Apesar da evolução da humanidade nos últimos 100, 200 anos no que diz respeito à organização da sociedade – com as instituições e marcas passando a intermediar ou facilitar a confiança entre os indivíduos -, a confiança é uma percepção ainda muito limitada a pequenos círculos pessoais. De maneira geral, esse grupos são restritos: cinco, dez ou talvez 30 pessoas. Basta pensar nos círculos onde estão seus elos de confiança: família? Amigos? De onde vieram esses amigos? Faculdade, trabalho, bairro? Essa percepção geralmente está associada às interações sociais e econômicas que você faz.

Pela primeira vez na história (numa visão de longo-prazo), isso está mudando. Ou melhor, evoluindo. Isso porque ganhamos um novo aliado: as plataformas online. Em tempos de economia compartilhada, a crença que temos uns nos outros por meio das interações sociais e econômicas agora envolvem parceiros online e ferramentas tecnológicas que nos permitem acumular “capital de confiança”. Quer um exemplo? Quando você vai procurar uma carona em uma plataforma, ter o máximo de informação possível sobre a viagem que o motorista planeja fazer acaba lhes aproximando. Ver as avaliações dos outros usuários sobre ele também. É sobre esse tipo de elo que estamos falando.

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Um estudo assinado pelo professor da NYU (New York University) Arun Sundararajan, autor do livro “The Sharing Economy”, e encomendado pela BlaBlaCar, analisou respostas de mais de 18 mil membros da plataforma de 11 países*, para medir o nível de confiança entre os indivíduos nesse ambiente online antes de se conhecerem pessoalmente. Intitulado “Entrando na era da confiança” (Entering the Trust Age), o estudo, de 2016,  mostra que os participantes confiam mais em pessoas com perfil online completo na plataforma de viagens compartilhadas do que em colegas ou vizinhos.

A pesquisa mostra a tendência de uma mudança comportamental em larga escala, e explica como plataformas online estão criando confiança interpessoal em grandes proporções.

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Faço minhas as perfeitas palavras do professor Sundararajan:

“A interconectividade e as novas ferramentas online estão permitindo que a confiança ganhe escala, numa troca humana jamais vista no mundo, o que abre um enorme potencial para a colaboração. As plataformas online, principalmente os marketplaces peer-to-peer – ativados por banco de dados, mecanismos de buscas e conectividade – estão criando novos sistemas para a provisão e manutenção de níveis sem precedentes de confiança digital interpessoal. Nossos pares online estão se tornando parte de redes de confiança digital em escala populacional, onde conexões de confiança podem ser feitas não apenas com amigos e familiares, mas com o mundo todo. As chamadas plataformas P2P ou peer-to-peer fornecem as ferramentas que permitem às pessoas confiarem umas nas outras – isso passa pela identidade do perfil e a possibilidade de receber as avaliações de múltiplas interações offline. Quando integradas e visíveis para os outros públicos, essas histórias se tornam parte de seu ‘capital de confiança’”.

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Como resultado, a confiança pode ser medida instantaneamente a partir de um perfil online, mesmo que as pessoas envolvidas nunca tenham se encontrado, colocando os indivíduos no centro de uma enorme rede de confiança, e abrindo uma gama de oportunidades para colaboração entre as pessoas, que vão além do varejo online e passam a compreender outras atividades, como o compartilhamento de viagens ou o aluguel de acomodações a curto prazo.

“As implicações das redes digitais de confiança para a confiança interpessoal podem ser comparadas com o avanço na comunicação quando o telefone foi inventado. O telefone de repente permitiu que as pessoas se comunicassem com alguém instantaneamente; da mesma forma, as redes de confiança digitais permitem que os indivíduos ‘baixem’ o capital de confiança de qualquer pessoa com efeito imediato. A confiança está sendo interrompida tanto em seu alcance como na instantaneidade. Lançado pelos sistemas de classificação “low stakes” do eBay no final da década de 1990, a confiança online está agora se expandindo para experiências offline de “apostas mais altas”. Indivíduos não estão apenas trocando bens em segunda mão. Eles ficam em casas de estranhos (  que não são mais estranhos) e compartilham uma viagem no carro de alguém que eles não conhecem. Esse empoderamento dos indivíduos está criando uma mudança radical de instituições centralizadas para os pares descentralizados e mais conectados. Em outras palavras, estamos passando de uma configuração “one-to-many” (“um-para-muitos”) para um mundo em que as interações confiáveis podem ocorrer em uma base “many-to-many” (“muitos-para-muitos”), mudando as relações entre atores econômicos e sociais ao longo do caminho e criando uma nova forma de capitalismo baseada na multidão”.

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São vários os impactos positivos provocados pelas plataformas de economia compartilhada. Na BlaBlaCar, por exemplo, 59% dos usuários dizem que passaram a viajar mais depois que conheceram o site. Isso sem contar a sustentabilidade e o aspecto social promovidos por esse tipo de tecnologia.

E olha que estamos só começando…

Reprodução


* Pesquisa com 18,289 membros da BlaBlaCar conduzida em 11 países pelo BIPE, consultoria líder em pesquisas na França, ao longo de 2015. Os seguintes países foram pesquisados: França, Alemanha, Itália, Hungria, Holanda, Polônia, Portugal, Rússia, Espanha, Ucrânia, Reino Unido