Quem disse que pinguins não voam? Se depender da Nasa, voam sim: o Linux foi o sistema operacional escolhido pela agência para o helicóptero Ingenuity, que já está em Marte e em breve irá tentar o primeiro voo na superfície de outro planeta.

A informação foi mencionada por Tim Canham, engenheiro de software da agência espacial norte-americana em entrevista à IEEE Spectrum. “Esta é a primeira vez que levamos o Linux à Marte […] Nunca usamos o Linux antes, que eu saiba. Definitivamente, não nos rovers anteriores“, disse.

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A opção pelo Linux foi resultado de outra escolha incomum: o Ingenuity é baseado no processador Snapdragon 801, da Qualcomm, um chip de 2014 equipado com 4 núcleos rodando a 2,5 GHz, que já foi usado em vários smartphones comercialmente disponíveis.

Diagrama de um processador Qualcomm Snapdragon 801, o mesmo usado no Ingenuity
Diagrama de um processador Qualcomm Snapdragon 801. Imagem: Qualcomm/Reprodução

O helicóptero não é parte da missão principal do Perseverance, mas sim uma “demonstração de tecnologia” para provar ser possível voar em Marte. Por isso, foi construído com componentes comercialmente disponíveis (“off-the-shelf”, no jargão da indústria) e de baixo custo, em vez de soluções especialmente desenvolvidas para uso no espaço.

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“Queríamos um processador poderoso e compacto para o helicóptero, e o melhor candidato era uma placa Snapdragon 801 que encontramos. Mas não existe uma versão do VxWorks para ela”, disse Canham à PC Magazine. “Certamente é uma vitória para o Linux”.

O VxWorks é um sistema operacional em tempo real para sistemas embarcados, desenvolvido pela empresa norte-americana Wind River Systems. Ele já foi usado em vários outros veículos da Nasa, inclusive rovers anteriores.

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Ingenuity durante montagem no laaboratório de propulsão a jato (JPL) da Nasa.
Ingenuity durante montagem no laaboratório de propulsão a jato (JPL) da Nasa. Imagem: Nasa/JPL

Mais especificamente, o software da Ingenuity é baseado no FPrime, “framework” Open Source desenvolvido pela própria Nasa para “possibilitar o rápido desenvolvimento e implantação de aplicações de software embarcado para o voo espacial”.

Tão potente quanto celulares Android

O uso do Snapdragon 801 torna o Ingenuity mais poderoso que o rover Perseverance em si. Isso porque o helicóptero foi projetado para operar de forma autônoma, decolando e pousando sem intervenção humana. Devido ao atraso de comunicação entre a Terra e Marte (atualmente 22 minutos para ida e volta de um sinal) seria impossível controlar o helicóptero diretamente.

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Já o Perseverance é baseado em um computador “robustecido” e preparado para operar em ambientes com altos níveis de radiação, como a superfície de Marte. O Bae Rad750 é equipado com um processador PowerPC 750 de 200 MHz, 256 MB de RAM e 2 GB de memória interna. Tão poderoso quanto um Apple Powerbook G3 “Wall Street”, de 1998, ou os primeiros iMacs “verdinhos”. O sistema operacional é o VxWorks.

Imagem da placa do BAE 750, computador que é o cérebro do Perseverance
O computador BAE 750 é o “cérebro” do Perseverance. Imagem: Artisan Technology Group/Reprodução

A tecnologia “ultrapassada” tem alguns motivos: projetos como o Perseverance levam décadas da fase de conceito até o pouso. A plataforma de hardware é uma das primeiras coisas definidas, e não pode mudar ao longo do projeto já que todo o resto, como software e sistemas, é baseado nela.

Além disso, a plataforma é muito similar à usada no rover Curiosity, que está explorando Marte há oito anos. Para a Nasa, melhor algo mais “antigo”, porém confiável, do que um produto novo em folha que nunca foi testado além da atmosfera da Terra.

Fonte: IEEE Spectrum, PC Magazine (1)

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