Embora todos os setores econômicos mundiais tenham sido afetados pela pandemia de coronavírus, as big techs pouco sentiram os impactos negativos. Prova disso são os balanços financeiros do primeiro trimestre de 2021 recém-divulgados por Alphabet, Amazon, Apple, Facebook e Microsoft que, juntos e somados aos números do ano passado para cá, totalizam US$ 1,2 trilhão em receita — alta de mais de 25% comparados aos números pré-pandemia.

A situação das big techs é bem diferente do cenário de crise econômica global ocorrido de 2007 a 2009. De 2008 até o ano seguinte, por exemplo, a Microsoft viu suas ações caírem cerca de 60%. Na mesma época, Google e Amazon perderam até dois terços de seus valores de mercado.

Naturalmente, as gigantes de tecnologia se recuperaram após a Grande Recessão e passaram a crescer desenfreadamente ano após ano. Com o início de pandemia de coronavírus, esperava-se uma nova queda em suas receitas, acompanhando a crise econômica reportada em todo o mundo.

Mas a realidade mostrou justamente o contrário, com faturamentos recordes das big techs mesmo diante de uma crise sanitária sem precedentes. Na verdade, a situação talvez tenha sido um choque para mostrar como o ser humano tornou-se dependente do universo digital e, claro, dos serviços de tecnologia.

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Queda econômica em virtude da pandemia do coronavírus
Resultados das principais empresas de tecnologia não acompanharam a queda da economia global. Foto: Aun Puttipong/Shutterstock

“Para elas [big techs] foi uma tempestade perfeita e positiva”, disse Thomas Philippon, professor de finanças da Universidade de Nova York.

Crescimentos das big techs

Basta uma análise rápida para entender toda essa cadeia de lucros. Por conta da quarentena, o hábito de fazer compras online tornou-se a única alternativa viável para evitar filas e aglomerações nos pontos físicos. Bom para empresas de e-commerce como a Amazon, que aproveitou-se disso e reportou um faturamento de US$ 108 bilhões nos três primeiros meses deste ano.

Aliás, muitas dessas compras partiram de necessidades do regime home office. Afinal de contas, trabalhar em casa exige computadores e dispositivos móveis de ponta, como iPhones, notebooks e computadores Mac. Inclusive, a alta na venda de iPhones fez a Apple reportar uma receita de US$ 89,5 bilhões no começo de 2021.

Mas além de bons dispositivos, são necessárias ferramentas que possibilitem o trabalho remoto (inclusive das próprias big techs). Não à toa, os serviços de armazenamento em nuvem da Microsoft — junto da alta de vendas de Surface e Xbox — impulsionaram os ganhos da gigante no começo deste ano: US$ 41,7 bilhões em apenas três meses.

E como tudo passou a ser focado nos canais digitais, as empresas passaram a apostar (ainda mais) na publicidade digital. Chance para Facebook e Alphabet, dona do Google, aumentarem ainda mais os seus lucros, apresentando receitas trimestrais de US$ 26,17 bilhões e US$ 55,3 bilhões, respectivamente.

Ilustração de aumento de lucros
Receitas das principais big techs aumentaram desde o início da pandemia do coronavírus. Foto: ITTIGallery/Shutterstock

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Realidade desigual

Sim, é inegável admitir que os serviços das big techs foram — e continuam sendo — imprescindíveis em tempos de pandemia, seja para possibilitar o trabalho remoto, para manter o funcionamento das empresas ou mesmo para tirar o tédio quando a única opção segura é manter-se dentro de casa.

No entanto, deve ser analisado o “preço” que se paga por tudo isso: enquanto o cenário tem sido ótimo para os bolsos das big techs, a economia de diversos países (incluindo o Brasil) encontra-se devastada, os hospitais continuam lotados, o desemprego cresce de forma considerável e a fome se agrava pelo mundo.

Não se pode desconsiderar, porém, os esforços das gigantes. As empresas têm doado alimentos e montantes para acelerar a vacinação em massa ao redor do mundo. Além disso, algumas companhias deixaram de cobrar por alguns serviços premium, tendo em vista a crise global.

Mas fato é que, em 2022, o cenário deve permanecer antagônico. De um lado, nações se recuperando da crise, indivíduos despejados de suas moradias por atrasos em aluguéis e comerciantes em busca de reestabelecer seus negócios diante das perdas dos últimos dois anos. Do outro lado, big techs mais consolidadas e prontas para lucrarem ainda mais com a recuperação econômica.

Fonte: Estadão

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