Cientistas recuperaram plantas fossilizadas muito bem preservadas em um antigo lago na Ilha Sul da Nova Zelândia. Elas permitiram que os pesquisadores relacionassem pela primeira vez as altas temperaturas do Mioceno (cerca de 23 milhões de anos atrás) com os altos níveis de CO2 na atmosfera. O estudo foi publicado na revista Climate of the Past.

No artigo, a equipe mostra que algumas plantas foram capazes de coletar dióxido de carbono com mais eficiência para a fotossíntese (o processo que aproveita a luz solar para produzir nutrientes para a planta). Segundo os cientistas, suas descobertas podem conter pistas sobre como a dinâmica da vida vegetal se altera conforme os níveis de CO2 aumentam.

O que podemos aprender?

A equipe perfurou o solo por 100 metros, até perto do leito do lago agora seco, localizado em uma cratera de um vulcão extinto há muito tempo, com um quilômetro de diâmetro. O material biológico na região foi fossilizado, incluindo plantas, algas, besouros, aranhas, moscas, fungos e outros seres vivos de um período quente conhecido como Mioceno.

Acredita-se que as temperaturas globais na época fossem entre 3 °C e 7 °C mais altos do que atualmente. Os cientistas debatem sobre os níveis de CO2 no Mioceno, o que torna esse um estudo importante.

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“O surpreendente é que essas folhas são basicamente mumificadas, então temos suas composições químicas originais e podemos ver todas as suas características ao microscópio”, explicou Tammo Reichgelt, principal autor do artigo, da Universidade de Connecticut em Storrs, nos EUA.

Os cientistas analisaram as diferentes formas químicas de carbono nas folhas de seis espécies de árvores depositadas em vários níveis do lago. Isso os ajudou a estimar que, à época, a atmosfera tinha cerca de 450 partes por milhão (ppm) de carbono. Estudos anteriores sugeriam um valor significativamente menor (300 ppm).

Isso é semelhante aos níveis da era pré-industrial, mas não é o suficiente para explicar as altas temperaturas do Mioceno.

As emissões humanas elevaram os níveis de CO2 para 415 ppm. A previsão para as próximas décadas é que o nível de carbono chegue a 450 ppm – o mesmo experimentado pelas florestas da Nova Zelândia há 23 milhões de anos.

Os cientistas também analisaram a geometria dos estômatos e outras características anatômicas das folhas, comparando-as com folhas modernas. Eles perceberam que as árvores eram excepcionalmente eficientes na sucção de carbono pelos estômatos, sem perder muita água no processo. Isso permitiu que elas crescessem em áreas marginais que, de outra forma, seriam muito secas para as florestas.

Segundo os pesquisadores, essa maior eficiência se refletiu em florestas em latitudes temperadas ao norte, onde se localiza a maior parte da massa da Terra.

O que isso nos diz?

Quando os níveis de CO2 aumentam, muitas plantas aumentam sua taxa de fotossíntese, porque conseguem remover o carbono do ar mais eficientemente e economizar água ao fazer isso.

Dados de satélites da Nasa mostram um efeito de “esverdeamento global”, principalmente devido aos níveis crescentes de CO2 emitidos pelos humanos na última década.

Estima-se que entre um quarto e metade das terras com vegetação no planeta tiveram aumento no volume de folhas em árvores e plantas desde a década de 1980. O efeito deve continuar à medida que os níveis de CO2 aumentam.

No entanto, não devemos presumir que isso seja uma boa notícia, segundo os autores. O aumento na absorção de CO2 não chega nem perto de compensar o que é produzido pelos humanos.

Já que grande parte da vida vegetal de hoje evoluiu em um mundo temperado e com baixo teor de CO2, alguns ecossistemas naturais e agrícolas podem sofrer muito com a alta taxa de CO2 no ar, junto com as mudanças climáticas decorrentes disso.

Nem todas as plantas se aproveitam disso e, entre aquelas que o fazem, os resultados variam de acordo com a temperatura e disponibilidade de água e nutrientes. “É outra camada de estresse para as plantas”, afirmou Reichgelt. “Pode ser ótimo para algumas e horrível para outras”.

Via: BBC