Atualmente, apenas 4,7% das startups brasileiras são fundadas exclusivamente por mulheres. Isso é o que aponta o estudo “Female Founders Report 2021”, realizado pela Distrito em parceria com a Endeavor e a B2Mamy. O relatório analisou os impactos da desigualdade de gênero dentro de startups brasileiras e a importância de se ter maior representatividade no ecossistema.
Quando analisadas as empresas de fundação mista, ou seja, que possuem mulheres como cofundadoras, o número um pouco maior, mas ainda ínfimo: 5,1%.
“Temos um longo caminho a percorrer até termos um ecossistema de inovação realmente mais diverso e incluso”, diz Priscila Cestarolli, analista de advocacy da Endeavor Brasil, durante apresentação realizada para apresentar os dados do levantamento.
Ainda segundo Priscila, quando o recorte estudado é de startups scale-ups, ou seja, aquelas que estão em um momento de crescimento escalonável e, portanto, possuem impacto significativo na economia, o cenário é parecido: somente 9,4% delas são fundadas exclusivamente por mulheres e 1,4% são de fundação mista.
Desigualdade de gênero: Perfil e diversidade
Não é de hoje que a participação feminina no empreendedorismo e na liderança de empresas é baixa. Nos últimos 10 anos, apesar da evolução e entrada de participantes femininas nesse cenário, o crescimento permaneceu lento.
O número de empresas com apenas fundadores homens ainda é 20 vezes maior do que as exclusivamente femininas.
Quando destrinchado ainda mais o quadro, a diversidade fica para escanteio mesmo dentro do universo feminino. “Hoje, a maioria das fundadoras ainda são brancas, heterossexuais e com alto nível de escolaridade”, afirma Priscila.
Ainda assim, quando as startups possuem uma mulher na cadeira de comando, o ecossistema já apresenta maior diversidade de gêneros. Quando há, ao menos, uma sócia, o número de homens e mulheres na composição total da empresa é de 57,4% e 42,6%, respectivamente.
Quando há, ao menos, uma mulher fundadora ou cofundadora da empresa, a distribuição se inverte, mas continua equilibrada: 46,4% homens e 54,6% de mulheres.
Os desafios enfrentados por mulheres nas startups
Tradicionalmente, escalar um negócio no Brasil já não é tarefa das mais simples. Mas o universo de startups brasileiras fundadas por mulheres enfrenta um desafio ainda maior que é a falta de investimentos.
Segundo o estudo, apenas 0,04% de todo o capital de risco investido no Brasil em 2020 foi destinado à empresas fundadas exclusivamente por mulheres. Esse, por certo, é visto como um dos principais desafios quando o assunto é crescimento da empresa.
Quando a maternidade entra no cenário analisado, os números mostram como isso ainda é uma questão que incomoda muitos investidores. Das entrevistadas, mais da metade (51,2%) das mulheres que não conseguiram obter captação de recursos para seus negócios tinham filhos. Das mulheres que conseguiram captação, 58% não tinham filhos.
“Esse dado, infelizmente, tem bastante relação com o número de mulheres que sofreram assédio moral”, complementa Priscila.
Do total de fundadoras que passaram por processos para conseguir investimentos para seus negócios, 72% sofreram algum tipo de assédio moral, tendo de responder questões como: se tem condição de conduzir o negócio (61,4%), se conhece termos técnicos básicos (45,7%), se é mãe (29,9%), se os filhos estão na faixa etária da primeira infância (23,6%) e se possui algum homem no quadro societário do negócio (14,2%).
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E quando as mulheres conseguem, de fato o investimento? O cenário continua desafiador. “O tíquete médio de investimentos captados é menor em todas as séries”, afirma Priscila.
A partir de rodadas Série C, o investimento é inexistente quando se trata de empresas exclusivamente fundadas por mulheres.
Investimentos Série C é quando o objetivo da captação é acelerar a empresa em todos os aspectos, inclusive com previsão de entrada no mercado internacional, ou mesmo de crescimento por aquisição –
“E mesmo quando há um quadro de fundação mista, os investimentos série C representam apenas 17% do valor total em comparação ao investido no ecossistema. O gap continua grande”, afirma.
Investimentos desiguais
Os números são desconexos se considerado que startups fundadas por mulheres, historicamente, garantem um retorno maior sob o investimento.
Prova disso é o estudo do Boston Consulting Group (BCG), de 2018, que mostra que apesar de empresas fundadas ou cofundadas por mulheres receber menos que a metade de investimentos voltados para startups fundadas exclusivamente por homens, o retorno em receita ao longo dos anos é inversamente proporcional.
Empresas fundadas por homens recebem um montante de investimentos quase 125% maior o aplicado a empresas fundadas ou cofundadas por mulheres – ou US$ 2,1 milhões contra US$ 935 mil.
No entanto, as startups fundadas e cofundadas por mulheres têm um desempenho melhor ao longo do tempo, gerando 10% mais receita no acumulado de cinco anos: US$ 730 mil contra US$ 662 mil gerados por empresas fundadas por homens.
Na prática, isso significa que, para cada dólar investido, empresas fundadas ou cofundadas por mulheres retorna US$ 0,78, enquanto que empresas fundadas por homens US$ 0,38.
A pesquisa “Female Founders Report 2021” foi realizada com 13 mil startups na base da Distrito e empreendedoras dessas empresas para questionamentos sobre processo de desenvolvimento e implementação do negócio.