A autoria de um filme geralmente pertence a seu diretor. Mas ao mesmo tempo, cinema é uma arte coletiva. Em tese, cinema autoral é aquele em que o diretor tem o controle de todas as etapas da produção, do argumento e do roteiro (mesmo que não sejam assinados por ele) até a montagem final (idem).

Pensamos aqui nos melhores filmes de autor, ressaltando que alguns filmes das outras três listas de melhores de 2019 poderiam figurar aqui também. O ‘Irlandês’, por exemplo, ou ‘Ad Astra’ (ambos da lista 1), ou ‘Fourteen’ (da lista 4).

Os escolhidos desta lista, contudo, só ficariam à vontade aqui. E por isso aqui estão.

1. Amanda (Mikhael Hers, 2018)

A perda e suas barreiras. A memória e suas peças. Um filme sublime, em que tudo está no lugar certo e a poesia surge das pequenas e inesperadas coisas. “Elvis has left the building”.

publicidade

2. O Fim da Viagem, o Começo de Tudo (Kiyoshi Kurosawa, 2019)

É o melhor filme de Kurosawa (nenhum parentesco com o Akira) na década, e estamos falando de um dos melhores cineastas em atividade. A descoberta de uma nova cultura é também uma auto-descoberta. Belíssimo longa.

3. O Paraíso Deve Ser Aqui (Elia Suleiman, 2019)

Suleiman vai à Paris, à Nova York, mas chega à conclusão que o mundo inteiro parece maluco, e que então, o paraíso deve ser a sua Nazaré. Auge do cinema de um autor sempre importante da Palestina. Filme crítico e realizado com incrível rigor formal.

4. Imagem e Palavra (Jean-Luc Godard, 2018)

Mais um derivado do monumento História(s) do Cinema. Godard homenageia o cinema e mais uma vez identifica a loucura do mundo, num filme apaixonado e político, como todos os que ele fez.

5. Amor Até as Cinzas (Jia Zhangke, 2018)

Jia acerta contas com seus filmes recentes (Um Toque de Pecado, 2013, e ‘As Montanhas se Separam’, 2015) ao mesmo tempo em que promove um retorno ao melhor de seu cinema (‘Em Busca da Vida’, 2006). Belíssimo filme que mostra, mais uma vez, as transformações da China.

 

3 DECEPÇÕES:

Um Elefante Sentado Quieto (Bo Hu, 2018)

Pelo que se dizia sobre este filme (austero, denso, sem concessões) e pela história do diretor (realizou o filme e se suicidou em seguida, aos 29 anos), esperava muito mais. É um longa de praticamente quatro horas, com imagens escuras e câmera sem muito sentido.

Sinônimos (Nadav Lapid, 2019)

Lapid foi bem elogiado por seu longa anterior, ‘A Professora do Jardim de Infância’. Aqui, mostra afetação, com um personagem que nunca fisga nossa empatia.

Coringa (Todd Philips, 2019)

Philips tenta pegar um atalho para o cinema autoral, mas naufraga por desrespeitar a inteligência do público e não controlar a atuação à beira do insuportável de Joaquin Phoenix.