Integração é a palavra do momento no mercado de tecnologia da informação. Em uma época de tantos avanços tecnológicos, o que se percebe como principal tendência nesse setor é a necessidade de cada vez mais as diferentes áreas de uma companhia interagirem entre si.

“Não é preciso reinventar a roda com os dados. Nós temos apenas que dar um novo olhar para eles, para seus potenciais usos, compartilhar expertises com outras áreas para gerar impacto”, resumiu Anna Addobbati, diretora-executiva da Social Good Brasil, durante o Data Day Connect, evento promovido pelo Banco Santander que buscou promover a discussão sobre a importância das empresas terem uma boa política para o armazenamento, tratamento e proteção das informações que armazenam de seus clientes.

Nos últimos anos, tem sido consenso de que o big data tem valor estratégico para negócios de qualquer setor. A comparação de que os dados são “o novo petróleo” se tornou chavão conhecido, e muitas empresas passaram a armazenar toda e qualquer informação sobre seus clientes. Com o tempo, esses dados viraram grandes bases de dados desconexas e, agora, o desafio das empresas é aplicar inteligência para que elas tenham, de fato, algum valor para o negócio.

“Quando eu tenho muita informação, mas não sei o que fazer com ela, é o mesmo que não ter informação nenhuma. De quê adianta saber que amanhã em São Paulo vai fazer entre 10°C e 50°C, por exemplo? Isso não me permite tomar nenhuma decisão sobre que roupa vou usar”, explica Kendji Wolf, líder do Data Lab do Santander Brasil.

Sem integração, os dados se perdem

Nesse processo de criar valor sobre o big data, a integração entre as diferentes áreas da empresa é fator essencial. “É fácil falar em data lake, inteligência artificial, machine learning, mas o difícil é fazer com que tudo isso se conecte”, diz Alexandre Minato, superintendente de Dados e Analytics do Santander Brasil.

Minato ressalta que trabalhar com dados e evidências não é uma exclusividade do cientista de dados, pode ser feito por pessoas de qualquer área. Inclusive, é um conhecimento que precisa ser feito em grupo. “Na minha trajetória, já passei por áreas de sistemas de produtos, canais de atendimento, CRM, business, TI. Cada uma delas tem seus dados e as suas particularidades que as outras áreas não enxergam, por isso a importância da integração para desenvolver novos projetos”, diz.

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Alexandre Minato e Kendji Wolf, durante apresentação no Data Day Connect


Como exemplo prático da aplicação dessa metodologia de trabalho integrada com uma equipe diversa, Wolf cita um projeto que está em teste no Santander Brasil. “Desenvolvemos um piloto que processa os dados e os modelos de machine learning de acordo com o contexto e necessidade dos clientes. No banco, nós temos informações sobre as suas preferências e, com tudo isso, fizemos um modelo que ajuda definir o seu perfil e, podemos fazer uma oferta contextualizada para eles”, diz.

Nesse projeto piloto, à medida que o banco de dados do banco recebe novas informações sobre o cliente, esses dados são processados e já resultam em uma mudança nas ofertas. “Ou seja, é uma conexão automatizada de ponta a ponta, e isso só é possível de ser desenvolvido com a participação de todos os setores envolvidos no processo”, diz Wolf.

Montar uma equipe diversa não é fácil. É preciso buscar diferentes perfis no mercado, sendo que existe, conforme indicado por mais de um palestrante durante o evento, uma escassez de mão de obra qualificada no setor de TI. Uma dica para montar um time diverso, segundo Wolf, é começar uma equipe de estrutura centralizada, e ir descentralizando ela aos poucos.

“Monte uma equipe com alguns profissionais sêniores que vão liderar outros juniores. Oriente para que os seniores deleguem, aos poucos, funções cada vez mais importantes aos juniores, dando espaço de liderança para eles”, explica Wolf.

Uma prática feita no Data Lab, por exemplo, é dar espaço para o profissional indicar o que está bloqueando ele de terminar determinada tarefa. “Nessa hora, a pessoa, seja júnior ou sênior, pode fazer a cobrança para qualquer um. Isso tem agilizado muito nossos processos”, explica.

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Clara Moura, Alexandre Minato (executivo de dados), Marino Aguiar (CIO de tecnologia no Santander) e a Larissa Cardin, responsáveis pelo evento.


Transparência e ética com os dados

Com tantas informações sobre as pessoas armazenadas, e por conta da infinidade de aplicações que esses dados possuem, outros temas que tiveram destaque durante o evento foram a transparência que as empresas devem ter sobre como utilizam esses dados e a ética que deve existir sobre esse uso.

Em relação à transparência, a advogada e gerente de Proteção de Dados do Santander Brasil, Florence Terada, ressaltou que “ela nada mais é do que a garantia ao titular do dado, ou seja, ao dono da informação, de que ele pode consultar, sem nenhuma dificuldade, o quê é feito com seu dado e como ele é protegido”. E apenas com essa transparência que se pode ter a garantia de um uso ético em relação às informações dos clientes.

Nessa linha, Sérgio Rial, presidente do Santander no Brasil, ressalta que as empresas bancárias sempre tiveram a responsabilidade de guardar ativos em nomes de clientes — portanto, a preocupação com a privacidade e proteção dos dados não é uma novidade para esse setor. Mas, a aplicação de tecnologias e integração entre as diferentes áreas é uma questão que tem ganhado destaque no Santander.

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Sérgio Rial, presidente do Santander no Brasil

 

“O aumento no uso dos dados não é uma exclusividade do mercado financeiro. Na realidade, há inclusive mais avanços na medicina e na comunicação em relação a esse tema. Por isso, a preocupação ética com a forma como esses dados são tratados deve ser de todos”, diz.

Otimista em relação ao futuro do big data, Rial destacou a importância que existe no tratamento ético e transparente sobre as informações que as empresas coletam de seus clientes. Segundo ele, por armazenarem todos os passos que as pessoas realizam no mundo virtual, os dados representam a matematização da vida humana, ou seja, são capazes de expressar em número a vida das pessoas. “E usar isso só tem sentido se for para, efetivamente, melhorar a vida das pessoas, além de apenas rentabilizar o negócio”, diz.