Pouco antes do Natal, o PayPal terminou oficialmente a aquisição de uma empresa de pagamento chinesa, a GoPay. Esse acordo representa a entrada oficial do PayPal no mercado de pagamentos doméstico da China, o que o torna a primeira empresa estrangeira de pagamento a possuir uma licença no país. Porém, a diferença entre o contexto deste mercado na China e nos Estados Unidos pode criar alguns desafios para a companhia. Para entender melhor essa dificuldade é preciso analisar os dois mercados.

O mercado americano de pagamento é inundado por cartões de crédito. Não à toa a Visa é uma das 10 empresas com maior valor de mercado. Além disso, o país ainda faz muito uso dos cheques, algo que é praticamente extinto no Brasil. Outro ponto é que os pagamentos móveis, feitos através de empresas como o PayPal, ainda está longe de decolar. A Forrester prevê que a carga deste tipo de transação entre 2018 e 2023 seja de apenas 17%.

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Já no país asiático, este tipo de pagamento sofre com a margem pequena de lucro. A principal forma de ganhar dinheiro de empresas chinesas do ramo, como Alipay e WeChat Pay, é com a monetização do tráfego dos clientes e as informações de dados. Além disso, essas empresas possuem um grande apoio de um ecossistema determinado por trás delas. A Alipay, por exemplo, é apoiada pela gigante do comércio eletrônico Alibaba. Já o WeChat Pay possui a Tecent, de mídia social, jogos e tecnologia.

Outro ponto a se considerar é que os pagamentos baseados em biometria estão ganhando muito espaço no país. As gigantes do setor no país já trabalham com pagamentos por reconhecimento facial em dezenas de milhares de lojas. Portanto, analisando tudo isso, é possível afirmar que existem três grandes obstáculos para o PayPal conseguir se estabelecer na China. Oferecer uma alternativa de pagamento melhor, controlar um círculo virtuoso de adoção e possibilitar um modelo de negócio viável e colaboração entre todos os parceiros.

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A melhor forma de conquistar os clientes em um mercado já dominado por grandes empresas seria fornecer um serviço de pagamento mais simples, rápido, seguro, controlável, barato e confiável. Porém, Alipay e WeChat Pay já entregam experiências simples, rápidas, baratas e confiáveis. Portanto, o caminho pode ser focar em uma experiência mais segura e controlável aos clientes. Seguro pode se referir à segurança da conta e do dinheiro, e nesse quesito, os pagamentos por reconhecimento facial ainda enfrentam problemas. Mas também pode se referir à segurança dos dados. Embora as grandes empresas do país monetizem os dados dos clientes, essa situação não deve durar muito, ainda mais depois que os mecanismos de proteção de dados foram reforçados no mundo todo, e os chineses estão valorizando mais sua privacidade do que a tempos atrás.

Outro ponto que pode ajudar o PayPal é se aproveitar dos visitantes estrangeiros no país. Muitas das pessoas que vão ao país a passeio podem já ser clientes da empresa, e permitir que elas façam pagamentos com suas contas pode ajudar a alavancar sua participação no mercado chinês. Por fim, é preciso criar um modelo de negócios colaborativo com outros parceiros. A Alipay, por exemplo, começou seu crescimento apenas complementando os serviços que os bancos não tinham acesso, favorecendo a eles também. Ao PayPal a mesma coisa pode ser aplicada. Como novo no mercado, dificilmente vai conseguir competir diretamente com as empresas já consolidadas, então é preciso encontrar um nicho não atendido e começar pequeno.

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A última questão a se resolver envolve os talentos chineses. As grandes empresas de pagamentos e bancos oferecem remuneração de nível global e grandes planos de carreira para seus funcionários. Dessa forma, o PayPal vai entrar em uma guerra contra as empresas locais para conseguir os grandes talentos locais, restando saber se dará poder de decisão suficiente para seus funcionários. Analisando todas essas perspectivas, é previsível que a entrada do PayPal na China seja muito desafiadora, e exigirá altos investimentos contínuos em talentos e estratégias locais.

Via: ZDNet