Em maio, uma equipe de astrônomos do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, afirmam ter encontrado o buraco negro mais próximo do planeta Terra: uma singularidade a “apenas” 1.120 anos-luz de distância, parte de um sistema triplo chamado HR 6819. Inclusive, essa última característica foi determinante para a descoberta, já que como não é fácil fotografar um buraco negro, os cientistas calcularam sua localização com base no movimento de duas estrelas próximas.

Porém, depois de reanalisar os dados coletados, outros astrônomos concluíram que o sistema não inclui um buraco negro, ou tampouco é triplo. Em vez disso, eles descobriram que HR 6819 provavelmente é composto apenas de duas estrelas com uma órbita binária incomum.

Uma das estrelas, B3 III, com tamanho estimado em seis massas solares, tem uma órbita de aproximadamente 40 dias – mas sua companheira, Be, também estimada em cerca de seis massas solares, parece estar imóvel. Como um sistema binário de massa igual, elas deveriam orbitar um centro de gravidade mútuo, e não uma estrela orbitando a outra. Por isso, os astrônomos concluíram que o sistema poderia estar orbitando outro objeto, que não podia ser visto. Um buraco negro.

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Esse vídeo mostra uma visão de campo amplo da região do céu na constelação de Telescopium. Em seguida, amplia para mostrar o sistema HR 6819. Crédito: ESO/L. Calçada, Digitized Sky Survey 2, N. Risinger

Porém, os novos estudos trazem novas possibilidades. E se as massas das estrelas foram calculadas erradas? “A presença de Be no espectro de HR 6819 sugere outra interpretação do sistema”, escreveram Douglas Gies e Luqian Wang, da Georgia State University, em seu artigo publicado na The Astrophysical Journal Letters.

“É possível que o componente estelar B3 III seja na verdade uma estrela de baixa massa, relativamente jovem e luminosa. Nesse caso, a estrela Be seria a companheira do binário de 40 dias em vez de um buraco negro”, avaliam os astrônomos.

O movimento orbital poderia ser detectado no gás hidrogênio ao redor da estrela Be – que se moveria quase imperceptivelmente ao ser puxado pela estrela menor. De acordo com os cálculos da nova pesquisa, Be teria cerca de seis massas solares, como encontrado anteriormente, mas a estrela B3 III teria entre 0,4 e 0,8 massas solares.

ESO/IAU/Sky & Telescope

Este gráfico mostra a localização do sistema HR 6819, na constelação de Telescopium. Imagem: ESO/IAU/Sky & Telescope

Em segundo estudo, publicado na Astronomy & Astrophysics, Julia Bodensteiner, da KU Leuven, na Bélgica, reforça essa hipótese. A astrônoma e sua equipe examinaram a emissão de hidrogênio da estrela Be e a órbita do sistema – chegando quase exatamente à mesma conclusão.

“Inferimos massas espectroscópicas de 0,4 [massas solares] e 6 [massas solares] para o primário e o secundário”, afirma o artigo. “Isso indica que o primário pode ser uma estrela despojada em vez de uma gigante do tipo B. A modelagem evolucionária sugere que um possível sistema progenitor seria um sistema binário B + B compacto que experimentou transferência de massa conservadora … No quadro desta interpretação, HR 6819 não contém um BH (buraco negro)”.

Há ainda um terceiro artigo, publicado na plataforma Arxiv.org e pendente de revisão por pares acadêmicos, que obteve números de massa bem próximos para as estrelas: de 0,47 e 6,7 massas solares para B3 III e Be respectivamente. “Nós argumentamos que a estrela B é uma estrela de hélio inchada e recentemente despojada com massa ≈ 0,5 massas solares que atualmente está se contraindo para se tornar uma anã quente”, escreveram os astrônomos Kareem El-Badry e Eliot Quataert da UC Berkeley.

Via: Science Alert