Novo estudo que será publicado no ‘Astronomical Journal’ estima que existem, no mínimo, 300 milhões de planetas similares à Terra que podem abrigar a vida. Pesquisa se baseou na quantidade de estrelas comparáveis ao sol na Via Láctea, estimado em 4.1 bilhões, e utilizou dados do telescópio Kepler e Gaia.

Estudos similares já tentaram estimar o número de planetas parecidos com a Terra em nossa galáxia utilizando o telescópio, porém, dados incompletos e falsos criavam uma grande margem de erro. A nova análise é a primeira a utilizar dados completos do Kepler, mas também agrega dados estelares do telescópio espacial Gaia, uma missão da Agência Espacial Europeia para mapear cada estrela da Via Láctea.

NASA's Marshall Space Flight Center/Flickr

Planetas descobertos pelo telescópio espacial Kepler, que operou entre 2009 até 2018. Créditos: NASA’s Marshall Space Flight Center/Flickr

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Tudo isso ajudou a deixar as estimativas mais precisas. Com todos os dados dos dois telescópios, os pesquisadores puderam determinar a taxa de formação de estrelas semelhantes ao sol na galáxia, o número de estrelas susceptíveis a possuir planetas rochosos (com raios de 0,5 a 1,5 vezes a da Terra) e a probabilidade de esses planetas serem habitáveis.

De acordo com a pesquisa, em média, a previsão é de que 37 até 60% das estrelas similares ao Sol tenham planetas potencialmente habitáveis em sua órbita. Sendo otimista, o número sobe para 88%. Já o cálculo mais conservador reduz para 7%, o equivalente a 300 milhões de planetas. Baseado na última estimativa, o time de pesquisadores prevê pelo menos quatro estrelas similares ao sol com planetas habitáveis em uma distância de 30 anos-luz da Terra.

Nova forma de calcular a habitabilidade

A habitabilidade é calculada pelas chances de o planeta ter temperaturas moderadas o suficiente para que exista água em estado líquido na sua superfície, já que ela é essencial para a vida. Normalmente, a maioria dos estudos calcula isso pela distância do exoplaneta (planeta fora do nosso sistema solar) de sua estrela-mãe.

De acordo com Steve Bryson, do Centro de Pesquisa Ames da NASA e líder do estudo, esse método é útil quando uma estrela em específico está sendo examinada. Porém, quando se está observando diversas estrelas, elas exibirão diversos níveis de brilho, entregando diferentes quantidades de calor nos objetos ao redor, diminuindo a precisão.

O time de pesquisadores então decidiu calcular a habitabilidade através do volume de luz que atinge a superfície do exoplaneta, o que o estudo chama de ‘instellation flux’. “Nós estamos medindo a temperatura real do planeta – se está ou não na zona habitável – em todos que estão em torno de todas as estrelas de nossa amostragem,” afirma Bryson.

adventtr/iStock

O planeta Terra está distante o suficiente do sol, o que permite a presença de água em estado líquido em sua superfície. Créditos: adventtr/iStock

Mesmo que o estudo seja mais preciso, as incertezas ao redor da pesquisa ainda são grandes. O primeiro motivo é que o time está trabalhando com uma amostragem muito pequena de planetas rochosos. O telescópio Kepler identificou cerca de 2.800 exoplanetas, com poucos deles orbitando uma estrela similar ao sol.

O segundo é o fato de o estudo assumir um modelo simples dos exoplanetas que pode variar muito no mundo real. Adicionar mais variáveis ao modelo pode aumentar a precisão, porém, isso requer dados mais precisos que ainda não existem, mas estudos como esse podem ajudar a humanidade a consegui-los.

O objetivo do telescópio Kepler era ajudar cientistas a descobrir quais tipos de objetos interestelares eles precisavam dedicar mais recursos para estudar e encontrar vida extraterrestre, especialmente em telescópios espaciais que permitem um tempo limitado de observação.

O estudo pode ajudar engenheiros a projetar telescópios mais apropriados para determinar se um exoplaneta potencialmente habitável tem atmosfera ou se é o lar de qualquer bioassinatura potencial.

Fonte: MITTechnologyReview