Em meio à pandemia de coronavírus, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) divulgaram um estudo que indica quais as matérias-primas mais adequadas para o desenvolvimento de máscaras de proteção. Com o resultado dos testes, serão fabricadas um milhão de máscaras para mais de oito mil profissionais de saúde da rede pública.

“Como não há, no mercado internacional, onde comprar hoje estas máscaras em grandes quantidades, teremos que adaptar novos materiais e testar com a nossa tecnologia”, contou Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física (IF) da USP.

A iniciativa é do projeto “respire!”, coordenado pelo Centro de Inovação da USP (InovaUSP), que contará com o apoio de grupos e cooperativas de costureiras, reunidas pela empresa Tecido Social. Além de serem utilizadas para a produção dessas máscaras, as matérias-primas serão divulgadas para quaisquer pessoas interessadas na fabricação de produtos caseiros com bom nível de proteção.

“Estamos nos preparando também para fornecer subsídios às pessoas, a fim de que selecionem melhor os tecidos usados na confecção de máscaras artesanais”, contou Vanderley John, professor da Escola Politécnica (Poli) da USP.

publicidade

Para garantir uma proteção eficaz, os materiais devem ser capazes de reter nanopartículas. “Já existem evidências científicas de que a eficiência na retenção para partículas tão pequenas varia muito entre máscaras de uma mesma classe e entre diferentes produtos usados para confeccioná-las”, explicou Artaxo. “O objetivo dos testes de diferentes máscaras é medir a sua eficiência para retenção de partículas nanométricas”, afinal, o novo coronavírus tem, em média, 120 nanômetros.

As máscaras devem evitar que o vírus fique suspenso no ar e penetre as vias respiratórias. Além disso, precisam impedir que uma pessoa contaminada infecte outras saudáveis. “A máscara é uma barreira, um filtro, então foi medida a eficiência de retenção de partículas”, informou John. “Este ensaio não é o da regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porque compara o desempenho do produto com o banco de resultados que inclui as máscaras consideradas as melhores e também algumas não tão eficientes”, completou.

Reprodução

O equipamento que mede a eficiência é um gerador de aerossóis que cria partículas do tamanho do novo coronavírus. “Este equipamento, disponível no Laboratório de Física Atmosférica do IF, é muito sensível”, afirmou Artaxo. “Ele foi adquirido para medir nanopartículas em suspensão na atmosfera, que afetam o clima, e foi adaptado no laboratório para este uso”.

Agora, a prioridade é testar tipos de TNTs, espécie de tecido feito de plástico utilizado na fabricação de todas as máscaras hospitalares. “Alguns TNTs têm eficiência de 97% na retenção de partículas, similar ao material das máscaras necessárias para equipes médicas que lidam diretamente com pacientes contaminados. Outros se mostram piores que tecidos convencionais”, destacou John.

Contudo, máscaras de algodão também estão sendo testadas. “Algumas máscaras de algodão grosso com camada simples, que são baratas e podem ser facilmente esterilizadas com fervura, podem ter eficiência de 60%”, disse John. “Produtos com este nível de eficiência podem ser bons para quem sai à rua ou vai fazer compras e teria possibilidade de ficar exposto momentaneamente ao vírus, mas todos poderão se beneficiar de proteções maiores”, acrescentou.

O projeto “respire!” unido ao núcleo Soluções Inovadoras para Pesquisa Interdisciplinar (Iris), também do InovaUSP, fará ensaios das matérias-primas disponíveis para empresas que possam fornecer os insumos considerados eficazes. “No caso de empresas, os ensaios serão feitos em troca de doação de produtos com bom desempenho ou recursos financeiros, que serão destinados para hospitais da rede pública”, mencionou John. “Para ONGs com projetos relevantes vamos fazer gratuitamente”.

No site do InovaUSP, empresas interessadas na iniciativa encontram um formulário de inscrição.

 

Via: Uol