Por Claudio Cohen*

Surgida em 2009 como infraestrutura da bitcoin, um fenômeno indiscutível, a tecnologia blockchain logo foi percebida como disruptiva e com potencial muito maior do que criptomoedas. E passou a ser vista nos últimos dez anos como tecnologia de alto potencial. Nos últimos três anos virou uma febre: “a solução” para quase todos os problemas! Uma “buzzword”. A realidade, no entanto, mostrou que seu processo de maturação continua em curso. 

O Gartner Group, uma das maiores empresas do mundo de pesquisa e consultoria sobre o uso de tecnologias tem emitido relatórios conservadores sobre a aplicação de blockchain; mas espera uma mudança, na maioria dos setores, nos próximos cinco a dez anos.

Segundo a pesquisa Agenda de CIO 2019, do Gartner Group, 60% dos CIOs disseram que esperavam algum nível de adoção de tecnologias blockchain nos três anos subsequentes. Esse dado contrasta radicalmente com o cenário da mesma pesquisa realizada em 2018, cujo resultado indicou que apenas 22% dos CIOs compartilhavam essa expectativa na ocasião.  

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Muito se falou que 2020 seria o ano do blockchain decolar (pré-pandemia), depois de um crescente interesse em 2018, do aparecimento de mais aplicações em setores diversos em 2019 e o caso de impacto da Facebook lançando a libra, sua criptomoeda. 

O que, então, explica a baixa adoção de uma tecnologia que surgiu há mais de uma década, que passou pela euforia nos últimos três anos como a “próxima grande tendência”, e foi considerada pelas grandes corporações do mundo?

Alguns desafios à implementação do blockchain são claros:

• Sua tecnologia implica na implementação de uma rede e tem alto potencial em cadeias de suprimento, que envolve dezenas, centenas e até milhares de empresas. Por isso, a implementação do blockchain exige mudanças que implicam em superar diferenças, em criar um modelo de governança comum, o que representa um grande desafio em cadeias existentes há décadas ou até séculos de forma desintegrada. 

• A integração entre empresas de diversos portes e infraestruturas demanda uma capacidade de interconectividade nada trivial. Em um ambiente cada vez mais em nuvens, a solução tem que ser multi-cloud e híbrida, o que aumenta a complexidade da implementação do blockchain.

• A validação dos dados em ambiente tão heterogêneo e complexo é arriscada.

Esses desafios devem explicar, em boa parte, a baixa adoção vista até aqui. Mas não se deve menosprezar a velocidade com que surgem as soluções para eles. 

Ademais, a tendência natural é a combinação de tecnologias entre blockchain, IoT e Inteligência Artificial, exponenciando possibilidades.

Para quem, passados mais de dez anos, começa a desacreditar no potencial do blockchain, vale relembrar que a Inteligência Artificial começou a aparecer em meados do século passado.  No entanto, só depois de vencidas as restrições de volume de dados e de capacidade de processá-los, há poucos anos, é que IA passou a ser a realidade que é hoje, em que o céu é o limite. E são fortes os indícios de que blockchain seguirá o mesmo caminho. 

Segundo previsões do Gartner Group, até 2025, o mercado de Blockchain deverá atingir cerca de US$ 176 bilhões. E em 2030 aumentará até ultrapassar US$ 3,1 trilhões em 2030.

Assim, a tão citada frase de Roy Charles Amara, presidente do instituto para o futuro, Palo Alto, Califórnia, soa válida mais uma vez: “Tendemos a superestimar o efeito da tecnologia a curto prazo e subestimar a longo prazo”.

*Claudio Cohen é diretor do programa Leading Digital Reinvention, da Saint Paul Escola de Negócios

 **Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Olhar Digital