Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) realizaram uma análise em escolas de todo o território nacional a respeito da incorporação da linguagem digital em sala de aula. Memes, GIFs, lives, stories, vídeos e outras expressões narrativas da internet já são considerados essenciais por estudantes e profissionais da educação para os processos de aprendizagem nas escolas.
Entre os anos de 2017 e 2020, foram entrevistados alunos e professores de escolas públicas e particulares dos ensinos fundamental e médio. O grupo de pesquisa da Mediações Educomunicativas (Mecom) e da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da universidade tinham como proposta compreender como o conhecimento acadêmico estava se relacionando com as novas formas de organizar, produzir e distribuir conhecimento.
Adilson Citelli, coordenador da pesquisa e professor da ECA, acredita que “o isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus e o consequente afastamento físico das escolas de alunos e professores reforçaram a importância de se repensar a circulação e recepção do conhecimento e certas estratégias de ensino, inclusive com maior presença do ensino remoto”.
Participaram da pesquisa 509 professores e 3.708 estudantes, sendo 57% do ensino fundamental, 40% do ensino médio e 47 alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Vinte e três das 26 unidades federativas fizeram parte do projeto, que contou com mais representantes na região Sudeste (36%), seguida pelo Sul (33%), Nordeste (20%), Centro-Oeste (5%) e Norte (1%).
De acordo com Citelli, embora os alunos brasileiros vivam em situações diferentes, em consequência das desiguais condições de existência, de origens sociais variadas, de experiências culturais múltiplas e circunstâncias econômicas distintas, o acionamento dos dispositivos tecnológicos nas escolas é um fato a ser igualmente considerado nos processos educativos formais.
Antes vilão nas salas de aula, celular pode ser útil
Segundo o relatório da pesquisa, 76% dos professores entrevistados consideram haver espaço até mesmo para inserir o celular em sala de aula para fins pedagógicos. Ou seja, para esses profissionais, é possível fazer um bom uso do aparelho, desde que os estudantes sejam orientados e acompanhados em suas consultas. Em torno de 60% dos professores disseram que já utilizavam conteúdos veiculados pela internet em sala de aula.
Em relação aos veículos utilizados para navegar pela internet em busca de conteúdos didáticos, portais de informação foram apontados por 67% dos professores. O Facebook foi citado por 33,4% e o WhatsApp por 21,8% deles. Já o Twitter, foi mencionado por 5% dos profissionais entrevistados.
Perfil dos estudantes analisados
Sobre os estudantes entrevistados, a maior parte deles tinha entre 11 e 17 anos. Cursavam o 9º ano do ensino fundamental II 19% deles, e o 8º ano, 17%. Alunos do 1º ano do ensino médio eram 15% dos entrevistados. A maior concentração era de escolas públicas (estadual, 50%, municipal, 41%, federal, 2%). Estudantes de escolas particulares eram apenas 5% deles.
De acordo com o relatório, os jovens tinham estreita e contínua relação com as mídias digitais. Quando questionados sobre as formas de interação e os meios preferidos para acessar os conteúdos da internet, a maioria apontou o YouTube. A plataforma de compartilhamento de vídeos foi indicada por 76% dos estudantes, seguida pelo Whatsapp, com 69% das citações, e do Facebook, com 65%.
Em relação aos mecanismos utilizados para acessar a web, o smartphone foi citado por 86% dos alunos. Os veículos de comunicação tradicionais foram desconsiderados pelos jovens. Cerca de 60% deles não têm o hábito de ler jornais e revistas impressas e não reconhecem a TV aberta como melhor meio para ver seus programas favoritos.
Estrutura desfavorável em grande parte das escolas
Nem todas as unidades escolares possuem estrutura adequada para que os professores possam desenvolver suas aulas fazendo uso de recursos tecnológicos. Quantidade de equipamentos insuficientes e/ou em más condições de uso, ausência de acesso à internet e programas ultrapassados foram os principais problemas apontados na pesquisa. Em muitas das escolas analisadas, os computadores estavam alocados na área administrativa.
Leia mais:
- TCU teme que disputa de frequência com satélites atrase a implementação do 5G no Brasil
- 2021 será o ano dos smartphones 5G
- Chip ‘M2’ da Apple deve entrar em produção no segundo semestre, indica rumor
O relatório está passando por ajustes editoriais para que possa ser produzido em formato de livro. A edição será feita pela Editus, da Universidade Estadual de Santa Cruz, da Bahia. Parte do material recolhido pela pesquisa vem sendo publicada em artigos acadêmicos e apresentada em congressos.
Para ter acesso ao conteúdo integral do relatório, clique neste link. A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Fonte: Jornal da USP