Para alguns cientistas, a mecânica quântica pode ser de grande utilidade na missão que psicólogos têm para entender o comportamento humano. Por mais distante que isso pareça, a mente humana é tão imprevisível quanto todas as minúsculas partículas que a mecânica quântica estuda – e é aí que ambas se encontram.

Assim como a mecânica quântica busca entender a natureza fundamental das partículas físicas, a psicologia busca entender a natureza humana, mas nenhuma consegue prever, com certeza, qual será o comportamento de seus materiais de estudo. “Os cientistas cognitivos descobriram que existem muitos comportamentos humanos ‘irracionais’”, disse Xiaochu Zhang, biofísico e neurocientista da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, na cidade de Hefei. Pesquisas recentes sugerem que esses lapsos na lógica “podem ser bem explicados pela teoria da probabilidade quântica”, afirmou Zhang.

No estudo publicado na revista acadêmica Nature Human Behavior, em 20 de janeiro, Zhang e sua equipe defendem a chamada “cognição quântica” ao investigar quais conceitos da mecânica quântica podem auxiliar psicólogos a preverem, com mais precisão, a tomada de decisões em seres humanos. O estudo é “o primeiro a apoiar a ideia de cognição quântica no nível neural” e se baseia em pesquisas que registraram decisões tomadas em experimentos psicológicos ao passo que monitoravam a atividade cerebral dos participantes.

Na contramão da cognição quântica, a psicologia clássica alinhada ao condicionamento pavloviano acredita que o ser humano toma decisões para maximizar recompensas e minimizar punições em um sistema de “aprendizado por reforço”. Mas nem sempre é assim que acontece: em algumas situações, os sentimentos subjetivos sobre determinada situação impedem que uma pessoa tome decisões objetivas.

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Da mesma forma, partículas subatômicas podem influenciar umas às outras até quando separadas por grandes distâncias. Por exemplo, medir o comportamento de uma partícula localizada no Japão alteraria o comportamento de seu parceiro emaranhado nos Estados Unidos. “É precisamente essa interação que influencia o resultado da medição”, disseram Emmanuel Haven e Andrei Khrennikov, coautores do livro Quantum Social Science. Na psicologia, uma analogia semelhante pode ser traçada entre crenças e comportamentos.

Para dar base à teoria, Zhang e sua equipe selecionaram dois modelos baseados em mecânica quântica e 12 modelos da psicologia clássica para entender quais deles se sairiam melhores na tarefa de prever o comportamento humano durante um experimento psicológico conhecido como Iowa Gambling Task, no qual é testada a habilidade da pessoa em aprender com os seus erros e mudar sua estratégia para tomar decisões mais certeiras com o passar do tempo.

Os modelos quânticos fizeram previsões semelhantes às respostas mais precisas dos modelos clássicos. “Embora os modelos [quânticos] não tenham superado de maneira esmagadora o modelo clássico […], é preciso estar ciente de que a estrutura [do aprendizado de reforço quântico] ainda está em sua infância e, sem dúvida, merece estudos adicionais”, declararam Haven e Khrennikov.

Via: Live Science