Nesta semana, o Procon-SP informou que o Peixe Urbano, conhecido pelo serviço de compras coletivas, passou a integrar a sua lista de “evite esses sites”.
Há anos a Fundação monitora sites na internet e seleciona os endereços arbitrários para incluir em sua coletânea, a fim de avisar usuários sobre URLs que não possuem um histórico confiável para acesso e podem apresentar riscos à privacidade e à segurança de dados.
No início deste mês, mais precisamente na sexta-feira (7), o Procon-SP chegou a notificar o Peixe Urbano com intuito de obter informações sobre o responsável atual pelo serviço e averiguar a legitimidade da página. Dentre as informações solicitadas estão: telefone, endereço comercial e eletrônico (e-mail), além de uma proposta de atendimento às queixas de consumidores.
O Peixe Urbano está fora do ar desde fevereiro deste ano, mas os problemas que levaram ao ponto de o Procon intervir já ocorrem há algum tempo.
Em 2020, o Procon-SP relata o registro formal de 297 reclamações contra o site de compras coletivas, com índice de solução de 71%. Nos quatro primeiros meses desde o início de 2021, as queixas cresceram a ponto de ultrapassar o número inteiro do ano passado, alcançando o montante de 328.
Os índices de solução foram 33% em janeiro e 43% em fevereiro, segundo informa a fundação, complementando que “a empresa não apresenta mais respostas e as notificações eletrônicas são devolvidas automaticamente com mensagem de erro”.
O Procon-SP informou, também, que a conduta da empresa “será encaminhada para diretoria de fiscalização para que avalie a adoção de outras providências com base no Código de Defesa do Consumidor”.
Do auge à queda
Em 2010, sites de compra coletiva chegaram ao auge de sua atuação no Brasil, tendo o Peixe Urbano e o Groupon como líderes no período. Em 2011, por exemplo, o país registrava 1.890 sites de compra coletiva e 73 agregadores e ofertas – ou um total de 1.963 para compras coletivas, segundo dados do site Bolsa de Ofertas, divulgados à época.
Nos tempos áureos, inclusive, o Peixe Urbano teve o apresentador Luciano Huck como sócio minoritário, além do Morgan Stanley Investment Management e da T. Rowe Price Associates.
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Em meados de 2012, o Brasil se mostrava um grande investimento para a empresa, que vendeu suas operações na Argentina, no Chile e no México para impulsionar o mercado localmente.
Dois anos depois, em 2014, ela foi adquirida pela chinesa Baidu, que vendeu o negócio novamente. Posteriormente, as operações do Groupon e do Peixe Urbano se fundiram.
Isso foi em 2017. De lá para cá, no entanto, a popularidade de sites do tipo caiu – e assim também teve início a queda da empresa. Nessa toada, o Peixe Urbano passou de a principal startup brasileira de e-commerce para uma companhia com grandes dificuldades financeiras.
A pandemia veio apenas para selar um destino já anunciado, já que 95% da receita do site eram provenientes de parcerias com cinemas, viagens e restaurantes.
Ao longo do tempo, as queixas cresceram e pode-se ver diversos consumidores recorreram à rede social para pedir auxílio para o cancelamento de compras e estorno de valores devido à instabilidade do site, mas a empresa se limitou a pedir para os usuários “aguardar o retorno do sistema para que as medidas cabíveis sejam tomadas”.
Em fevereiro o e-commerce saiu do ar, e as últimas interações que a empresa possui são essas no Twitter, do dia 2 do mesmo mês. Em março, os escritórios da empresa localizados no Rio de Janeiro e em São Paulo foram fechados e a sede de Florianópolis foi alvo de ação de despejo.
Estima-se que a dívida atual com seus ex-funcionários e cerca de 12 mil estabelecimentos parceiros chega a, pelo menos, R$ 50 milhões.
Em abril de 2020, uma reportagem publicada pelo jornal O Povo, de Fortaleza (CE), aponta que o Peixe Urbano estava retendo o pagamento de fornecedores e restaurantes locais associados ao site desde dezembro de 2019.
Os estabelecimentos não eram os únicos a ter dívidas não quitadas com o serviço. Segundo informações de O Globo, uma das últimas declarações que o CEO da empresa, o chileno Nicolás Leonicio, deu aos funcionários aconteceu durante uma reunião realizada em janeiro deste ano, na qual ele teria dito que o negócio estava quebrado e não havia dinheiro sequer para demissão e pagamento das rescisões.
Ainda segundo apuração da publicação, o executivo teria afirmado na reunião que estava em conversa com investidores para injetar recursos no negócio e que teria uma resposta na semana seguinte – resposta essa que não se concretizou.
A empresa também deixou de honrar pagamentos de honorários, inclusive, do escritório de advocacia Bracks Advogados Associados, responsável por representá-la em ações judiciais no Ministério Público do Trabalho (MPT), segundo informações apuradas pelo jornal A Tarde. Ainda de acordo com a publicação, membros do escritório jurídico, durante audiência realizada em 30 de março deste ano no MPT, afirmaram que não conseguiam contato com Leonicio.