Uma nova espécie de mamífero foi encontrada fossilizada em Madagascar. Do tamanho de um gato, o fóssil é datado da época da Gondwana, um dos dois supercontinentes originados após a separação da Pangeia (entre 220 e 225 milhões de anos atrás). O animal foi nomeado Adalatherium hui – o que pode ser traduzido como “besta louca”. O espécime foi descoberto em 1999, mas somente agora um estudo foi capaz de analisar com detalhes sua morfologia.

A descoberta de novas espécies não é algo que acontece todos os dias, muito menos de criaturas com origens tão perdidas no tempo. Essa pequena espécie andou pela Terra durante a era maastrachtiana do final do período cretáceo, entre 66 e 72 milhões de anos atrás, aproximadamente. Em outras palavras, no fim da era dos dinossauros.

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Isso coloca o A. hui na parte final da era mesozoica, e mamíferos mesozoicos do hemisfério sul são muito incompreendidos, devido às poucas evidências fósseis datadas da época. Eles são conhecidos como gondwanaterianos. Até agora, todo o clado era conhecido apenas por um único crânio (encontrado também em Madagascar) e alguns fragmentos dentários e de mandíbulas.

Todos esses elementos tornam a “besta louca” uma descoberta incrível. É um esqueleto muito bem preservado, quase completo – o mais completo dentre os mamíferos mesozoicos de Gondwana. O A. hui pode ser o mamífero mais antigo já descoberto no hemisfério sul.

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“Nunca poderíamos acreditar que encontraríamos um fóssil tão extraordinário deste mamífero misterioso”, afirmou um dos pesquisadores, o morfologista evolucionista Alistair Evans, da Monash University. “Este é o primeiro olhar real de um novo experimento na evolução dos mamíferos”.

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Suas circunstâncias incomuns e isoladas de evolução são o que tornam a “besta louca” uma criatura tão interessante. A Gondwana começou a se fragmentar cerca de 180 milhões de anos atrás, originando África, América do Sul, Índia, Antártica, Madagascar e Austrália. Em meio a essa enorme separação, a porção de Madagascar seguiu conectada ao subcontinente indiano por mais 90 milhões de anos, até se fragmentar completamente e passar a existir como uma ilha isolada.

Esse fóssil recém-descoberto indica que o A. hui andou pela Terra cerca de 20 milhões de anos depois da fragmentação, ou seja, sua evolução aconteceu inteiramente na ilha, por dezenas de milhões de anos. Evoluções assim comumente causam “esquisitices” evolutivas, em comparação com animais do continente.

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“Os ambientes insulares promovem trajetórias evolutivas entre mamíferos e outros vertebrados que contrastam com os dos continentes e resultam em diferenças anatômicas, fisiológicas e comportamentais demonstráveis”, escreveram os autores em seu estudo, publicado na revista Nature. “Essas diferenças foram anteriormente atribuídas a regimes de seleção marcadamente distintos que envolvem fatores como recursos limitados, concorrência interespecífica reduzida e uma escassez de predadores e parasitas”, completaram.

Não se sabe ao certo quais fatores foram determinantes para tornar o A. hui uma “besta louca”, mas uma análise de 20 anos dos restos mortais indica que a criatura é realmente estranha.

Parte da estranheza se deve a um osso primitivo da septomaxila na região do focinho, característica que desapareceu nos outros mamíferos aproximadamente 100 milhões de anos antes da existência do Adalatherium. Além disso, ele tinha mais forames (aberturas no crânio) do que qualquer mamífero conhecido, o que permitia a passagem de mais nervos e vasos sanguíneos pelo crânio, um sinal de alta sensibilidade em seu focinho e bigodes.

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Em termos de desenvolvimento físico, estima-se que a criatura encontrada era grande para mamíferos da época (cerca de 3,1 kg), embora isso possa ser atribuído a um tipo gigantismo encontrado em evoluções isoladas.

Os ossos de suas pernas também eram estranhamente curvados; os cientistas não têm certeza se eles usavam seus membros para cavar, correr ou para algum outro tipo de locomoção. Por fim, temos os dentes. “A estranheza do animal é claramente aparente nos dentes”, explica Evans.

Ainda existem muitas perguntas sobre a existência do Adalatherium hui, mas está claro que esse é um grande achado que pode nos ajudar a entender muito mais sobre os gondwanaterianos, já que nunca foi encontrado um espécime dessa época tão bem preservado.

Via: ScienceAlert