Desesperados em combater a pandemia de coronavírus, os brasileiros ampararam-se em uma busca desenfreada pelo vermífugo ivermectina no ano passado. De acordo com dados da consultoria IQVA, a venda do produto no mercado farmacêutico explodiu de janeiro até novembro de 2020, crescendo 466% em relação ao mesmo período de 2019.

Os dados apontam que cerca de 42,3 milhões de caixas do antiparasitário foram comercializadas no ano passado. O pico das compras foi observado em julho, quando foram somadas mais de 12 milhões de aquisições da invermectina.

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Via plano de saúde, o medicamento recomendado para piolhos dobrou. Segundo a healh tech ePharma, o sudeste foi a região com maior aumento do produto (120%), respondendo por 72% das compras nacionais de janeiro a novembro do ano passado. O Nordeste registrou alta de 104%.

Uma das explicações para este “boom” de compras foi a suspensão de retenção de receita médica para o produto feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em setembro do ano passado.

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A decisão foi feita após a constatação de que não haveria risco de desabastecimento do medicamento no mercado e o antiparasitário passou a ser vendido apenas com a apresentação de uma receita simples.

Fachada da Anvisa
Em setembro, Anvisa suspendeu a retenção de receita médica para a compra do vermífugo. Foto: Ascom/Anvisa

O preço da invermectina também viabiliza a aquisição em massa do produto pela população. Uma caixa do medicamento pode custar de R$ 17 a R$ 22, dependendo da região.

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Além disso, o produto foi amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro — junto de outros produtos como hidroxicloroquina e azitromicina —, mesmo sem nenhuma comprovação sanitária da eficácia do medicamento no combate à Covid-19.

Comprovação científica

Indicada para tratamentos de piolho, sarna e infecções derivadas de vermes, a ivermectina foi adotada como medicamento preventivo para possíveis contaminações de coronavírus. No entanto, não houve nenhum estudo ou confirmação científica ligando o produto à prevenção do vírus.

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“Atualmente, o uso de ivermectina para o tratamento da Covid-19 não está indicado em sua bula e não foi aprovado pela agência reguladora brasileira”, disse a Abbott, uma das fabricantes do antiparasitário no Brasil.

Lote de ivermectina
Mesmo sem comprovações científicas contra a Covid-19, produto tem sido usado como prevenção ao coronavírus. Foto: Secom/Divulgação

Quem também alerta sobre a ineficácia do medicamento contra o coronavírus é Gonzalo Vecina Neto, professor da USP e fundador da Anvisa. Segundo ele, “não há estudo que mostre que a ivermectina serve para além do tratamento de piolho”.

Para Neto, a ivermectina gera uma falsa sensação de imunidade ao vírus. Como grande parte da população brasileira não possui Covid-19 e cerca de 80% dos infectados são assintomáticos, os adeptos do antiparasitário relacionam a imunidade ao fármaco.

“A chance de tomar e achar que funciona é grande”, afirmou Neto, lembrando também que muitos grupos médicos usam e recomendam o produto.

Via: Folha de S. Paulo