É difícil negar que 2020 foi ano do TikTok. O aplicativo tornou-se bastante popular em meio à necessidade de encontrar distrações durante a pandemia.
Junto com a popularidade, preocupações em relação à segurança das informações dentro do aplicativo surgiram. Inclusive, com ações drásticas de Donald Trump, ex-presidente norte-americano, como solicitar o banimento da plataforma.
Mesmo assim, isso não mudou o fato de que o TikTok tornou-se um fenômeno. No entanto, seguindo a linha da privacidade, Riccardo Coluccini, jornalista da Vice Itália, decidiu tentar entender até que ponto o aplicativo de fato sabia sobre o conteúdo acessado pelo usuário.
Aproveitando o Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia, Coluccini solicitou ao TikTok todos os dados que a empresa armazenou pelos quase dois meses em que ele utilizou a plataforma.
Para este experimento, ele informa que nunca criou uma conta na rede social. Caso o site seja aberto no navegador, é possível ver o conteúdo sem se inscrever, embora alguns recursos – como comentar, seguir e compartilha – só possam ser utilizados com um perfil.
Há ainda alguns sortudos que conseguem usar o app sem uma conta, enquanto outros são obrigados a se inscrever.
Experiência com o TikTok
Como citado, Coluccini afirma que utilizou a plataforma por cerca de dois meses. De acordo com os dados recebidos do TikTok, nesse período, ele viu cerca de 30 vídeos por dia. Uma quantidade considerável – mesmo que abaixo da média de 184 vídeos por dia da maioria dos usuários.
O interessante é que a empresa alega que, quando não se tem uma conta, não é possível identificar os dados de utilização caso alguém solicite o detalhamento.
Inclusive, o jornalista teve seu primeiro pedido rejeitado sob a alegação que “não conseguimos localizar uma conta associada ao endereço de e-mail”.
No entanto, em sua própria política de privacidade, o TikTok afirma que “coleta certas informações suas quando você usa a plataforma, inclusive quando você está usando o aplicativo sem uma conta”. Essas “informações técnicas” que são coletadas incluem o endereço IP, operadora de celular e fuso horário.
Apesar de se recusarem a fornecer um histórico detalhado de utilização do aplicativo sem comprovar que Coluccini era de fato a pessoa que navegou pelo app, a empresa continuou a usar as informações coletadas.
Isso pôde ser comprovado com o jornalista descobrindo que o aplicativo compartilhou informações com o Facebook 595 vezes. Com isso, é possível afirmar que os dados do TikTok foram vinculados à rede social de Mark Zuckerberg.
Por fim, utilizando as “informações técnicas”, ele conseguiu acesso aos seus dados. Ele recebeu dois arquivos Excel protegidos por senha e uma chave para abri-los em um e-mail separado.
Arquivos protegidos
O primeiro documento era uma tabela com quase 1.900 linhas. Cada uma detalhando o histórico de exibição dos vídeos, um por um. O segundo era o local em que os “Dados e atividades do usuário” estavam armazenados. Aqui, o usuário se deparou com uma tabela contendo 15.886 linhas e 24 colunas.
Trata-se de 381.264 unidades de dados detalhando toda a experiência de Coluccini dentro do aplicativo, tudo nos mínimos detalhes. Apesar de não ser uma surpresa, a presença de informações, como detalhamento e hora de exibição, chocaram o jornalista.
Além disso, o documento mostrava o dispositivo usado, bem como a resolução de tela, operadora do telefone, sistema operacional e endereço IP do aparelho.
As políticas de privacidade geralmente justificam essa coleta como uma segurança maior para os usuários. As grandes empresas, por exemplo, afirmam que manter o controle de suas atividades as ajuda a encontrar e eliminar contas fraudulentas.
Há afirmações constantes de que esses dados não são usados contra os interesses dos utilizadores. No entanto, só o fato de saber que essas informações estão armazenadas em algum lugar – possivelmente vulneráveis a ataques cibernéticos – pode ser preocupante.
Mesmo assim, não é segredo que não só o TikTok, mas várias outras empresas possuem um grande banco de dados com todas as atividades do usuário. Isso levanta um questionamento importante: continuar usando as redes sociais mesmo assim ou simplesmente abandoná-las?
Vale lembrar que, mesmo com exclusões de conta, algumas companhias ainda mantém os dados armazenados. Além disso, como pudemos observar, navegar sem uma conta não garante anonimato.
Via: Vice