No final de fevereiro, a Motorola trouxe para o Brasil o celular gamer Lenovo Legion Phone Duel. Ele custa R$ 7.199 e traz funções que prometem ajudar os jogadores durante as partidas. Apresentado oficialmente em julho de 2020, ele ainda tem poucos competidores no mercado e espera atrair especificamente esse público mais exigente.

O Olhar Digital testou o Legion Phone nas últimas semanas e, de cara, podemos afirmar que ele é um celular feito para quem joga a sério. Mas, também, que ele tem suas ressalvas que vão além do preço.

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Design

O Lenovo Legion Phone Duel tem cores vibrantes, como a vermelha que testamos, e linhas na traseira, que é em vidro, em formato de ‘X’. Isso, claro, além dos LEDs posicionados no logo em ‘Y’ e no nome da marca.

A Motorola diz que o celular foi construído para ser usado principalmente na horizontal e sua estrutura traz engenharias que confirmam isso. A primeira é na câmera frontal, que está posicionada na lateral direita e é retrátil. Ou seja: quando acionada, um mecanismo pop-up mostra a câmera; quando o uso é terminado, ela volta para o corpo do dispositivo.

Estética do celular gamer da Motorola lembra os notebooks da linha Lenovo Legion. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

Esse recurso já foi explorado por outras fabricantes, mas quase sempre no topo dos celulares. A durabilidade desse sistema de câmera também pode ser um ponto de preocupação, embora somente um uso muito mais prolongado possa trazer resultados mais claros.

Ainda na lateral direita do dispositivo, existem dois botões sensíveis à pressão que funcionam como gatilhos, como em joysticks. Outra diferença dele para celulares “convencionais” é o fato de contar com duas portas USB-C: uma na parte inferior, outra no lado esquerdo. Isso permite ao jogador carregar o celular e segurá-lo de uma forma mais confortável enquanto joga.

Tudo isso traz praticidade, mas não para ser usado “apenas” como um celular, já que ele quase não cabe no bolso de uma calça e chama muita atenção. O celular pesa quase 240 gramas e é maior, mais espesso e mais largo do que o iPhone 12 Pro Max ou o Galaxy S21 Ultra. Usar ele com uma das mãos pode ser desconfortável, o que é negativo do ponto de vista de usabilidade, mas algo mais confiável para quem joga segurando ele com as duas.

A traseira do Lenovo Legion Phone Duel possui mais aderência nos cantos, em áreas texturizadas que ajudam na ergonomia. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

A usabilidade também pode ser incômoda tanto pelo tamanho, quanto pela posição da câmera frontal. Mas isso é algo passível de costume: essa sensação passou depois da primeira semana de testes.

Já as câmeras traseiras dele estão localizadas no centro, então a posição natural de segurá-lo pode fazer com que os dedos sempre esbarrem nas lentes. A solução para isso, claro, é (quase) sempre limpar as lentes antes de fazer fotos. Também vale considerar que ele possui apenas proteção contra respingos d’água.

Tela e som

A tela do Legion Phone tem 6,65 polegadas de tamanho, tecnologia AMOLED e resolução Full HD+ (2340 x 1080p). A vantagem em relação às telas convencionais é que o jogador pode escolher a taxa de atualização de 60 Hz até 144 Hz. Mas é possível optar pela taxa adaptativa, o que economiza bateria ao elevar o padrão apenas em jogos compatíveis.

Ela tem cores vívidas, brilho alto com pico de 800 nits, alta taxa de contraste e reproduz imagens com bom nível de detalhes. É o que podemos esperar de uma tela high-end para um celular gamer. E ela também não possui nenhum tipo de distração, como recortes, mas possui bordas mais espessas do que os celulares recentes nas extremidades.

Isso pode parecer ultrapassado, mas ajuda a segurar o celular com mais firmeza. Ele também traz duas saídas de som com qualidade bastante respeitável, o que torna os jogos e o consumo multimídia mais imersivos. Essas saídas, sem exagero, podem até se comparar a caixinhas de som pequenas. Elas possuem amplitude, graves fortes e som limpo em volumes altos, mas no volume máximo apresentam pequenos ruídos.

Outro item que ajuda nessa experiência são os dois motores de vibração que dão uma resposta tátil: principalmente com jogos de ação, a funcionalidade é bem perceptível.

Saídas de som do Legion Phone são melhores e mais potentes do que a grande maioria dos celulares mais caros da atualidade. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

Em relação aos jogos, a vantagem teórica que o Legion Phone Duel oferece pode ser interessante. Ele possui taxa de amostragem de toque de 240 Hz, que responde mais rapidamente aos toques na superfície. Combinada com a taxa de atualização mais rápida, o jogador pode reagir com mais facilidade em um momento de ação, por exemplo, além de enxergar o conteúdo de uma forma mais suave.

E esse é o melhor uso, atualmente, para uma tela com ficha técnica desse nível. Na interface geral e em outros aplicativos tudo isso também agrada, mas não chega a ser necessário. Em outras palavras, ainda com 60 Hz ou 90 Hz para navegação comum, o celular corresponde bem às expectativas com uma visualização e tamanho confortáveis.

Mas também vale observar que há um leitor de impressões digitais sob essa tela. Ele fica bem próximo da borda inferior do celular, o que não foi muito fácil de acostumar. Há ainda o fato de que somente posicionar o dedo sobre ele não inicia a leitura, apenas quando a tela está ativa ou no modo ‘always-on’ (sempre ativa). Em comparação com outros celulares da mesma faixa de preço, o sensor do Legion Phone também é um pouco mais lento.

Desempenho e software

No começo deste review, lembramos que o Legion Phone Duel foi apresentado no exterior no meio do ano passado. Ele traz o chipset Snapdragon 865 Plus, anunciado pela Qualcomm em junho de 2020. O chip tem oito núcleos, GPU Adreno 650 e clock máximo de 3,1 GHz. Ainda que seja do último ano, ele oferece um ótimo desempenho com jogos.

Nesse modelo do Legion Phone, nós ainda temos 12 GB de RAM e 256 GB de armazenamento. Todo esse conjunto faz do celular uma espécie de “lugar apropriado” para os games. Além de espaço suficiente para armazenar uma boa quantidade de títulos, praticamente todos os jogos disponíveis funcionarão nas melhores configurações.

No lado do software, temos o Android 10 com a interface ZUI, da própria Lenovo. Ela apresenta duas estéticas na configuração inicial: uma simples e outra gamer, mais exagerada, que combina com o visual do dispositivo.

A parte bacana disso são os recursos extras. No Legion Realm, uma espécie de “central do gamer”, é possível ativar recursos específicos para jogos. Ele reúne todos os jogos instalados no celular, e o usuário também pode adicioná-los manualmente. Ainda no gerenciador, o usuário pode:

  • Configurar a pressão dos gatilhos e gravações de replay ou de tela
  • Determinar efeitos de iluminação da traseira
  • Ativar ou desativar o som estéreo com jogos
  • Ajustar a taxa de atualização da tela
  • Escolher modos de jogo que prometem melhorar o desempenho, ou de economia de energia
  • Iniciar uma transmissão para o YouTube ou Twitch usando a câmera frontal
Gatilhos sensíveis à pressão do Legion Phone trazem ajuste de força nas configurações. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

Entre esses recursos, há o “modo periférico” para conectar mouse e teclado (para jogos ou para usar em outros apps) ao celular. Há até o modo ‘Rampage’, no qual a frequência da CPU é elevada ao máximo – a diferença para a grande maioria dos jogos, em relação ao modo tradicional do celular, não foi perceptível.

O problema, entretanto, é que o Android 11, que foi lançado em 2020, será a única atualização de sistema operacional do Legion Phone. Ainda segundo a Motorola, o dispositivo terá apenas dois anos de atualizações de segurança, que deverão ser disponibilizadas a cada três meses. Rivais como a Samsung ultrapassaram a Motorola nesse quesito, tendo em vista que a sul-coreana agora oferece quatro anos de atualizações de segurança para celulares.

Jogos e mais jogos

O principal foco do Legion Phone são os jogos. Ou, neste caso, oferecer uma experiência acima da média para os jogadores. Nos títulos que testamos, pudemos aproveitar recursos como a taxa de atualização mais rápida e a vibração aprimorada (disponível apenas em “Real Racing 3” e “PUBG Mobile”, até então). Essa foi a média de taxa de quadros por segundo com alguns títulos que testamos, todos com configuração máxima nos gráficos:

  • “Fortnite”: 30 FPS
  • “Real Racing”: 140+ FPS
  • “Genshin Impact”: 30 FPS
  • “PUBG”: 40 FPS
  • “Asphalt 9”: 60 FPS
  • “Free Fire”: 30 FPS
  • “Mortal Kombat”: 140+ FPS

A Motorola destaca que o Legion Phone possui refrigeração líquida dupla, que consiste em dois tubos de cobre equipados no hardware. Ele também traz mais uma película de cobre no interior, além de duas camadas de grafite. No fim das contas, isso deve mesmo aliviar a temperatura do celular, mas ele ainda pode esquentar e causar um leve incômodo nas mãos.

Durante os jogos, pressionar os botões de energia e volume para cima inicia uma gravação de tela. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

Em “Call of Duty: Mobile”, o celular registrou um pico de 39º após uma hora jogando. Em “Genshin Impact”, ele atingiu 42º após o mesmo período, enquanto o máximo que vimos foram os 44º em “Asphalt 9”. Essa mesma temperatura foi atingida enquanto o celular carregava a bateria e era usado para jogar. Mesmo com o aumento de temperatura, o desempenho do Legion Phone com os jogos não foi afetado.

Bateria

A bateria do celular gamer da Motorola tem 5.000 mAh de capacidade no total, mas é dividida em dois módulos de 2.500 mAh cada. Como existem duas portas USB-C, ele pode ser carregado com dois adaptadores ao mesmo tempo. O que vem na caixa no modelo nacional possui 45 watts de potência, mas o celular suporta até 90 W com o uso combinado.

Segundo a Motorola, esse recurso permite carregar o celular por completo em apenas 30 minutos. Nos nossos testes, usando o carregador oficial do Legion Phone e outro de 61 W, o tempo total de carregamento foi de 57 minutos. Confira mais detalhes sobre o tempo de carregamento:

  • 5 minutos: 18%
  • 10 minutos: 33%
  • 15 minutos: 46%
  • 20 minutos: 60%
  • 30 minutos: 77%
  • 50 minutos: 95%
  • Carregamento completo: 57 minutos

Usando somente o carregador de 45 W, o tempo total de carregamento (de 0% a 100%) foi de uma hora – 68% em 30 minutos, 80% em 45 minutos. Apesar da recarga ultrarrápida ser um ponto bem positivo, o tempo de descarga não fica muito à frente de outros modelos.

Carregador do Lenovo Legion Phone Duel brasileiro possui 45 W de potência. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

Em uso moderado (o que inclui assistir vídeos e ouvir músicas por streaming, acessar redes sociais e apps mensageiros, e-mail e apps de produtividade), tivemos uma média de 7h de tela ligada por dia. Já com os games a descarga foi mais variada. Em “Genshin Impact”, a média de descarga a cada 30 minutos foi de -16%; em “Asphalt 9”, ela foi de -14%; já em “Call of Duty: Mobile”, ficou nos -10%.

Esses números, por outro lado, refletem apenas uma média. A velocidade de descarga pode variar por diversos fatores, como a qualidade da conexão em games online, brilho e taxa de atualização da tela; se o jogador estiver usando fones Bluetooth e afins. Assistindo filmes na Netflix com o brilho máximo de tela, por exemplo, a descarga média por hora foi de -13%.

Para prolongar a vida útil da bateria ao longo do dia, o ideal seria usá-lo com brilho adaptativo, taxa de 60 Hz ou 90 Hz e “fugir” de jogos. Mas esse não é o propósito do Legion Phone, então nós usamos ele com 144 Hz em praticamente todos os dias de testes.

Câmeras na média

O conjunto total de câmeras do Legion Phone possui três sensores: 64 MP e 16 MP (grande angular) na traseira, e o frontal possui 20 MP. O celular possui zoom digital de 2x, pode gravar vídeos em 4K (30 fps) e traz recursos como o modo noturno. Mas, como a própria Motorola cita, câmeras não são o foco do dispositivo.

Começando pela frontal, vale muito a pena desativar os filtros de embelezamento que estão ativados por padrão. Eles “limpam” a pele até demais, aumentam os olhos, esticam o rosto. Com isso desativado, as fotos têm boa definição, contraste e cores sólidas. Não há o mesmo nível de detalhes de fotos capturadas com outros tops de linha, mas ele faz fotos boas.

Selfies com modo automático do Legion Phone possuem muitos filtros. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital
O modo retrato pode se confundir com outros objetos que tenham as mesmas cores do que estiver em primeiro plano. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

O lado bom é que os quatro microfones do celular estão muito bem posicionados. Então, ainda que o usuário esteja jogando e segurando o dispositivo com as duas mãos, é mais difícil obstruir o som. E a qualidade das gravações, especialmente em lugares internos, é muito boa.

Já nas câmeras traseiras, o usuário também terá um celular com boas características, mas nada impressionante quanto o desempenho ou a tela, por exemplo. Ele possui três configurações rápidas: lente principal, zoom digital de 2x e a lente de ângulo aberto.

Imagem capturada com a câmera principal do Lenovo Legion Phone Duel. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital
Imagem capturada com a câmera de ângulo aberto do Lenovo Legion. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

Considerando o fato de que ele não é um celular para fotografias, o resultado das imagens do Legion Phone é bom. As fotos possuem tons naturais, boa definição e conseguem registrar detalhes distantes, ainda que com certa suavização. Tanto na lente principal quanto na de ângulo aberto, elas normalmente ficam com baixo ruído.

Fotos noturnas, por outro lado, acabam não se destacando no Legion Phone. Mesmo com o modo noturno, o celular tende a perder nitidez. Imagem: Wellington Arruda/Olhar Digital

Vale a pena?

A indústria de jogos tem sido muito generosa com o setor mobile nos últimos anos. Somente em dezembro de 2020, segundo dados da Sensor Tower, o jogo “Honor of Kings” gerou US$ 258 milhões em gastos de jogadores. No mesmo período, “PUBG Mobile” registrou US$ 177 milhões em receita bruta.

Isso significa que o mercado tem espaço para crescimento. Mas, também, devemos observar que existem vários outros celulares tão caros quanto ele com ótimo desempenho para jogar – vide Galaxy S21, iPhone 12 – e melhores em vários outros pontos. Da mesma forma, existem celulares bem mais baratos e que oferecem boa experiência com jogos.

É nisso que o Legion Phone tenta se destacar: ele traz recursos extras como os gatilhos, alto-falantes mais potentes, bons microfones para conversar enquanto joga, uma ótima tela e design bem diferente.

O celular também é compatível com redes móveis 5G (N78), mas não com o padrão DSS que vem sendo utilizado no Brasil.

Já o software não apresentou problemas, mas nos deparamos com bugs. Os LEDs da traseira, por exemplo, podem continuar acesos mesmo se nenhum jogo estiver rodando em primeiro plano. Nesse caso, somente fechando todos os possíveis jogos abertos na multitarefa para ele apagar as luzes. Mas o mais preocupante é o baixíssimo período de atualizações para um celular de R$ 7.199.

Ainda assim, o Legion Phone Duel é um celular muito bom para quem busca poder de sobra, especialmente, para jogar diretamente do celular com melhor performance.

Ficha técnica Lenovo Legion Phone Duel

  • Tela: 6,65″ AMOLED Full HD+ (2340 x 1080p, 19,5:9) com taxa de atualização de até 144 Hz
  • Chipset: Qualcomm Snapdragon 865 Plus octa-core (3,09 GHz)
  • GPU: Adreno 650
  • RAM: 12 GB
  • Armazenamento: 256 GB, sem entrada para cartão microSD
  • Sistema Operacional: Android 10
  • Bateria: 5.000 mAh no total (duas baterias de 2.500 mAh), com carregamento rápido de 90 W (o carregador traz 45 W de potência)
  • Câmeras: 64 MP (f/1.9, 80º) + 16 MP (f/2.2, 120º) + 20 MP (f/2.2, 80º) na frontal; possui zoom óptico de 2x e pode gravar em 4K com 30 fps
  • Conectividade: 5G (N78), Wi-Fi 802.11 ax, Bluetooth 5.0, NFC
  • Dimensões e peso: 169,2 x 78,5 x 9,9 mm, e 239 gramas