Um estudo divulgado na sexta-feira passada (12) documenta a primeira morte por reincidência da Covid-19 no Brasil. O óbito ocorreu em junho de 2020 e envolve um farmacêutico sergipano de 44 anos. A pesquisa foi publicada na revista especializada Journal of Infection.

Segundo o estudo, de pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) em parceira com outras oito instituições, o profissional foi diagnosticado com Covid-19 em 8 de maio de 2020. Por apresentar sintomas leves, cumpriu a quarentena e retomou a rotina.

Contudo, em 13 de junho, voltou a ter diagnóstico positivo para a Covid-19. Diferentemente da primeira vez, entretanto, a doença evoluiu rapidamente e o farmacêutico faleceu no dia 24 do mesmo mês. Com isso, o caso foi o primeiro registro de óbito por reincidência da Covid-19 no país.

A pesquisa, no entanto, não confirma se o farmacêutico foi infectado por uma mutação diferente do novo coronavírus ou se foi a mesma cepa que o atacou duas vezes. Entre as 33 ocorrências de reincidência estudadas pelo grupo, o paciente era o único a apresentar a mutação G25088T, presente no Brasil e encontrada em pacientes que morreram na Índia.

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Ilustração do coronavírus
Primeira morte por reincidência da Covid-19 no Brasil ocorreu em junho do ano passado. Foto: Andrii Vodolazhskyi/Shutterstock

Além da morte do farmacêutico sergipano, o estudo revela o verdadeiro primeiro caso de reinfecção por Covid-19 ocorrido no Brasil: o de uma técnica de enfermagem de 40 anos, em julho de 2020. Até então, a primeira ocorrência de reincidência registrada pelo ministério da Saúde era de uma médica do Rio Grande do Norte, em 23 de outubro de 2020.

Padrão e cuidados

De acordo com o estudo, ser profissional da saúde e ter sangue tipo A são fatores que aumentam as chances de reincidência da doença. Roque Pacheco de Almeida, professor da UFS e gerente de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário/Ebserh, afirma que a maioria dos casos de reinfecção aconteceu com profissionais de saúde jovens.

Mesmo após terem contraído a doença ou serem vacinados, eles ficam constantemente expostos ao vírus. Para piorar, as constantes mutações do microrganismo produzem variantes com sequências genômicas diferentes. Ou seja, o risco de uma reincidência ou de uma reinfecção pelo novo coronavírus é grande — especialmente porque os imunizantes atuais não foram feitos para lidar com as variantes.

Por esse motivo, Almeida reforça que as medidas preventivas devem ser adotadas mesmo para pessoas já com anticorpos contra a Covid-19. “A gente tem de estar protegido, mesmo se já tiver tomado a vacina ou tido a doença. O vírus está se adaptando e tudo pode acontecer até que haja um equilíbrio entre ele e os hospedeiros”, afirma.

Ainda segundo o professor, é necessário que haja uma aceleração da campanha de imunização no Brasil. “[…] se a vacinação não acontecer de forma rápida, o vírus vai se adaptando, se modificando com mutações”, diz.

Via: Folha de São Paulo