Um estudo publicado nesta semana no periódico científico “Molecular Psychiatry” concluiu que a exposição continuada a jogos violentos não provoca “mudanças significativas” no comportamento dos jogadores. Mais especificamente, os participantes passaram dois meses jogando “GTA V” todo dia por pelo menos meia hora, e isso não afetou seu comportamento. 

No total, o estudo incluiu mais de 90 pessoas com idades entre 18 e 45 anos que relataram não ter jogado videogames (ou jogado muito pouco) nos seis meses anteriores ao estudo. Todos eles foram avaliados em busca de problemas psicológicos pré-existentes. Noventa pessoas foram divididas em dois grupos: um deles jogo “GTA V” por pelo menos meia hora todo dia ao longo de oito semanas; o outro fez a mesma coisa, mas jogou “The Sims 3”. Um terceiro grupo menor, de controle, não jogou nada.

Tanto antes quanto depois desse período de oito semanas, os participantes responderam a uma bateria de 52 questionários, desenhados para medir fatores como “agressão, atitudes machistas, empatia, e competencias interpessoais, (…) e funções de controle executivo”. Foram feitas 208 comparações entre os testes, o que revelou alterações em apenas três dos participantes.

Mas como o nível de confiança dos questionários era de 95%, seria de se esperar que cerca de 10 pessoas demonstrassem alterações. Como o número foi inferior ao que seria estatisticamente esperado em um teste aleatório, os pesquisadores concluíram que “não houve efeitos detrimentais causados pela exposição aos jogos”. 

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Desarmando a questão

A pesquisa oferece um embasamento interessante para a hipótese de que os jogos violentos não alteram o comportamento das pessoas. A ideia de que eles podem contribuir para tornar os adultos mais violentos costuma ser aventada sempre que acontecem massacres em escolas nos Estados Unidos, por exemplo.

Recentemente, o presidente Donald Trump acusou os jogos violentos de “fazer a cabeça dos jovens” em resposta a um massacre num colégio da Flórida. O presidente se reuniu com representantes da indústria dos games e membros da sociedade civil para discutir atitudes a serem tomadas a esse respeito, mas a reunião terminou sem nenhuma decisão.

Por outro lado, os autores do estudo ressaltam que “pesquisas futuras são necessárias para demonstrar a ausência de efeitos da exposição a jogos violentos em crianças”. Faz sentido; afinal, o estudo só avaliou pessoas com mais de 18 anos. Mas como o Ars Technica aponta, outros estudos já avaliaram essa questão. Em 2011, um levantamento com 11 mil jovens britânicos considerou que “jogos eletrônicos não estavam associados a problemas de conduta”.