Em seu primeiro grande discurso desde sua posse, que ocorreu no mês passado, o primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, afirmou que o país será neutro em carbono até 2050. Suga fez a promessa na segunda-feira (26), dirigindo-se ao Parlamento japonês. O compromisso está de acordo com o que pede o acordo climático de Paris de 2015, que quer manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 graus Celsius.

O anúncio foi feito mesmo depois de o primeiro-ministro ter afirmado sobre a intenção de construir uma dúzia de novas usinas termelétricas a carvão nos próximos anos. A novidade também coincidiu com o compromisso firmado pela rival regional, a China, há duas semanas, onde afirmou que reduzirá suas emissões líquidas de carbono a zero até 2060.

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Apesar de ser altamente dependente de combustíveis fósseis, Japão firmou compromisso para neutralidade em carbono até 2050. Créditos: Sakarin Sawasdinaka/Shutterstock

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Antes de arrancar aplausos dos legisladores, Suga disse que “uma abordagem agressiva do aquecimento global trará uma transformação em nossa estrutura industrial e sistema econômico que levará a um grande crescimento” na economia, ressaltou ele.

O movimento em direção à nova meta já havia começado em nível local, onde 150 governos municipais se comprometeram a ser neutros em carbono até a metade do século.

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O pesquisador de políticas climáticas do Instituto NewClimate, na Alemanha, Takeshi Kuramochi, acredita que a decisão por parte do líder do governo japonês pode ter sido motivada não só pela vontade de querer não ser passado para trás pela China neste aspecto, mas também da pressão por parte de grupos ambientais. Resumidamente, o anúncio pode ser resultado de pressões externas e internas sobre o primeiro-ministro.

Plano viável?

Suga não detalhou como fará do Japão um país neutro em carbono até 2050. Ele apenas afirmou que aproveitaria o poder da “inovação” e da “reforma regulatória” para transformar a produção e o uso de energia do país. Mas um novo cronograma nesta direção exigirá uma ampla revisão da infraestrutura do Japão, sendo ele altamente dependente de combustíveis fósseis produtores de dióxido de carbono.

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“Seria necessário um olhar muito mais profundo sobre os recursos que o Japão possui, talvez a forma como diferentes setores têm operado”, explicou Jane Nakano, pesquisadora sênior do Programa de Segurança Energética e Mudança Climática do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

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A emissão de carbono enraizada pelas indústrias do Japão deverá ser um grande desafio para que o governo cumpra a promessa até 2050. Créditos: GrAl/Shutterstock

“Não apenas o governo, mas muitas entidades empresariais e partes interessadas industriais” também precisariam se comprometer para alcançar o zero líquido em 2050. Neste sentido, grandes corporações, como a Toyota e a Sony, já se colocaram à disposição para ajudar a cumprir cronogramas para zerar suas emissões.

Efeito estufa no Japão

Cabe destacar que o país é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. O governo japonês afirmou que se tornaria neutro em carbono “o mais rápido possível”, tendo como objetivo mitigar as emissões destes gases em 80% até 2050.

A iniciativa do primeiro-ministro torna-se assertiva quando consideradas as mudanças climáticas no país. O aumento das temperaturas visto em todo o Japão contribuiu para ondas de calor mortais nos últimos tempos. Cientistas acreditam que o aquecimento global também contribuiu para o tamanho e a intensidade dos devastadores tufões que atingiram o país em 2019.

Fonte: The New York Times