Em meio a polêmicas sobre a situação de trabalho dos seus entregadores, a irlandesa Deliveroo estreiou na Bolsa de Valores de Londres (LSE) nesta quarta-feira (31). E, ao contrário do esperado, foi um fiasco.

As ações do aplicativo de delivery de comida despencaram 30% já na primeira hora após o IPO (oferta pública inicial, em tradução).

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Pouco tempo depois, o valor atingiu uma queda um pouco menos dramática, mas ainda assim menor do que o estimado: 21%, chegando a custar £ 3,08 (cerca de US$ 4,24 na cotação atual). O preço previsto para o IPO era de £ 3,90 (ou US$ 5,37).

Deliveroo
De queridinha do momento ao fiasco, a startup irlandesa Deliveroo não apresentou bons resultados em seu IPO. Crédito: Reprodução Deliveroo/Twitter

Do topo à queda

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Avaliada inicialmente em £ 8,8 bilhões (US$ 12,1 bilhões), a Deliveroo conseguiu, no entanto, £ 7,6 bilhões de libras (US$ 10,5 bilhões) em valor de mercado.

Até então, a startup estava cotada para ser a maior abertura de capital do Reino Unido desde 2011.

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Cofundada em 2013 pelo empresário e atual CEO, Will Shu, o Deliveroo possui 100 mil entregadores cadastrados na plataforma, 2 mil colaboradores e opera em 800 cidades em 12 países no mundo. De acordo com a empresa, eles registraram um crescimento na receita de mais de 650% ano a ano, desde quando inauguraram o serviço.

Em 2019, o app de delivery registou 72% de aumento em sua receita, ou o total de £ 476 milhões. Ao mesmo tempo, a empresa também registrou prejuízo de 16,6%, à medida que injetava mais dinheiro para abrir mais operações em mercados distintos.

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Riscos aos investidores?

Analistas de mercado acreditam que um dos principais motivos para a queda foram as recentes polêmicas que envolveram a empresa com relação à precarização das condições de trabalho de entregadores – algo inerente à chamada gig economy e que também já foi ponto levantado para o mercado brasileiro com aplicativos de atuação nacional como Uber, Rappi e iFood.

Os entregadores, inclusive, se preparam para um protesto programado para 7 de abril – mesmo dia em que a empresa abrirá a compra de ações ao público geral.

O protesto será encabeçado pelo sindicato britânico de trabalhadores autônomos (IWGB), que aponta que entregadores recebem cerca de £ 2 por hora. Além do baixo salário, o protesto também tem a ver com “preocupações de saúde e segurança, incluindo, mas não se limitando a, proteções COVID-19 deficientes”, afirma o sindicato, em nota.

“A crise da Covid-19 trouxe à tona questões significativas enfrentadas por entregadores da Deliveroo, incluindo baixo valor em pagamentos, trabalho precário, preocupações com a segurança e descontentamento”, afirma um relatório de apresentação para investidores, com análise feita pelo IWGB, em parceria com a ShareAction, uma instituição que promove o investimento responsável, e a The Private Equity Stakeholder Project, uma organização que trabalha em prol de profissionais que são impactados por investimentos de fundos privados.

No documento, as organizações afirmam, ainda, que as preocupações “contribuem para uma série de importantes riscos, tanto para a empresa quanto para os investidores, de forma mais significativa em termos de litígio, mas também incluindo riscos à reputação e financeiros”.

A luta também está em andamento em tribunais do Reino Unido, com intuito de fechar um acordo coletivo em prol desses entregadores.

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Outro ponto considerado como risco à aposta é que o aplicativo de delivery não teria apresentado critérios ESG (social, ambiental e de governança) em seu relatório para apresentação ao mercado de ações.

Esse tema está em voga nos últimos tempos e não ter uma visão no longo prazo sobre como lidar com essas questões pode ter desfavorecido e representado um peso grande para o resultado final do IPO da empresa.

Via: Correio Braziliense, IWGB, Wired.