O Brasil vai para seu quarto ministro da saúde desde o começo da pandemia. Até o momento, a vacinação segue em ritmo bem mais lento do que o recomendável e o número de mortes aumentando de forma gradativa. Nesse cenário, fica a dúvida de quando cada brasileiro vai tomar a vacina contra Covid-19.

O Governo Federal prevê que o país tem no papel, entre doses encomendadas e outras que devem ser produzias no Butantan e na Fiocruz, cerca de 500 milhões de vacinas. Pela quantidade, daria para imunizar tranquilamente toda a população no país. Mas o número real de doses disponíveis é bem menor que isso.

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Na realidade, muitas das doses compradas não tem previsão de quando serão entregues e mesmo para produzir aqui são necessários insumos de fora até que as fábricas estejam em condições de fazer os farmacêuticos de maneira independente.

De acordo com o governador de São Paulo, João Doria, a fábrica do Instituto Butantan para produzir a vacina sem depender de fatores externos deve ficar pronta no fim de outubro de 2021, mas a expectativa é começar a fabricação, de fato, em janeiro de 2022.

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“Nós temos aí dezenas de funcionários trabalhando em jornadas de dez horas por dia para colocar a fábrica em conclusão até o mês de outubro. Em outubro, novembro, e dezembro, as instalações dos equipamentos serão feitas e ainda em dezembro deste ano termos a primeira dose da vacina do Butantan 100% produzida no Brasil. E a partir de janeiro, em escala evolutiva, para a produção industrial da vacina”, explicou Doria em coletiva de imprensa no final de fevereiro.

A Fiocruz previa produzir em média 20 milhões de doses a partir de abril, mas esse cronograma deve mudar já que as entregas de março foram atrasadas justamente pela demora da chegada dos insumos. O laboratório também tem acordo para importar tecnologia e produzir os imunizantes aqui desde o zero no segundo semestre deste ano.

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Dado o cenário, é difícil crer que a estimativa dada por Pazuello, na quarta-feira (17) da semana passada, se cumpra. Durante o evento de entrega das doses da Fiocruz ao Plano Nacional de Imunizações (PNI), o então ministro da saúde voltou a afirmar que toda a população seria vacinada até dezembro e que metade receberia o imunizante em julho. Em fevereiro, ele já havia afirmado que “vacinaremos 100% da população até dezembro”.

Apesar do otimismo, Pazuello também afirma que deve ter atraso na entrega de algumas doses. “Espero ter sido claro e bem transparente sobre um cronograma previsto. Porque é impressionante quando você apresenta um cronograma previsto e as pessoas perguntam: o cronograma está alterando. O cronograma é para ser alterado, quando a farmacêutica não entrega, a linha de produção para, quando acontece qualquer dificuldade na legalização das doses”, comentou o general.

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O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, durante cerimônia para sanção dos projetos de lei que ampliam a aquisição de vacinas pelo Governo Federal.

O governo recentemente fechou acordos com a Janssen, que prevê a entrega de 30 milhões de doses até o fim do ano, mas sem uma data específica, e com a Pfizer, que também segue em situação parecida. A diretora médica da empresa no país, Márjori Dulcine, disse para a CNN Brasil que espera que até junho a farmacêutica consiga distribuir imunizastes no Brasil, mas não deu uma quantidade certa.

Há ainda as 37 milhões de doses encomendadas da russa Spuinik V pelo consórcio de governadores do Nordeste, que devem ser repassadas para o governo federal. Mas essas ainda não foram aprovadas pela Anvisa, não tem previsão e não entram no cronograma.

Nesta quarta-feira (24), um ano após o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro anunciou um comitê em parceria com o Congresso para definir medidas de combate ao vírus. Na ocasião, Bolsonaro citou novamente o tratamento precoce, que não tem eficácia cientifica comprovada. “Tratamos também de possiblidade de tratamento precoce. Isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e o dever do médico off-label tratar os infectados”, falou o presidente.

Quando os brasileiros devem tomar a vacina contra Covid-19?

A Universidade de Juiz de Fora elaborou um estudo e simulou diferentes cenários para vacinação no Brasil. De acordo com a pesquisa, o ideal, para controlar a pandemia, seria vacinar 2 milhões de pessoas por dia durante um ano. Com base na taxa atual de vacinação, levaria mais de dois nos para vacinar 70% dos brasileiros.

Segundo o estudo, com uma taxa de vacinação de 100 mil pessoas por dia, a doença não seria totalmente controlada após o intervalo de tempo de 365 dias, independentemente da eficácia da vacina.

“Para salvar essas vidas temos que conseguir atingir a meta de vacinação de cerca de 100 milhões de brasileiros até o final do mês de maio, início de junho. Quanto mais postergarmos essa data, mais vidas serão perdidas e menor será o impacto da vacina no número de óbitos ao longo do ano”, disse Rodrigo Weber, um dos autores do estudo.

Plano Nacional de Imunizações

Dito isso, o Plano Nacional de Imunizações divide a população em grupos. A ideia é que os prioritários recebam o imunizante primeiro. São eles idosos, quilombolas, índios, profissionais de saúde, professores, agentes de segurança, caminhoneiros e adultos de 18 a 59 anos com comorbidades, esse último grupo é o maior e mais difícil de vacinar. No total, essas pessoas são hoje cerca de 77,3 milhões.

A intenção inicial era vacinar todos esses grupos ainda no primeiro semestre de 2020, mas isso dificilmente vai ser possível. Apenas em São Paulo, por exemplo, levou um mês para vacinar apenas os idosos de 70 a 79 anos.

Atualmente a perspectiva é de a vacinação prioritária vá, pelo menos, até setembro. No segundo semestre, com mais opções de vacinas, seria possível ultrapassar a marca de 1 milhão de vacinados por dia e aí a imunização começaria a andar com maior velocidade.

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Seguindo essa ideia, a vacinação de adultos com idade entre 18 e 55 anos sem comorbidades começaria no final deste ano, após setembro, e se estenderia por todo o primeiro semestre de 2022. Ainda não está claro pelo PNI como esse grupo ira tomar a vacina contra Covid-19, mas é seguro supor que haja mais divisões por idade.

Por último sobrariam as crianças e adolescentes com menos de 18 anos. Esse caso é complicado pois os testes nessa faixa etária ainda estão em andamento. Caso as vacinas se mostrem seguras nesse grupo, a vacinação poderia ocorrer no fim do primeiro semestre do ano que vem. Mas todas essas previsões se baseiam no PNI e consideram um aumento exponencial na taxa de vacinação diária no Brasil.

Via BBC Brasil

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