Mesmo em um ano marcado por uma pandemia que parou o planeta, não faltaram fatos astronômicos em destaque em 2020.

Separamos 10 notícias astronômicas que marcaram o ano no Brasil e no mundo. Confira:

Os principais fatos astronômicos de 2020

10. Eclipse Anular do Sol

No dia 21 de junho, ocorreu um Eclipse Anular do Sol, visível em uma estreita faixa que atravessou os continentes africano e asiático. Um eclipse anular ocorre quando a Lua passa em frente ao Sol quando está próxima do apogeu, ou seja, em sua posição mais afastada da Terra.

Nessas condições, o tamanho aparente do nosso satélite natural não é grande o suficiente para encobrir totalmente o Sol, então, no momento máximo do eclipse, forma-se um anel de fogo em torno da Lua. Um eclipse como esse poderá ser visto no Brasil em 2023, especialmente em uma faixa que corta as regiões Norte e Nordeste do país.

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Eclipse Anular do Sol de 21 de Junho visto em Beigang, Taiwan. Créditos: Littlebtc

9. Retorno da Haybusa-2

Depois de uma viagem de 6 anos e mais de 5 bilhões de quilômetros, a Sonda Japonesa Hayabusa-2 voltou para a Terra, trazendo amostras do Asteroide Ryugu. A missão foi lançada em dezembro de 2014, a partir do Centro Espacial de Tanegashima, no Japão.

Em junho de 2018, a Sonda chegou até a órbita do asteroide Ryugu, onde permaneceu por um ano e meio. Lá, ela fez um completo mapeamento da superfície e das propriedades físicas do asteroide, além de realizar duas coletas de amostras, uma da superfície e outra do subsolo de Ryugu.

Em novembro de 2019, a Hayabusa-2 encerrou a fase científica da missão e iniciou seu retorno para casa. No último dia 5 de dezembro, a sonda se aproximou da Terra e liberou seu módulo de reentrada contendo a cápsula com as duas amostras coletadas no asteroide. A cápsula pousou suavemente na Área Proibida de Woomera, na Austrália, e foi resgatada pelos militares australianos e cientistas japoneses, garantindo o sucesso da missão.

Membro da Agência Espacial Japonesa (Jaxa) levando a cápsula com amostras do Asteroide Ryugu recuperada na Austrália. Créditos: Jaxa

8. Eclipse Total do Sol

Com as visitas internacionais limitadas por conta da pandemia da Covid-19, Chile e Argentina presenciaram o último Eclipse Solar de 2020. A totalidade, porém, foi visível apenas por alguns poucos felizardos que estavam em uma estreita faixa que cruza o sul da Argentina e do Chile. Daqui do Brasil, ele foi visto apenas parcialmente, ou seja, a Lua não chegou a encobrir totalmente o Sol. 

Eclipse total de 14 de dezembro de 2020 visto a partir da Cidade de Gorbea, Chile. Créditos: CuervoNN

7. Conjunção Júpiter Saturno

A maior conjunção entre Júpiter e Saturno da era dos telescópios ocorreu no último dia 21 de dezembro, e foi observada de todas as partes do planeta. Nesta noite, os dois planetas estavam tão próximos no céu que cabiam dentro do mesmo campo de visão dos telescópios.

Uma oportunidade única de observar e fotografar os maiores planetas do Sistema Solar, os anéis de Saturno com a Divisão de Cassini, a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, e as 9 maiores luas dos dois planetas, compondo uma única e espetacular imagem astronômica.

Algo tão raro, que a última conjunção tão próxima visível aconteceu no ano 1226, quase 200 anos antes da invenção dos telescópios.

Conjunção entre Júpiter e Saturno registrada a partir de Maceió, Alagoas. Créditos: David Duarte e Romualdo Caldas

6. Chuva de meteoritos em Santa Filomena

Uma manhã tranquila de quarta-feira na pequena cidade de Santa Filomena, no Sertão Pernambucano, foi interrompida por uma série de estranhos acontecimentos. Moradores escutaram um forte estrondo vindo do céu. Alguns saíram de casa e perceberam uma nuvem de fumaça acima da cidade e pouco tempo depois, começaram a cair as pedras do céu.

Uma verdadeira “chuva de meteoritos” caiu sobre a cidade. Em poucos dias, pesquisadores e caçadores de meteoritos de todo mundo já estavam na cidade, para procurar por esses fragmentos de rocha espacial tão valiosos e importantes para a ciência.  

Um dos meteoritos que caíram em Santa Filomena. Créditos: Gutherys Araújo

5. Missão chinesa Chang’e 5 coleta amostras na Lua

A Missão Chang’e 5 foi lançada em 23 de novembro a partir de Wenchang na China, levando quatro módulos com o objetivo de pousar na Lua, coletar amostras de solo e retornar à Terra trazendo o material coletado na Lua.

Em 28 de novembro, os módulos de pouso e de subida se desconectaram da nave principal e iniciaram uma lenta descida até a superfície lunar, enquanto o módulo de serviço permaneceu em órbita da Lua. O pouso ocorreu no dia 1º de dezembro e, desde então, iniciou-se a coleta de amostras lunares.

Depois de coletada as amostras, o módulo de subida foi lançado de volta e encontrou com o módulo de serviço em órbita lunar. As amostras foram transferidas para o módulo de retorno, que trouxe com sucesso as amostras para a Terra no dia 16 de dezembro. A reentrada do módulo de retorno ocorreu sobre a Mongólia e a Agência Espacial Chinesa resgatou a cápsula com cerca de 2 kg de rochas lunares.

4. Cometa Neowise

O Cometa C/2020 F3 (Neowise) foi descoberto no dia 27 de março de 2020 nas imagens em infravermelho do telescópio espacial Neowise (Near-Earth Object Wide-field Infrared Survey Explorer), da Nasa. Entre 22 e 27 de junho, foi percebido um aumento no brilho quando passou pelo campo de visão do telescópio espacial de observação solar Soho.

E quando passou a ser visível da Terra nos primeiros dias de julho, o cometa deu um verdadeiro show no céu, deixando imagens estonteantes, principalmente no Hemisfério Norte. 

Cometa C/2020 F3 (Neowise) fotografado a partir do Líbano. Créditos: Maroun Habib

3. Novas descobertas de água na Lua

A água já havia sido detectada anteriormente em crateras nos pólos lunares que nunca receberam a luz do Sol. Entretanto, em outubro, a Nasa anunciou duas importantes descobertas: a primeira foi a detecção de água molecular no interior da Cratera Clavius. Embora numa concentração muito baixa (entre 100 a 400 partes por milhão), a descoberta surpreende, porque a cratera é afastada dos pólos e recebe constantemente a luz solar.

A outra descoberta foi feita a partir de um estudo que mapeou as áreas constantemente sombreadas da superfície da Lua. Percebeu-se que essas áreas são muito maiores e se estendem bem além dos pólos. Alguns aspectos do relevo lunar criam as chamadas “micro-armadilhas frias”. Pequenas áreas que nunca recebem a luz do Sol e, por isso, podem manter a água em estado sólido, sem o risco de evaporar e ser levada pelos ventos solares.

Água molecular descoberta na Cratera Clavius. Gráfico: Nasa

2. Três missões para Marte

Aproveitando uma janela que ocorre a cada 26 meses, árabes, chineses e americanos lançaram, em menos de 15 dias, 3 diferentes missões para o Planeta Marte. A Missão Hope Mars, a primeira missão interplanetária árabe, foi lançada em 19 de julho a partir da Base de Tanegashima, no Japão.

Quatro dias depois, os chineses lançaram a missão Tianwen-1 a partir da Base de Wenchang, na China. E por último, em 30 de julho, os americanos lançaram, a partir de Cabo Canaveral, a Missão Mars 2020, levando a Sonda Perseverance ao Planeta Vermelho.

Ainda teríamos a Missão ExoMars em parceria entre russos e europeus, mas os atrasos maximizados pela pandemia da Covid-19 levaram a um adiamento do lançamento para a próxima janela.  

Impressão artística do Rover Perseverance sobre solo marciano. Créditos: Nasa

1. Descoberta (ou não) de Fosfina em Vênus

A descoberta de Fosfina em Vênus foi um dos assuntos mais comentados e discutidos no meio astronômico em 2020. Tudo começou com um anúncio feito em setembro por cientistas da renomada Sociedade Astronômica Real no Reino Unido. Eles teriam detectado, de forma inequívoca, a presença de moléculas de Fosfina (PH3) na atmosfera de Vênus. A descoberta ganha relevância, porque, na quantidade em que foi descoberta, ela só poderia ser produzida por bactérias anaeróbicas, o que poderia indicar a possibilidade de vida bacteriológica nas nuvens de Vênus. Só que não…

Já na época, o estudo foi visto com desconfiança por vários pesquisadores, e em outubro, uma pesquisa de uma equipe internacional publicada na Astronomy & Astrophysics colocou em xeque o estudo publicado em setembro. Eles apontaram falhas na pesquisa da Sociedade Astronômica Real e atribuíram a detecção da Fosfina a uma falha no tratamento dos dados.

Em novembro, um grupo multidisciplinar e internacional de cientistas revisou os dados da pesquisa da Sociedade Astronômica Real e concluiu que, de fato, o gás está presente no planeta, mas em quantidades sete vezes menores que o anunciado anteriormente. O erro anterior foi atribuído a uma falha na calibração dos dados do Alma, e os resultados revisados diminuem a expectativa de vida em Vênus, pois as quantidades atuais de Fosfina estariam próximas às que poderiam ser produzidas naturalmente por atividades vulcânicas.

Descoberta Fosfina na atmosfera de Vênus. Gráfico: Joanna Petkowska

Mesmo sendo uma notícia que gerou desconfiança na mesma medida da esperança, e que ainda não foi confirmada cientificamente, a Fosfina em Vênus é sem dúvida um dos fatos mais marcantes na Astronomia em 2020.

A sua relevância ou não para a Ciência ainda vai depender dos próximos capítulos dessa saga, seja a partir de novas observações, seja pelo envio de sondas espaciais para Vênus. Por enquanto, a única certeza é que esse fato dividiu os cientistas e marcou a Astronomia em 2020 como nenhum outro.

Escrito por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Bramon – Rede Brasileira de Observação de Meteoros – e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil