A última atualização da MIUI está gerando descontentamento entre algumas pessoas que utilizam os dispositivos da Xiaomi. Isso porque a empresa tomou uma decisão mais agressiva em relação aos anúncios mostrados em seus aplicativos e mesmo em partes específicas do sistema operacional. Contudo, antes de reclamar dessa manobra, deveríamos nos perguntar os motivos que levaram a empresa a tomar essa decisão.

Em 2016, durante o evento de lançamento do Xiaomi Mi 5, em Barcelona, o então vice-presidente da empresa, o brasileiro Hugo Barra disse: “nós somos uma empresa de software”. Como muito bem lembrado por ele, a Xiaomi é uma empresa de software e Internet que, por acaso, também fabrica hardware, em especial, smartphones. Logo, grande parte da receita da empresa não é fruto da venda de celulares, mas produtos relacionados à MIUI, o software para smartphones desenvolvido pela Xiaomi em cima do Android do Google.

Entre esses produtos, temos uma série de aplicativos que carregam anúncios e servem como forma de monetização da empresa. Ou seja, assim como quando uma agência de desenvolvimento oferece uma versão gratuito de um aplicativo na Google Play Store e adiciona publicidade ou compras no app, a Xiaomi faz o mesmo, mas com o próprio software. Mas por que a gigante chinesa da tecnologia faz isso quando suas concorrentes não fazem?

Apesar do sucesso e do crescimento meteórico, a Xiaomi ainda é uma empresa em desenvolvimento. Fundada em 2010, a fabricante ainda corre atrás de lucro. Se considerarmos os dados divulgados pela Counterpoint Research, que mostram que a Xiaomi possui uma participação de lucro no mercado global de smartphones de apenas 3%, quando a Apple, por exemplo, fica com 62% disso apostando apenas em um dispositivo, fica muito evidente que o negócio de hardware da Xiaomi não é a base do sustento da empresa.

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Apesar de ser chamada de “a Apple chinesa”, os valores praticados pela Xiaomi são muito, mas muito inferiores àqueles praticados pela Apple. Como consequência disso, temos essa discrepância na participação de lucro global de ambas as empresas.

Assim como eu, você já deve ter se perguntado como a Xiaomi consegue oferecer um smartphone como o Redmi Note 7 por apenas 550 reais na China, certo? Uma das respostas é clara: abrindo a mão do lucro em cima do aparelho. Fazendo isso, a empresa vem crescendo significativamente no mercado mundial, enquanto companhias consolidadas, como Apple, Samsung, Sony e LG vem perdendo espaço. Mas por que essa estratégia?

O motivo é simples: a Xiaomi é uma empresa de software e Internet, e para ter lucro, precisa que seus aplicativos e serviços estejam disponíveis para cada vez mais pessoas. Como a MIUI roda apenas nos aparelhos da marca, a fabricante precisa vender smartphones, pois os ganhos da empresa serão gerados dentro do celular e, uma das formas de monetização da empresa é em cima da receita de anúncios publicitários. Logo, respondendo a primeira pergunta deste artigo, o fato dos smartphones da Xiaomi terem um preço muito mais barato do que o das concorrentes, faz com que a dona da marca Redmi adicione publicidade em seus smartphones.

E é aqui que nos deparamos com o grande dilema: será que a Xiaomi deveria aumentar o preço dos seus smartphones, equiparando-se a Apple e Samsung, mas remover a publicidade dentro dos dispositivos? Ou será que deve manter a estratégia atual?

Sinceramente, não me parece de todo ruim oferecer às pessoas aparelhos mais acessíveis pelo custo de ter que receber alguma publicidade ao longo do dia. Aliás, os executivos da fabricante já se comprometeram a remover certos tipos de publicidade, como propaganda militar, e disseram que podem diminuir o número de anúncios na MIUI. Além disso, existe também uma nova opção para desativar a visualização de anúncios em certos níveis do sistema operacional.

Contudo, uma das soluções mais interessantes, na minha opinião, foi dada pelo redator do canal Android Authority, Dhruv Bhutani, que sugeriu que a empresa oferecesse uma espécie de plano Premium para os usuários que desejassem não ver mais os anúncios publicitários no aparelho. Assim, poderia se pagar uma certa quantia, mensal ou anual pelo pacote livre de publicidade e manter a estratégia de mercado usada até agora: oferecer smartphones a um custo muito inferior ao da concorrência.

E você, o que acha? A Xiaomi deve remover os anúncios dos smartphones que fabrica ou não?