O mundo dos negócios tende a se transformar em um emaranhado de enormes e complexas redes nas quais cada organização influenciará outras. Nessa nova economia será difícil definir quem é o quê: indústria, serviços, varejo, etc. Teremos que aprender a trabalhar de maneira diferente e, pior, desaprender uma série de ensinamentos que ainda consideramos valiosos, como o foco no produto e nos custos.

Refiro-me a algumas das lições que extraímos recentemente ao concluir o segundo ciclo de aceleração de startups realizado no ProVA – Laboratório Brasileiro de Inovação no Varejo, um projeto da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Trata-se do primeiro hub de inovação em um shopping center de São Paulo, estruturado para apoiar o varejo em meio à revolução digital e adaptar-se a um novo perfil de consumidor.

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Uma das conexões mais expressivas dessa nova realidade empresarial que está se configurando é justamente entre empresas e startups, ou CSE, sigla para Corporate Startup Engagement (engajamento corporativo de startups, em tradução livre). Segundo dados do INSEAD, 61,5% das startups que tiveram sucesso receberam investimentos de corporações. Os hubs digitais e os ecossistemas que envolvem startups, investidores e empresas têm sido um terreno fértil de aprendizado e resultados. Por outro lado, chovem erros e desperdício de energia, já que esse novo ambiente de negócios requer uma revisão de conceitos arraigados, como o de competidores e parceiros.

Em seu primeiro ciclo, o ProVA acelerou três startups. Destas, duas tiveram desempenho extraordinário. A Shopper UM, que combina uma solução de realidade aumentada com ciência do comportamento do shopper, fechou 17 contratos derivados da aceleração no Prova e já abriu uma unidade em Nova York. A Horvath, que produz camisas resistentes a odores, manchas e amassados empregando nanotecnologia, mudou-se após a aceleração para os Estados Unidos; seu fundador, Luciano Bueno, foi reconhecido pela revista Forbes como um dos jovens mais influentes do mundo abaixo de 30 anos, o que aumenta suas chances de obter novos investimentos agora.

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No segundo ciclo de aceleração, uma das três startups, a Go find, que aproxima os consumidores das lojas físicas por meio de inteligência artificial, recebeu um aporte milionário. Somando os dois ciclos, três em seis significa 50% de êxito no programa, número amplamente superior à média de 15% das melhores aceleradoras do mundo. Ok, você dirá que a amostra é pequena e não representativa; a resposta é que o importante foi constatarmos o que funciona de fato, independentemente de números e resultados.

Destacamos aqui quatro lições que a experiência do Prova poderia ensinar no campo da aceleração de startups:

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1) Consultores

e não mentores. No Prova atuam consultores com sólida experiência em CSE e em operar processos previamente estruturados que proporcionem engajamento. Alguns exemplos: apoiar a estratégia das startups, costurar conexões, ajudar nas etapas de conquista e, principalmente, falar o idioma da inovação nas empresas; também é importante compreender o que elas realmente buscam, proporcionando impacto e resultados desde a primeira semana de residência. Muitas vezes vemos ex-executivos/mentores dando orientações teóricas e descoladas da realidade das empresas iniciantes.

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2) Escolha

adequada das aceleradas. Existe a falsa ideia de que inovação vem da abundância. Ledo engano! Não é preciso gerar muitas ideias para encontrar pérolas nem trazer muitas startups para encontrar algumas boas. Basta selecionar bem, usar tecnologia e dados para mapear, ranquear e escolher as realmente adequadas aos objetivos do programa.

3) Atrair

os melhores. Disponibilizar um bom espaço de trabalho não é mais suficiente. Há, na verdade, uma superoferta de ambientes bonitos e descolados. É preciso que a aceleradora ou a corporação apresente uma proposta de valor irresistível: entregue os contatos certos, o acesso aos investidores, a tecnologia e um ótimo clima organizacional. Isso mesmo! Os coworks também têm sua cultura e clima organizacional, e muitos deles não estão dando a importância que o tema merece. Depois reclamam que estão perdendo suas startups.

4) Matchmaking

acurado. Reunir consultores especialistas, investidores e, em especial, corporações que tenham encaixe com as startups não é fácil: requer profundo conhecimento das estratégias dos dois lados e apoio de tecnologia e bases de dados. Só assim será possível obter o máximo foco e organização para realizar eventos e rodadas de consultoria e engajamento realmente eficazes.

Como vemos, a disciplina de acelerar startups e engajá-las com empresas clientes está em franco desenvolvimento. Dominá-la demanda humildade e dedicação. Não há fórmula mágica nem se pode olhar para esse fenômeno como panaceia; são novos aspectos da gestão que não se aprendem nas escolas e que estão a cargo direto dos Líderes do futuro.