Algumas das mudanças causadas pela pandemia de Covid-19 em 2020 seguirão para o futuro, mesmo com a chegada de uma vacina e a suspensão das medidas de distanciamento social. Parte dessas mudanças estão, por exemplo, nos hábitos de consumo da população, que durante os dias de isolamento adotou em massa o comércio eletrônico impulsionado pelo avanço dos meios de pagamento digital.
A Associação Brasileira de E-commerce (ABComm) estima um crescimento de 18% para o setor em 2020, atingindo pelo menos R$ 106 bilhões em receita, impulsionadas pela pandemia. Um levantamento da fintech Ebanx estima que 61% dos brasileiros adultos serão consumidores online até o final de 2020, um crescimento de 25% em relação a 2019.
“Grandes empresas já estavam preparadas para o e-commerce, mas aquelas que nunca imaginaram fazer esse tipo de investimento foram obrigadas antecipar seus planos de 15 anos em alguns dias – ou iriam se ver totalmente fora do mercado”, afirma o economista Alessandro Azzoni.
Ao melhorar a experiência do cliente, facilitando o cadastro, pagamento e entrega, o comércio eletrônico conquistou uma parte do público que tende a ser fiel. “Clareza do site, segurança na transação e eficiência na entrega são diferenciais para o consumidor. Empresas que ganharam uma fatia de mercado de 20%, 30% ou 40% durante a pandemia, quando voltar o atendimento presencial terão um crescimento de 140% na verdade, porque terão criado um novo segmento para o seu negócio”, avalia Azzoni.
“A entrada no mundo digital é um processo sem volta, que tende a crescer e a ditar uma nova forma de comprar e vender no País, contribuindo com a inclusão digital e financeira de comércios e consumidores”, afirma Oscar Pettezzoni, diretor da Visa Consulting Analytics. Um levantamento da empresa apontou que mais de 70 mil comércios que atuavam apenas no mundo físico em 2019 adotaram os meios digitais este ano, e conseguiram aumentar seu ticket médio por transação em 17% ao migrar para o e-commerce.
Avanço dos meios de pagamento: um toque de mágica
A pandemia impactou ainda na forma com que o cliente vem pagando suas compras. O avanço dos meios de pagamento passou a implementar métodos que não exigem contato direto. Por exemplo, O NFC e o mais recente PIX vêm ganhando espaço. Em setembro, o uso do pagamento por aproximação foi quase cinco vezes maior do que no mesmo mês do ano passado, ainda de acordo com a Visa. Na comparação entre o primeiro trimestre de 2020 (janeiro, fevereiro e março) e terceiro trimestre desse mesmo ano (julho, agosto e setembro) o crescimento foi dobrado.
Entre o lojista e o consumidor, o setor de logística também teve um crescimento durante a pandemia. Sem parar mesmo durante o isolamento mais rígido, as entregas impulsionaram o comércio eletrônico a nível local e nacional. “Não houve crise de abastecimento, então coube às empresas garantir que o que estava sendo vendido tinha em estoque e manter prazos e preços de frete baixos”, afirma o economista.
Um exemplo de inovação para Azzoni foi o Mercado Livre, que investiu em uma frota própria para agilizar entregas e baratear o custo. “É um exemplo de horizontalização do negócio. Com prazos de 48h o até 24h para algumas cidades é possível completar a venda por impulso mesmo online. O cliente compra online e recebe em pouco tempo, sem sair de casa”.
Do caminhão para o motoboy
Aplicativos de entregas – em especial os focados em delivery de comida, como Uber Eats, Rappi e iFood – também se beneficiaram durante a pandemia. Uma pesquisa da Mobilis revelou que esse setor cresceu 103% no primeiro semestre de 2020.
Esse aumento pode ser sentido até por quem trabalha diretamente com os entregadores. Em 2018 Ciro Ralfe criou o Motop, um aplicativo que ajuda motociclistas a encontrar estacionamento, lojas de motopeças e borracheiros. Ele conta que durante a pandemia, viu seu público migrar de pessoas que iam trabalhar ou passear de moto por lazer para motoboys entregadores de aplicativos.
“Fomos de um polo ao outro. Hoje, 40% dos nossos usuários são entregadores, pessoas que rodam o dia todo e em muitos casos vão para bairros que não conhecem, e usam o app para encontrar serviços ou para achar um estacionamento rápido”, conta Ralfe.
O Motop é gratuito para os pilotos, e a startup garante seu faturamento cobrando dos lojistas que quiserem aparecer no app. “Temos também cupons de desconto, mas foi algo que mudou drasticamente durante a pandemia. Paramos de oferecer vouchers para capacete, por exemplo, para dar R$ 10 de desconto na troca do óleo. Para um entregador que faz R$ 7 numa corrida, isso faz muita diferença”, conta o empresário.