A crise dos chips, que tem afetado a indústria global dos mais diferentes setores, atingiu níveis críticos e entrou na “zona de perigo”. De acordo com uma pesquisa da Susquehanna Financial Group, o prazo entre o pedido e a entrega de um chip aumentou para 17 semanas em abril, o que configura a espera mais longa reportada desde que a empresa começou a rastrear os dados em 2017.

Segundo Chris Rolland, analista da Susquehanna, abril marcou o quarto mês consecutivo de alta no período entre as solicitações e entregas dos componentes por conta da crise dos chips.

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Cerca de 70% das empresas analisadas pelo executivo aumentaram o prazo de entrega dos chips e apenas 20% das companhias conseguiram reduzir o período de fornecimento.

O prazo para o fornecimento de chips de gerenciamento de energia, por exemplo, aumentou para 23,7 semanas no mês de abril — quatro semanas a mais do que o período reportado em março.

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A crise dos chips também afetou a indústria automotiva: a NXP Semiconductors NV, grande fornecedor de componentes do setor, tem prazos de entrega de mais de 22 semanas, comparados às 12 semanas no ano passado. A STMicroelectronics NV, por sua vez, aumentou a data limite para mais de 28 semanas.

Indústria automotiva
Indústria automotiva é um dos setores mais afetados pela crise dos chips. Foto: Nataliya Hora/Shutterstock

Os impactos da crise dos chips são ainda maiores para as fabricantes de menor porte. A indústria de fones de ouvido tem enfrentado prazos de entrega superiores a 52 semanas, de acordo com fontes do setor. Isso tem “obrigado” as companhias a redesenharem alguns de seus produtos, mudarem as prioridades e, em alguns casos, abandonarem projetos.

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Novo problema à vista

Não bastasse todo o impacto sofrido pela indústria por conta da crise dos chips, o aumento no prazo de fornecimento desses componentes pode levar a outro impasse: o de acúmulo de estoque.

A indústria de chips e seus clientes observam os prazos de fornecimento dos componentes como um indicador entre oferta e demanda. Se o período está mais prolongado, há uma tendência de que as empresas compradoras de semicondutores intensifiquem as compras para evitar a escassez de seus produtos nas prateleiras das lojas.

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O problema é que a incerteza da crise dos chips, que teve forte influência dos impactos da pandemia de coronavírus e da guerra comercial entre Estados Unidos e China, coloca um grande ponto de interrogação se a procura dos consumidores vai acompanhar uma possível aceleração na fabricação dos produtos.

De nada adianta uma fabricante solicitar um pedido robusto de chips se a procura dos produtos cair. As mercadorias vão ficar “paradas” no estoque e a empresa corre o risco de falir.

“Essas tendências podem ter estimulado uma indústria de semicondutores a entrarem em estágios iniciais de envios acima da verdadeira demanda do cliente”, destacou Rolland.

Ilustração de acúmulo de estoque por conta da crise dos chips
Aumento nos prazos de fornecimento pode desencadear em um acúmulo de produtos no estoque. Foto: chinahbzyg/Shutterstock

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Crise dos chips pode se agravar ainda mais

Quando perguntados sobre o possível fim da escassez de chips, os executivos respondem quase de forma unânime: somente no ano que vem. É isso que acreditam gigantes como AMD, Stellantis, entre tantas outras. Mas o prazo pode ser ainda mais longo.

Isso porque a cidade de Taiwan, na China, observou um ressurgimento de casos de coronavírus. A região abriga a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), a fabricante de chips mais avançada do mundo que tem Apple e Qualcomm como alguns de seus principais clientes.

Na quarta-feira passada (12), os Centros de Controle de Doenças de Taiwan aumentaram o nível de alerta em toda a localidade e, se medidas mais restritivas forem adotadas, a produção de componentes pela gigante pode ficar comprometida, fator que agravará ainda mais a crise global do setor.

Nos Estados Unidos, empresas pressionam para que o presidente americano Joe Biden libere os US$ 50 bilhões prometidos para enfrentar a crise dos chips. A União Europeia, por sua vez, quer aumentar sua capacidade de produção para 20%, mas isso demandará um investimento aproximado de US$ 24 a US$ 36 bilhões.

Fato é que, se investimentos e outras medidas de combate à crise dos chips não forem implementadas com rapidez, toda a cadeia (fornecedores, empresas e clientes) deverá observar um cenário ainda mais complicado.

Fonte: Bloomberg

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