Representando o governo federal dos Estados Unidos, o subsecretário Keith Krach afirmou, durante discurso ministrado na Fundação Getúlio Vargas (FGV), que as principais operadoras de telefonia brasileiras – Vivo, Claro, TIM – teriam aderido ou, pelo menos, simpatizado com o programa “Clean Networks”, uma idealização dos EUA de implementar o 5G sem o uso de equipamentos de rede de origem chinesa.

Durante o discurso, Krach, que já foi chairman e CEO da DocuSign, afirmou, sem apresentar evidências, de que a gigante chinesa Huawei estaria “oferecendo equipamentos de graça a muitos países”. O subsecretário ainda disse, inicialmente, que teria mantido conversas com “as três” principais operadoras do Brasil, mas depois detalhou que tais diálogos teriam sido travados com as controladoras internacionais das respectivas companhias. Algumas delas, no entanto, negam qualquer compromisso com o programa norte-americano.

Reprodução

Keith Krach, subsecretário do governo dos Estados Unidos, afirmou que operadoras brasileiras também vão banir fornecimento de equipamentos de telefonia de origem chinesa. Empresas negam. Imagem: KeithKrach.com/Acervo

publicidade

Posicionamento das operadoras

Segundo o subsecretário, a primeira a ter esse tipo de conversa teria sido a Vivo, por meio de sua proprietária, a Telefónica: “Eu fui à Espanha e jantei com o CEO, José [María Álvarez-Pallete] López, e ele foi dos primeiros CEOs dessa área que disse que sim, terá ‘rede limpa’ na Telefónica Espanha; na Telefónica Alemanha; na O2 do Reino Unido, que é a maior de todas; e que vão proteger a Telefônica Brasil também”.

A empresa não se manifestou para confirmar ou negar as afirmações, mas em junho deste ano, o secretário de estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que a Vivo teria “se comprometido” com o “banimento de fornecedores não confiáveis” no que tange a equipamentos de telefonia e rede. O site do governo dos EUA, porém, é o único que lista a Vivo como apoiadora do programa “Clean Networks”.

Voltando ao subsecretário Keith Krach, ele também afirmou que Claro já estaria posicionada em favor do programa, mencionando “uma ótima conversa” com “Carlos” (presumidamente, Carlos Slim, dono do grupo América Móvil, controlador da operadora). A empresa, porém, negou a informação ao Teletime: “A Claro não se comprometeu com nada, ao contrário, somos completamente contra a qualquer tipo de restrição à Huawei poder trabalhar. Queremos seguir comprando equipamentos de quem oferecer a melhor tecnologia e o melhor preço, seja Huawei ou outro qualquer. Desconhecemos qualquer tipo de pressão”, disse uma fonte do site.

Reprodução

Operadoras negaram afirmações de subsecretário dos EUA, que disse que as empresas se comprometeram a não usar equipamentos de fornecedores chineses na implementaçao do 5G no Brasil. Imagem: Reprodução/Vivo/Claro/TIM

Finalmente, a TIM também foi indiretamente mencionada por Krach por meio de sua controladora, a Telecom Italia: “A Telecom Italia também conversou bastante com os executivos e membros do conselho da Itália, e eles também decidiram que o negócio deles vai ser limpo”. Novamente, o Teletime cita uma fonte anônima de que a conversa mencionada pelo representante dos EUA nunca aconteceu.

Outra fonte do site – posicionada em alta posição dentro de uma das operadoras – também afirmou que nenhuma conversa afirmada pelo subsecretário aconteceu, nem no Brasil, nem no exterior. A fonte ainda cita um episódio recente, onde as três operadoras teriam se recusado a discutir o 5G com os EUA – uma negativa que seria impossível, caso as confirmações mencionadas por Krach fossem verdadeiras.

O que disse a China?

A Embaixada chinesa no Brasil repudiou de forma veemente as informações manifestadas pelo subsecretário norte-americano, chamando-as de “declarações mal intencionadas” que têm o “objetivo de implantar distúrbios na parceria sino-brasileira” e “coagir outras nações a sacrificar seus próprios interesses, servir ao ‘America First’ e manter seu monopólio tecnológico”.

“A chamada ‘rede limpa’ pregada pelos Estados Unidos é discriminatória, excludente e política. É de fato uma ‘rede suja’, e sinônimo de abuso do pretexto da segurança nacional por parte dos EUA para promover guerra fria tecnológica e bullying digital”, disse a embaixada, que se pronunciou via Twitter.

Mais além, a embaixada também rechaçou as acusações de espionagem feitas pelo governo dos Estados Unidos desde que começou a sua guerra comercial contra a China – em uma ação que resultou no bloqueio dos negócios de empresas chinesas e americanas em meados de 2018 e perdura até hoje.

Fonte: Teletime