O Tyranossaurus Rex (ou “tiranossauro”, para os puristas da tradução dos nomes dos dinossauros) tinha a mordida mais poderosa já registrada em qualquer animal – extinto ou não: algo acima de sete toneladas – o suficiente para partir ao meio um elefante adulto ou um carro, segundo alguns especialistas.

Estudos recentes publicados pela Universidade do Missouri, porém, teorizam que toda essa força na mordida do tiranossauro vinha de uma articulação relativamente pequena, localizada na mandíbula inferior do “lagarto tirano rei”. Os cientistas responsáveis apelidaram o osso de “articulação intramandibular”.

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Entender o funcionamento da articulação requer um pouco de contexto: alguns mamíferos não-humanos, pássaros e répteis de pequeno porte conectam as partes superior e inferior da mandíbula por meio de ligamentos, não muito diferente do que se vê em joelhos, pulsos e tornozelos, por exemplo. No caso do tiranossauro, essa conexão era feita pela articulação intramandibular – puramente óssea.

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Segundo o autor do estudo, o paleontólogo John Fortner, foi criado um modelo 3D do crânio de um tiranossauro, mas com um pequeno conector ósseo no formato de um bumerangue. Esse osso podia ser removido ou incluído conforme a demanda da equipe, que concluiu que, sem ele (ou seja, simulando uma movimentação por ligamentos), a força da mordida do tiranossauro caía consideravelmente. Já com o conector “plugado”, ela aumentava para um valor próximo dos níveis que conhecemos.

“Com ligamentos, o estresse da mordida não era eficientemente transferido de um lado da mandíbula para outro”, disse Fortner ao Science News. “A mandíbula ficava muito flexível para gerar forças grandiosas. Mas com os pedaços da articulação intramandibular conectados – o que simulava um crânio intacto – o estresse da mordida era transferido de um lado a outro do osso sem problemas”.

Imagem mostra simulações em 3D da mandíbula de um tiranossauro. A mordida do extinto dinossauro é, até hoje, a mais poderosa da história
Simulação em 3D mostrando modelo de mandíbulas de um tiranossauro: o baseado em ligamento (acima) traz maior estresse aos dentes, enquanto o baseado em ossos (abaixo) distribui o impacto e preserva o conjunto. Imagem: John Fortner/Universidade do Missouri

Trocando em miúdos: uma mordida forte com a mandíbula com ligamentos até poderia ser possível, mas poderia machucar o crânio e os dentes do tiranossauro. Com o osso no lugar, porém, havia uma distribuição melhor do impacto, preservando a integridade de todo o conjunto sem sacrificar a força.

Não é muito diferente, por exemplo, do que se vê hoje com répteis maiores: a ciência mostra que tartarugas mordedoras, jacarés e crocodilos, por exemplo, contam com um conjunto craniano bastante rígido. Não por menos, esses animais são conhecidos pela sua “bocada” poderosa. No mundo atual, inclusive, o crocodilo de água salgada é o maior “mordedor” do reino animal – quase 1,7 tonelada por “dentada”.

A suposição é consistente com descobertas feitas ao longo dos anos: fezes fossilizadas de tiranossauros continham restos de ossos, o que sugere uma mordida capaz de parti-los – algo difícil de ser feito com uma mandíbula enfraquecida.

Entretanto, com os “prós”, também vinham os “contras”: um conjunto ósseo impedia que o animal tivesse uma abertura maior da mandíbula, e a “pegada” também era um pouco mais solta. Comparando com animais atuais, é como comparar a mordida do jacaré e da cobra: o primeiro é mais forte e pode partir membros no impacto, mas o segundo é mais firme e fixo, não desmembra nem corta, mas é mais difícil de desgarrar.

Não que isso faça muita diferença em um animal do tamanho do tiranossauro: com um metro e meio (1,5m) de cabeça, sendo 1,2m só de mandíbula, ele não tinha muitas preocupações em relação ao tamanho de suas presas.

Montagem mostra o crocodilo de água salgada e a tartaruga mordedora lado a lado
O crocodilo de água salgada e a tartaruga mordedora são dois animais cujas mordidas tem valor de impacto bem alto – o crocodilo pode até partir membros. Imagem: Bernard DUPONT/Flickr/National Geographic

As descobertas de Fortner e sua equipe são “potencialmente interessantes”, disse Lawrence Witmer, um paleontólogo da Universidade de Ohio que não é ligado ao estudo. “O [osso] pré articular não é particularmente grande, mas poderia estar envolvido na mordida”.

Outro especialista, Thomas Holtz Jr. (Universidade de Maryland – também sem envolvimento no estudo) concorda: “a mandíbula do tiranossauro é um arranjo complicado de vários ossos, mas a articulação intramandibular aparentemente trava todo o sistema no mesmo lugar. Essas simulações oferecem um benefício demonstrável”.

Até hoje, fósseis escavados do tiranossauro não revelaram a presença de um conjunto ósseo do tipo, mas podemos atribuir isso à degradação do tempo, que não preservou esse componente específico. Segundo Fortner, o objetivo agora é conduzir as mesmas simulações em dinossauros inferiores da mesma família do tiranossauro.

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