Você já deve ter ouvido relatos ou recebido informações pelos aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, de que “a CoronaVac não produz anticorpos” ou “a vacina da China não protege os idosos”. Entenda, a seguir, o que realmente está por trás de afirmações como essas.

Primeiramente, é necessário esclarecer que a redução da eficácia ou do índice de proteção de acordo com a idade não é um fenômeno restrito à CoronaVac. Segundo reportagem da Istoé, a fórmula da parceria Pfizer/BioNTech apresentou resposta imunológica mais fraca em pessoas acima dos 80 anos, em estudo feito na Alemanha. A pesquisa comparou os resultados de pessoas abaixo dos 60 anos com amostras de sangue de 176 idosos de um centro de longa permanência.

De acordo com o levantamento divulgado previamente pela Oxford University Press (ainda necessita de revisão de outros cientistas) 31,3% dos indivíduos com idade superior aos 80 anos sequer apresentaram anticorpos após 19 dias da aplicação da segunda dose do imunizante.

Fundador da Anvisa explica o que acontece com a CoronaVac e outros imunizantes

De acordo com o professor e médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nada disso é surpresa. “Existe um fenômeno que nós conhecemos que é a senescência, que significa envelhecimento. Então, temos a senescência não só do corpo, como também do sistema imunológico, o que faz com que as respostas sejam piores. Então, conforme nós vamos envelhecendo, nós não sabemos mais correr, não subimos mais em árvores, começamos a esquecer coisas, enfim, vamos parando de funcionar. O sistema imunológico não escapa disso”. 

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Fundador da Anvisa explica o que leva à diminuição da taxa de proteção das vacinas com o avanço da idade. Imagem: Captura de tela – Instagram

Ele explica que outras vacinas podem ter uma resposta melhor do que a CoronaVac em pessoas com mais idade simplesmente porque têm maior eficácia em todas as faixas etárias. “Mas, também tem uma queda proporcional na resposta imunológica dos idosos”, afirma.

Isso não quer dizer que essas pessoas não estejam protegidas. “Embora a cobertura da CoronaVac nessa população seja menor, de 50% para cerca de 30%, em média, a proteção dessas pessoas está garantida em consequência da proteção das demais. Estamos cansados de falar: vacinação não é proteção individual, é um ato coletivo”, disse o médico em pronunciamento em sua página no Instagram.

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Se fizer o teste de anticorpos e detectar baixa produção, é possível tomar outra vacina?

Quem se vacinou com a CoronaVac, se fizer o teste sorológico e não identificar anticorpos, não poderá tomar outra vacina, porque, segundo Vecina, “não funciona assim”. O médico explica que, quando todos estiverem vacinados, a coletividade estará protegida. “Não queira você estar individualmente protegido, é a coletividade que vai garantir a proteção de todos, inclusive a sua”, orienta. 

Mas, então, os mais velhos continuam correndo risco mesmo tendo sido os primeiros a serem vacinados? “É lógico que os velhinhos ficam com a preocupação de não estarem protegidos. Sim, existe essa chance. Então, o que fazer? Esperar que todos recebam suas doses. Nós já sabemos desde o começo da vacinação que, enquanto não tivermos coberto toda a população, nós todos continuaremos correndo risco”, alerta Vecina. “Não é uma informação nova, é uma informação que já está presente desde sempre. Vacina não é bala de prata. Ou a população toda está coberta, ou você, já vacinado, seja com que vacina for e com qual resultado for, não pode sair à rua. Não pode encontrar quem quiser encontrar. A única exceção é encontrar pessoas já vacinadas. Não pessoas que já tiveram a doença, pessoas já vacinadas”, reforça.

Mais de 30% dos infectados na segunda onda são reincidentes

Segundo Vecina, mais de 30% das pessoas que tiveram a doença na segunda onda tinham sido infectados também na primeira, ou seja, são reincidentes. Para ele, esse é um índice muito alto, e pode estar relacionado à circulação de novas variantes no país. “A variante P.1 abriu essa perspectiva. Como será a variante londrina, como serão as dos EUA, como é a da África do Sul? E as três da Índia? Não sabemos. Tem uma variante circulando no oeste do estado de São Paulo, descoberta esses dias. Como ela se comporta? Não se sabe, ela ainda está sendo sequenciada”.

Por esse desconhecimento em relação às possíveis novas cepas, o médico sanitarista recomenda: “Mais respeito com a nossa ignorância em relação a essa pandemia é fundamental. Precisamos entender que, enquanto nós tivermos a formação de novas variantes, não dá para dizer que estamos protegidos somente com as vacinas. Até agora, todas elas têm provocado uma resposta adequada para todas as variantes em circulação. Mas, não podemos garantir que será sempre assim. Por isso, as indústrias estão estudando alternativas”.

Para finalizar, ele faz outro importante alerta: “Quem recebeu a vacina não ganhou um atestado de alforria. Pode até ter um passaporte carimbado como vacinado. Mas, isso não quer dizer que esteja protegido, enquanto a população não estiver protegida”. 

Por isso, a manutenção do uso da máscara, do isolamento social e da higiene das mãos. “Só depois que conseguirmos cobrir toda a população alvo é que nós vamos poder respirar mais aliviados. Não só nós: o mundo inteiro está nessa mesma perspectiva”, conclui.

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