Uma instalação bastante polêmica presente no Design Museum, em Londres, chamou muita atenção. Isso porque, o projeto usou células humanas e sangue para cultivar o chamado “bife de Ouroboros”, uma carne criada em laboratório.


O principal objetivo dessa iniciativa era o de criticar o uso crescente de células vivas de animais pela indústria da carne. Isso acabou gerando um debate turbulento sobre a bioética e as armadilhas da crítica artística.


Após o projeto começar a ser exibido no Design Museum, Orkan Telhan, criador da obra e professor associado da Stuart Weitzman School of Design, da Universidade da Pensilvânia, começou a receber diversas ameaças por e-mail. As principais ofensas o chamavam de “perverso” e “puro mal”. Porém, o foco logo foi em acusá-lo de “promover o canibalismo”.


“Foi uma interpretação errônea que se tornou politizada de todas as maneiras erradas porque humanos comendo uns aos outros é um assunto tabu”, comenta Telhan. Vale lembrar que tudo não passa de uma obra de arte.

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Carne foi desenvolvida a partir de células humanas e sangue. Foto: Ourochef/Museu de Arte da Filadélfia


Mesmo assim, o artista revela que, enquanto mensagens de ódio chegavam à caixa de entrada de seu e-mail, outra grande parcela de pessoas comuns parecia interessada em saber como comprar um kit para desenvolver carne a partir de suas próprias células. Obviamente, a ideia não está à venda.


Andrew Peeling, biofísico que fez parceria com Telhan, disse também que foi procurado por diversos empresários que queriam investir na ideia ou ingressar em um programa de aceleração para a produção desse tipo de material. Por enquanto, entretanto, não há planos de levar ao mercado a carne feita de células humanas.


Tour de exibição


Por mais polêmico que possa parecer, o projeto percorreu museus dos Estados Unidos por meses sem grandes problemas – mesmo após os pedaços serem exibidos em pratos com talheres, indicando que estavam prontos para serem comidos.


“Eu chamo isso de um sucesso. A aprovação que está no centro deste projeto é realmente justa. É importante nos perguntarmos de onde obtemos nossas proteínas”, disse Michele Millar, curadora que encomendou os pedaços de carne para a exposição original, chamada ‘Designs for Different futures’, no Museu de Arte da Filadélfia.


Agora, de acordo com os organizadores, não há planos para mover a instalação do Design Museum antes que a exposição termine em março de 2021.

Via: New York Times