Confirmando rumores que existem há anos, a Apple anunciou durante a palestra de abertura da WWDC 2020, sua conferência anual para desenvolvedores, que futuros Macs utilizarão em processadores criados pela própria Apple baseados na arquitetura ARM, a mesma usada nos iPhones e iPads.

Com isso encerra-se um ciclo de 14 anos que começou em 2006 quando Steve Jobs anunciou, também no palco de uma WWDC, a migração da arquitetura PowerPC para a Intel.

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Segundo Tim Cook, CEO da Apple, a transição permitirá que a Apple torne realidade “produtos incríveis” que estão em desenvolvimento em seus laboratórios. A empresa tem tradição no desenvolvimento de seus próprios processadores, começando com o A4 para o iPhone 4 em 2010, e passando pela linha X de processadores otimizados para os iPads.

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Novo hardware…

Os novos chips para os Macs, que ainda não tem nome, vão tirar proveito dos mesmos recursos já encontrados nos processadores para smartphones e tablets, como GPUs de alto desempenho, núcleos otimizados para inteligência artificial (Neural Engine), tecnologias de captura e processamento de imagem usadas em câmeras, segurança (incluindo reconhecimento facial) e muito mais.

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Novos chips para os Macs irão herdar recursos já existentes nos chips para iPhones e iPads. Foto: Apple.

Segundo a empresa, graças a décadas de otimização para dispositivos móveis, os processadores também prometem menor consumo de energia, e com isso maior autonomia de bateria, em relação aos chips Intel atuais. 

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… e novo Software

A próxima versão do macOS, codinome Big Sur, já terá suporte à arquitetura ARM. Repetindo exatamente o que Jobs fez em 2006, Craig Federighi, Vice-Presidente Sênior de Engenharia de Software da Apple revelou um “truque”: toda a demonstração do recursos do novo macOS, feita minutos antes, havia sido feita em um Mac com processador ARM.

Segundo Federighi, a transição para a nova arquitetura será fácil para os desenvolvedores. “Na maioria dos casos”, segundo ele, tudo o que os desenvolvedores terão de fazer é abrir o código-fonte de seus apps no XCode, ambiente de desenvolvimento da Apple, e recompilar o código para a nova arquitetura. Adaptações no código, quando necessárias, poderão ser feitas em questão de “dias”.

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Adobe Photoshop rodando em Macs com processador ARM. Foto: Apple

Como exemplo desta facilidade Federighi demonstrou que apps de peso, como o pacote Microsoft Office, o Adobe Photoshop e o Final Cut Pro, da própria Apple, já rodam com alto desempenho na nova arquitetura. 

A Apple também desenvolveu uma nova versão do software Rosetta, que já foi usado na transição de PowerPC para Intel. Com o Rosetta 2 os usuários poderão rodar de forma “transparente” apps escritos para processadores Intel nos novos Macs, sem prejuízo no desempenho. Como exemplo, Federighi demonstrou a versão Intel do jogo Shadow of the Tomb Raider, baixada da App Store, rodando em um Mac com processador ARM.

A mesma tecnologia do Rosetta 2 será usada em um sistema de virtualização que permitirá que usuários rodem em Macs ARM sistemas operacionais feitos para processadores Intel, como o Linux. Não foi feita menção ao Windows (algo possível hoje com software de terceiros, como o Parallels Desktop), mas há a possibilidade. Vale lembrar que a Microsoft também tem uma versão do Windows 10 para ARM.

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Shadow of the Tomb Raider, jogo para Macs com processadores Intel, rodando em um Mac com chip ARM. Foto: Apple

Além disso, Macs ARM poderão rodar nativamente todos os apps já existentes para iPhones e iPads, sem necessidade de que os apps sejam adaptados pelos desenvolvedores, algo que foi demonstrado com o jogo Monument Valley 2. Os apps rodam em uma janela, assim como apps Android no Chrome OS. Com isso os novos Macs terão acesso, já no primeiro dia, a um imenso catálogo de apps, de software de produtividade (como o Office para iPad) a jogos.

E quando chega?

A transição dos Macs para a arquitetura ARM não é algo que irá acontecer do dia para a noite. Segundo a Apple, serão necessários “dois anos” até que ela esteja completa. A empresa se compromete a continuar suportando hardware Intel “por muitos anos”, e menciona que ainda há novos produtos baseados nesta plataforma à caminho.

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macOS Big sur rodando no “kit de transição”, um Mac Mini com processador A12Z. Foto: Apple

Mas para os desenvolvedores, os Macs ARM chegam muito antes. A partir de hoje desenvolvedores podem se registrar para receber um “Developer Transition Kit” (DTK), pacote com documentação, exemplos de código e uma versão muito especial do Mac Mini, equipada com o processador Apple A12Z Bionic (o mesmo do atual iPad Pro), 16 GB de RAM e SSD de 512 GB. A máquina roda uma versão beta do macOS Big Sur, e traz também uma nova versão do pacote de ferramentas de desenvolvimento XCode.