São tantos filmes baseados em histórias em quadrinhos sendo lançados ou produzidos que já não é mais uma questão de “se” tal ator vai interpretar um heroi ou vilão de gibi, mas “quando”. Dá até para brincar de pegar um astro que ainda não entrou neste filão e imaginar em qual personagem ele se encaixaria melhor. Para a nova versão do Coringa, dirigida por Todd Philips, nada mais óbvio que Joaquin Phoenix vestindo a maquiagem de palhaço e emprestando alguma risada peculiar para o nêmesis do Batman.

É possível apontar alguns fatores que justifiquem a escolha. Joaquin Phoenix é um ator de prestígio e, como Coringa tem um orçamento modesto se comparado a outros filmes de histórias em quadrinhos, a Warner pode se dar ao luxo de escalar alguém que trouxesse algum reconhecimento artístico, sem se preocupar de ser um ator de enormes bilheterias. Além disso, Phoenix foi apresentado ao grande público com grande impacto como vilão em Gladiador e mesmo quando interpreta bons moços, sempre traz algum traço de estranheza no papel, algo importante para mostrar a mudança de um homem comum para o arqui-inimigo louco do Batman. 

Por fim, Joaquin Phoenix é conhecido por ser um ator de muita entrega a seus papéis, chegando ao ponto de, para estrelar um falso documentário sobre sua falsa aposentadoria no cinema e início de carreira no hip hop, viver esta mentira durante todo o seu dia a dia por quase um ano. Com uma cabeleira enorme e uma barba gigantesca, Phoenix aparecia em entrevistas, festas e tapetes vermelhos dizendo que havia largado a atuação e começaria a fazer música. Tudo isso para o filme Eu Ainda Estou Aqui, dirigido pelo também ator Casey Affleck. 

O que isso tem a ver com o Coringa? Simples. Desde o trabalho de Jack Nicholson no primeiro filme do homem-morcego para os cinemas em 1989, o papel virou um grande playground para atores intensos extravasarem sua arte. No longa-metragem de Tim Burton, Nicholson pareceu ter carta branca para encaixar todo e qualquer maneirismo, careta e entonação já feita em sua carreira. Depois, Heath Ledger realizou uma das mais famosas preparações para um papel da história do cinema, chegando a ponto de alguns relacionarem sua morte por overdose acidental ao processo de construção do seu Coringa em O Cavaleiro das Trevas. Depois, a Warner tentou repetir a dose com Jared Leto em Esquadrão Suicida, divulgando notas e vídeos das brincadeiras à moda Coringa com o elenco e relatando que o ator não saía do personagem nem quando as câmeras estavam desligadas. Nada disso adiantou, a atuação de Leto foi bombardeada de críticas negativas.

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Com este fracasso, o estúdio resolveu investir em uma redenção do personagem, capitaneada novamente por um ator reconhecidamente intenso. O trailer já deixa uma boa amostra do que Phoenix apresentará como Coringa. Começando pelo sorriso do ator, marcado por uma cicatriz devido a uma reparação de lábio leporino ainda na infância. Ou seja, mesmo sem a maquiagem característica, já existe uma estranheza na expressão de alegria de Phoenix. O trailer dá algumas pistas dos acontecimentos que transformarão seu personagem em um louco, dando destaque para as situações nas quais é desprezado ou fracassa nas tentativas de fazer os outros rirem, com direito a uma homenagem ao filme O Rei da Comédia, de Martin Scorsese e estrelado por Robert De Niro, que também está em Coringa.