Apesar de não ser tão lembrado quando o assunto é agenda espacial, o Reino Unido projeta grandes planos para missões fora da Terra. Sem os mesmos holofotes dos EUA, o país deve concretizar, a partir deste ano, projetos como bases para uma estação permanente na Lua e rovers capazes de caminhar pelo satélite natural.

O projeto mais próximo de ser realizado baseia-se no rover Asagumo — espécie de aranha robótica —, que pode dar seus primeiros passos na Lua ainda em 2021 e se tornar o primeiro módulo lunar do Reino Unido.

Idealizada por Pavlo Tanasyuk, CEO e fundador da empresa britânica Spacebit, o “robô-aranha” deve ser lançado rumo ao satélite natural em julho deste ano, a bordo da sonda Peregrine. Mas até lá, a Spacebit terá trabalho para ajustar algumas coisas.

Como andar na superfície da Lua pode ser complicado por conta da camada de regolito, as pernas de Asagumo estão sendo projetadas em formatos de bastões de esqui, impedindo que o rover afunde.

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Projeto Asagumo, do Reino Unido
Asagumo vai explorar Lua e seus tubos de lava vazios. Foto: Spacebit/Divulgação

Além disso, a poeira e fragmentos do solo da Lua podem entrar nas pernas articuladas e no motor de Asagumo, fazendo com que a aranha robótica pare. Mas a Spacebit quer arriscar a tentativa, já que o robô precisará de pouco tempo até chegar no seu verdadeiro alvo: tubos de lava lunares.

Sim, a Lua já foi vulcanicamente ativa e, por isso, deixou diversos tubos de lava vazios. Mas por que a Spacebit estaria interessada nisso? A empresa britânica acredita que tais tubos possam ser o local perfeito para a construção de bases humanas no satélite natural da Terra.

Comunicação no espaço

O lançamento de Asagumo à Lua, no entanto, é apenas um dos projetos espaciais do Reino Unido. Isso porque a chefe de exploração espacial da Agência Espacial do Reino Unido, Sue Horne, identificou, com a ajuda de seus colegas, a necessidade de otimizações na comunicação no espaço.

Como no passado praticamente todas as missões lunares dependeram de um transmissor poderoso capaz de enviar sinais de volta à Terra, a ideia do Reino Unido consiste em construir um satélite de comunicações dedicado para orbitar a Lua.

Intitulado de Lunar Pathfinder, o projeto retransmitirá sinais de volta para a Terra sem precisar que rovers, landers e outros orbitadores carreguem os antigos transmissores volumosos.

Financiado pela Agência Espacial Europeia (ESA) e sob desenvolvimento da Surrey Satellite Technology Limited (SSTL), o Pathfinder está programado para ser lançado em 2023. O sucesso de seu envio poderá culminar no lançamento de diversos outros satélites em torno da Lua, que podem funcionar como um sistema GPS.

Projeto Lunar Pathfinder, da SSTL
Lunar Pathfinder deverá orbitar a Lua e vai otimizar comunicação com a Terra. Foto: SSTL/Divulgação

“A ideia é ter uma série de satélites que permitirão uma cobertura aprimorada de comunicações da Lua e serviços de navegação de alta confiabilidade”, afirmou Nelly Offord, gerente de negócios para exploração e chefe de serviços lunares da SSTL.

Mas claro, com a transmissão do Pathfinder, será necessária uma estação terrestre para receber os sinais.

A boa notícia é que a Estação Terrestre de Satélite Goonhilly, na Cornualha, conseguiu juntar fundos para atualizar suas antenas e não só será a estação terrestre do Lunar Pathfinder, como também receberá dados de algumas das missões mais antigas da ESA, como Integral, Gaia e Mars Express.

Parceria

Os ambiciosos projetos do Reino Unido e da ESA devem, inclusive, se unir aos planos da Nasa. A agência norte-americana pretende voltar à Lua em 2024 — com seu projeto Artemis —, mas após anunciar financiamento abaixo do esperado, a parceria internacional estabelecida entre Nasa e ESA deve ficar mais ativa nos próximos anos.

Offord revelou que a Nasa está interessada em usar os serviços da SSTL e está em contato com a ESA para possíveis suportes em seus projetos.

Projeto Artemis, da Nasa
SSTL e ESA poderão ajudar Nasa a cumprir prazo de enviar tripulantes de volta à Lua em 2024. Foto: Nasa/Divulgação

Uma possível parceria desse porte traria mais esperança para que o prazo de explorações fossem cumpridas.

Como o objetivo a longo prazo é de explorar Marte, qualquer ajuda para as missões na Lua — que serão encaradas como um testes antes das viagens ao Planeta Vermelho — será bem-vinda.

“O objetivo de longo prazo é levar humanos à Marte. Mas para fazer isso, precisamos usar a Lua como uma plataforma de teste. Precisamos testar tecnologias e recursos”, disse Horne.

Via: Science Focus