A pandemia do novo coronavírus mudou completamente a forma como vivemos. Dos contatos sociais às formas de trabalho, tudo teve de se transformar. A necessidade de vacinação já está clara há muito tempo e as campanhas evoluem em todas as regiões ao redor do mundo.

Com o avanço da imunização, pode ser que o mundo se divida em zonas de risco. Países que não conseguirem vacinar suas populações e controlar o surgimento de variantes do novo coronavírus podem ficar isolados. O Brasil, infelizmente, está nessa lista e pode ser encarado como uma zona vermelha.

Isso porque as medidas de controle da Covid-19 não foram adotadas corretamente por aqui. Além disso, o governo federal falhou ao não negociar vacinas com antecedência. Até agora, pouco mais de 10 milhões de cidadãos receberam ao menos uma dose de vacina no país. Isso representa menos de 5% da população brasileira.

Atualmente, apenas as vacinas Coronavac, fabricada pelo Instituto Butantan, e Covishield, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estão sendo usadas na população brasileira. Por enquanto, a quantidade disponível é bem inferior à necessária para imunizar todos os indivíduos com mais de 18 anos.

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Peter Baker, vice-diretor do departamento de Saúde Global e Desenvolvimento do Imperial College London, no Reino Unido, acredita que vai haver uma divisão entre as partes do mundo vacinadas e as não vacinadas. “Se decidirmos adotar políticas com base na imunidade adquirida com a vacinação, haverá limitações a direitos, viagens e à economia de países com dificuldades de acesso a vacinas.”

Nações verdes e vermelhas

O virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, acredita que países como Israel, europeus, da Oceania e de partes da Ásia, como Singapura e Coreia do Sul, possam retomar comércio, turismo e viagens a partir do meio do ano. “Enquanto o sudeste da Ásia e a Europa serão verdes, e a Índia e parte da África serão laranjas, África do Sul, Brasil e EUA, onde há altas taxas de transmissão e vacinação insuficiente, serão zonas vermelhas”, analisa.

Um dos motivos para o Brasil entrar nessa lista é o descontrole da situação por aqui. Isso tem levado cientistas a se preocuparem com a possibilidade de o país se transformar em uma fábrica de variantes. Nesse cenário, há grandes chances de o território brasileiro ser classificado dessa forma, oficial ou informalmente.

Para Tang, as nações verdes podem manter restrições de voos para regiões que não vacinaram adequadamente suas populações. E, mesmo que isso não ocorra, o isolamento será natural diante dos riscos potenciais, como forma de conter o espalhamento de variantes para além desses territórios. “É possível que as pessoas não se disponham a viajar para o Brasil, por exemplo, porque o vírus não está sendo controlado com a vacinação e, por isso, podem surgir cepas resistentes.”

Vacinação deve ser global

Segundo o pesquisador Charlie Whittaker, do Imperial College London, o mundo só estará totalmente protegido da Covid-19 quando todas as populações estiverem imunizadas. “Ninguém está seguro enquanto todos não estiverem seguros”, avalia.

Whittaker lembra que para garantir isso, é preciso limitar a possibilidade de surgimento de variantes. “Medidas de controle são úteis, mas talvez mais importante ainda seja garantir uma estratégia global equitativa de vacinação. Ou seja, nenhum país deve ser deixado para trás.”

Muito mais do que o Brasil – e outros países – ser classificado como zona vermelha, é o surgimento de variantes que preocupa a todos. Baker destaca que se o vírus continuar descontrolado, os custos humanos e financeiros devem atingir todas as nações.

Com novas cepas, será necessário desenvolver novas fórmulas e aplicá-las como reforço em indivíduos já imunizados. “Se uma variante fortemente resistente às vacinas aparecer, teremos de ajustar as substâncias, e refazer pesquisas e os processos de regulação”, diz.

Parte da dificuldade de conseguir vacinas está diretamente relacionada ao fato de países ricos terem comprado grandes lotes e deixado muitas nações sem acesso a elas. “As variantes do Brasil, do Reino Unido e da África do Sul mostram que o vírus não respeita barreiras”, lembra Whittaker.

Via: Folha de S.Paulo