Mesmo com o gesto para acionar a câmera rapidamente, o app da câmera frequentemente leva alguns segundos para abrir – tempo suficiente para que você perca o momento que queria fotografar. Também chama a atenção o fato de que o obturador da câmera é bastante lento. Demora um pouco entre você apertar o botão e a foto ser tirada, mesmo com o HDR desligado. Isso acaba prejudicando a câmera, especificamente, e o celular como um todo. E trata-se de um problema mais difícil de engolir em um celular intermediário que num dispositivo de entrada.

Pelo menos em termos de armazenamento não há nada a reclamar. O dispositivo tem espaço para cartão microSD de até 2TB, o que é uma decisão de design que, assim como a saída para fone de ouvido, mostra que a empresa se preocupa com necessidades básicas de seus consumidores.

Tela e som

O Moto X4 tem uma tela LCD de 5,2 polegadas com resolução Full HD. Não se trata de uma tela fora do padrão em termos de tamanho, resolução ou qualidade. O display do dispositivo faz basicamente tudo que você esperaria dele, reproduzindo vídeos com boa qualidade, e com boa visibilidade mesmo em ângulos bem extremos, e mesmo sob luz direta.

Por ser uma tela LCD, ela acaba não tendo o mesmo nível profundo em cores escuras que os aparelhos com painéis OLED. Mesmo assim, esse tipo de detalhe só é perceptível em uma comparação direta, ou para quem tiver muita experiência com telas de celular. No geral, a tela do dispositivo funciona muito bem.

Em termos de som, no entanto, ele deixa um pouquinho a desejar. O aparelho tem apenas uma saída de som, que é justamente o lugar onde você coloca a orelha quando recebe uma ligação. Esse alto-falante fica bem algo quando você vai ver um vídeo, e de fato ele é suficiente para assistir a vídeos em locais mais tranquilos. Mas ele não é alto o suficiente para ocasiões um pouco mais barulhentas. Deixar o celular em cima da mesa para ouvir música na sala, por exemplo, não dá muito certo – é melhor usar uma caixinha bluetooth nesse caso.

Câmeras

Com duas câmeras de 12 MP na parte traseira, o Moto X4 tem um recurso de câmera dupla que se popularizou com o lançamento do iPhone 7 Plus. No entanto, assim como o Moto Z2 Force, o Moto X4 tem uma configuração diferente da do celular da Apple. Ele tem uma lente grande-angular e outra com distância focal mais convencional – de maneira semelhante ao LG G6.

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Supostamente, essa combinação permite uma série de recursos, como o “efeito de fundo borrado” que deixa os retrados mais bonitos e a criação de fotos em preto e branco com apenas uma cor destacada. Fora isso, a conjunção das informações dos dois sensores deve ajudar a câmera a produzir imagens com cores mais vívidas.

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De fato, a câmera consegue capturar imagens legais, mesmo em condições de luz menos que ideias. Isso tem um pequeno o preço disso, no entanto, é pago em agilidade: como mencionado anteriormente, o obturador da câmera é bastante lento. Isso significa que você pode perder o momento que quer fotografar, e que imagens em movimento ou em ambientes de pouca luz quase certamente sairão borradas.

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Quanto ao “efeito de fundo borrado”, ele de fato funciona. Você consegue focar o rosto das pessoas ou objetos que fotografa e borrar o fundo, criando fotos legais. O problema é que o aparelho nem sempre entende direito o que é o “rosto” e o que é o “resto”: em outras palavras, às vezes ele borra o que não devia, incluindo pedaços do rosto ou objeto que você quer retratar.

Dá pra corrigir esses problemas, mas é necessário “brigar” um pouco com o recurso para que ele funcione. E enquanto você tenta, precisa lutar com a lentidão do aparelho, que fica bem devagar enquanto combina os dados dos dois sensores. Na flor abaixo, por exemplo, dá pra perceber que as pétalas vermelhas estão em foco, mas o cabo amarelo – que faz parte do motivo da foto – está borrado indevidamente:

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Os outros recursos também funcionam, mas não me pareceram tão interessantes assim: eles são o tipo de recurso que você conseguiria replicar com um aplicativo, e nesse caso não parecem particularmente interessantes. Os efeitos animados, por exemplo, são bem legais – mas são exatamente o tipo de coisa que qualquer celular consegue acessar no Instagram, por exemplo.

Animações aparte, porém, a câmera frontal de selfie de 16 MP funciona muito bem. Ela tem um recurso interessante que permite “combinar” cada 4 pixels em um. Com isso, a imagem fica com apenas 4 MP, mas ela funciona muito melhor em condições de luz baixa, o que ajuda bastante.

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Há ainda um recurso de identificação de objetos que imita o Google Lens, mas da Motorola. Ele é capaz de extrair algumas informações das imagens que você captura com a câmera, mas não muitas. Identificar livros pela capa, por exemplo, ele consegue – mas não muito mais. E enquanto o celular tenta fazer isso, ele fica bem lerdo. Por enquanto, parece mais uma tentativa da Motorola do que um recurso propriamente desenvolvido.  

Bateria

Em termos da duração da bateria – que é um aspecto no qual os celulares intermediários conseguem deixar até mesmo os tops de linha para trás – o Moto X4 não apresenta surpresas. Sua bateria é suficiente para um dia inteiro de uso, mesmo que seja um dia longo, mas não muito mais. Se você for dormir fora de casa, por exemplo, é bom ter um carregador ou bateria portátil com você.

Ao menos o carregamento do aparelho é bem rápido. Se você usar o carregador TurboPower que vem junto com o dispositivo, dá para garantir algumas horas de uso com apenas cerca de 15 minutos de carga. A carga completa leva algumas horas, mas isso não importa muito. O mais interessante é perceber que, se a bateria estiver acabando, você consegue dar um gás a mais no seu celular só sentando perto de uma tomada por um tempo, por exemplo.

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Conclusão

Há muitas coisas interessantes no Moto X4 – duas câmeras na traseira, um software bastante otimizado que garante uma experiência de uso muito tranquila e um design ótimo, por exemplo. Mas falta ao dispositivo algum recurso realmente diferente ou impressionante que o diferencie de tantos outros aparelhos parecidos que a Motorola já lançou em 2017.

Na falta disso, um aspecto particularmente convidativo poderia ser o preço. Mas não é o caso. A Motorola sugere para ele um preço de R$ 1.700, o que o coloca entre o Moto Z2 Play e o Moto G5S Plus. Isso significa que por R$ 300 reais a mais você consegue comprar um celular com tela e bateria melhores, performance e câmeras semelhantes, e compatibilidade com Moto Snaps. Significa também que por R$ 200 a menos você compra um Moto G5S Plus, que tem basicamente tudo que o Moto X4 tem, com uma performance um pouco inferior.

Há, portanto, poucos motivos para recomendar especificamente o Moto X4 a alguém. Ele acaba sendo uma espécie de “Moto G5S Plus Plus” – a versão turbinada da versão turbinada do Moto G5S (que por sua vez é uma versão turbinada do Moto G5). O verdadeiro problema, portanto, foi a estratégia da Motorola de saturar o mercado com dispositivos de preços e especificações muito parecidas.

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