Demorou, mas aconteceu. Oito anos depois de ser fundada e quatro anos após receber um primeiro aporte de 540 milhões de dólares do Google e de outras gigantes da tecnologia, a startup Magic Leap finalmente lançou seus primeiros óculos de realidade mista — um conceito usado pelo Google Glass e também pelo rival HoloLens, da Microsoft.

Custando 2.300 dólares (mais de 8.600 reais), o Magic Leap One Creator Edition está disponível para entrega em algumas cidades norte-americanas. Quem não mora em nenhuma das regiões cobertas pela empresa pode, por ora, entrar na lista de espera.

Anos de investimentos

A história da Magic Leap é bastante curiosa. A startup começou a falar publicamente sobre esses óculos de realidade mista em 2015, mas relatos sobre ele começaram a aparecer ainda no final de 2014. De lá para cá, a empresa fez algumas demonstrações da tecnologia que pretendia usar no produto, mas só veio a mostrar o hardware mesmo no fim do ano passado.

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Nesse meio tempo, a companhia recebeu mais investimentos, incluindo algumas centenas de milhões de dólares vindas novamente do Google, da chinesa Alibaba e de fundos sauditas. Foram quase 2 bilhões de dólares investidos em uma empresa que não havia apresentado um produto até então.

O fenômeno levantou suspeitas e gerou ceticismo. O The Register chegou a classificar a tecnologia como um mero “vaporware” — algo que é anunciado muito antes do lançamento e que nunca chega de fato ao mercado. O The Verge, por sua vez, questionou: por que as pessoas ainda estão colocando dinheiro na Magic Leap?

Um produto, afinal

O anúncio oficial do Magic Leap One serviu para amenizar um pouco as críticas. O aparelho revelado pela startup usa um chip Nvidia Tegra X2, tem 8 GB de RAM, 128 GB de armazenamento e promete imagens virtuais que se confundem com o real, como chegou a descrever uma das patentes registradas pela startup.

O produto é, na verdade, composto por três partes. Além dos óculos, chamados de Lightwear, há um joystick e um pequeno computador vestível, o Lightpack, que fica com o usuário. É nesse pacote que ficam o processador, a memória e a bateria, que promete manter o aparelho ligado por até três horas de uso contínuo.

Valeu a espera?

Alguns veículos dos EUA tiveram acesso antecipado ao Magic Leap One, mas as avaliações preliminares mostraram que o resultado final ainda não é exatamente o “fenômeno” prometido inicialmente por Rony Abovitz, CEO da startup. Uma análise do The Verge, por exemplo, descreveu a experiência proporcionada pelo Magic Leap One como um “vislumbre falho do incrível potencial da realidade mista”. O teste do Cnet, por sua vez, concluiu que a Magic Leap ainda tem um longo caminho pela frente.

Em suas primeiras impressões, o MIT Technology Review elogiou o capricho gráfico nas animações, mas criticou o tamanho dos óculos. Uma reportagem da Wired foi um pouco mais otimista quanto à capacidade dos óculos, mas ainda assim explicou que o resultado ainda não é mais revolucionário que o alcançado pela concorrência — no caso, os HoloLens da Microsoft. Está longe, portanto, de ser o produto que vai popularizar os conceitos de realidades mista e aumentada.

De toda forma, o trabalho da Magic Leap ainda está longe de ser concluído. Essa versão de 2.300 dólares do Magic Leap One Creator Edition é, como o nome sugere, focada em criadores, ou seja, artistas e desenvolvedores de aplicativos.

A empresa também só lançou um modelo compatível com Bluetooth e Wi-Fi, mas já tem um acordo fechado com a operadora AT&T para exclusividade no uso de redes móveis. Novos óculos devem, portanto, estar a caminho — só resta saber quanto tempo a empresa vai demorar para lançá-los.