Não olhe agora, mas há um homem de terno levitando no teclado de emojis do seu smartphone. Já havia reparado? O ícone aparece no Android, iOS, WhatsApp, Windows, Samsung, Facebook, Twitter e toda plataforma que se baseia no padrão Unicode.

O símbolo passou a fazer parte dos teclados de emoji de todo o mundo em 2014 quando o Unicode 7.0 foi aprovado. Mas a história dele é bem mais antiga. Tem a ver com o Windows 98, Bob Marley e o designer que criou a fonte mais odiada do mundo, a Comic Sans.

Tudo começa em 1997 quando a Microsoft lançou o Internet Explorer 4.0. Aquela edição do navegador trazia consigo uma nova fonte chamada Webdings, que mais tarde seria incorporada à galeria de fontes do Windows 98 e versões posteriores.

A família Webdings trocava letras normais do alfabeto romano por pequenos ícones em preto e branco, semelhantes aos emojis modernos. Segundo a Microsoft, o objetivo era que aquela tipografia pudesse ser usada por web designers como “um método rápido e fácil de incorporar gráficos em suas páginas”.

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Entre os símbolos no alfabeto da Webdings, havia ícones compreensíveis, como uma casa (letra B), um olho (N) e um coração (Y). Mas havia também artes mais abstratas, como o misterioso “homem de terno levitando” original (letra M).

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A Microsoft diz que “um time de iconógrafos viajou pelo mundo perguntando aos designers e usuários de sites quais símbolos, ícones e pictogramas eles achavam que seriam mais apropriados para uma fonte desse tipo”.

Com base no feedback que recebeu, este grupo de designers criou a Webdings e o “homem levitando”. Os criadores da fonte são Sue Lightfoot, Ian Patterson, Geraldine Wade e Vincent Connare. Este último nome talvez soe familiar.

Além da Webdings, Vincent Connare também é pai da fonte Trebuchet MS. Mas sua mais famosa obra é a polêmica Comic Sans, criada na década de 1990 para o Windows 95. Hoje odiada por designers, Connare ainda defende a tipografia, criada por ordem da Microsoft para “agradar crianças”.

“A Comic Sans faz o que foi comissionada para fazer, é amada por crianças, mães e muitos pais. Por isso, ela faz o seu trabalho muito bem”, disse Connare em entrevista ao site Dezeen em 2014. “Eu acho que pessoas que não gostam de Comic Sans não entendem nada de design.”

Mas voltemos à Webdings. Em 1997, Connare e sua equipe foram encarregados de criar ícones com base numa lista de palavras-chave elaborada pela Microsoft. Uma destas palavras era “pular”, e foi aí que ele se lembrou de um LP de uma banda chamada The Specials, que ele guardava em casa.

A banda britânica formada em 1977 era um popular exemplo do movimento musical ska, criado na Jamaica na década de 1950 e que foi importado para a Europa, fazendo sucesso entre jovens do Velho Continente na década de 1990.

O selo que distribuía as músicas da banda The Specials se chamava 2 Tone Records. O logo da gravadora aparecia em todos os álbuns do grupo e exibia um homem usando o típico figurino de um jovem “ska”: terno, gravata, óculos escuros e chapéu fedora.

O logo da 2 Tone Records, por sua vez, foi feito por Jerry Dammers, fundador da gravadora. Ele se baseou na pose do músico Peter Tosh na capa do disco “The Wailing Wailers”, de 1965, o álbum de estreia da banda jamaicana The Wailers, formada por Tosh, Bunny Wailer e um iniciante Bob Marley.

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O personagem de terno no logo da gravadora virou mascote da empresa e ganhou até um nome: “Walt Jabsco”, nome que Jerry Dammers tirou de uma camiseta de um clube de boliche antigo. Quase duas décadas depois, Connare adaptou o logo da 2 Tone Records e criou o “homem de terno levitando”.

Em uma entrevista à Newsweek em 2016, o pioneiro designer contou que a arte do ícone deveria lembrar, na verdade, o movimento de um homem com figurino de ska saltando no ar. A sua silhueta também lembra a de um ponto de exclamação.

Quase 17 anos depois da criação do “homem de terno levitando”, o consórcio Unicode decidiu adaptar alguns ícones das fontes Wingdings e Webdings do Windows 98 para o alfabeto de emojis modernos. E esta é a história do misterioso símbolo: de uma capa de disco de reggae de 1965 para o teclado do seu smartphone.