Sabe aquela placa em quase todos os locais escrito ‘Sorria! Você está sendo filmado?’. Uma subsidiária da Canon na China instituiu um processo similar dentro do seu escritório. Lá, os funcionários podem sorrir para as câmeras equipadas com reconhecimento facial e, então, terem sua entrada liberada no local.

Essa, a princípio, é uma alternativa aos cartões que empresas recorrentemente utilizam para autorizar a entrada de pessoas. Mas, a problemática desse cenário é que o colaborador precisa, de fato, estar sorrindo para a câmera. Caso contrário, a entrada dele não é liberada e ele não pode trabalhar.

A iniciativa, implantada na subsidiária Canon Information Technology, pode causar um estranhamento ainda maior se considerar o fato de que a ideia por trás das câmeras não é apenas garantir a entrada de funcionários. Essa foi a maneira que a empresa encontrou de tentar elevar a moral do ambiente de trabalho.

Ilustração de um sistema de reconhecimento facial
Subsidiária chinesa da Canon institui reconhecimento facial para liberar entrada de funcionários em seus escritórios. Imagem: metamorworks / Shutterstock

Pode parecer um episódio de Black Mirror, mas aparentemente esse cenário não é incomum aos colaboradores do país asiático. De acordo com um relatório do Financial Times, outras empresas locais estariam vigiando seus funcionários com ajuda de tecnologias de inteligência artificial (IA) e algoritmos.

publicidade

Dentre os monitoramentos instalados em companhias localmente, estão: quais os programas que funcionários usam em seus computadores, com intuito de avaliar a produtividade deles; mensuram o tempo que os funcionários demoram durante a pausa para o almoço por meio de câmeras de CFTV; e também monitoram os movimentos fora do escritório, por meio de aplicativos móveis e geolocalização.

Veja também!

Na China, trabalhadores não estão sendo substituídos por máquinas, como muitos temiam por anos. “Em vez disso, a gestão está sendo ampliada por essas tecnologias […] As tecnologias estão aumentando o ritmo para as pessoas que trabalham com máquinas, e não o contrário, assim como aconteceu durante a revolução industrial no século 18”, disse o estudioso Nick Srnicek do King’s College London, em entrevista ao FT.

Na verdade, como aponta o The Verge, as câmeras de “reconhecimento de sorriso” da empresa foram anunciadas no ano passado, em um evento da empresa durante o qual ela apresentou as novas tecnologias nas quais estaria trabalhado.

À época, inclusive, o dispositivo havia sido anunciado como parte de uma estratégia que a companhia estaria implementando em prol de ferramentas de gerenciamento de ambiente de trabalho – e o fato passou despercebido.

Vigilância e tecnologias no ambiente de trabalho

Alta produtividade se tornou um dos recursos mais demandados por empresas no mundo inteiro e, apesar da vigilância descrita na subsidiária chinesa acima, outros tipos de dinâmicas são instituídas por grandes companhias também nos Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo.

A Amazon é recorrentemente apontada como um exemplo nesse sentido e comumente está envolvida em notícias que a mostram como uma empresa que possui políticas controversas de trabalho, especialmente com relação aos funcionários em depósitos – apesar dela também se posicionar recorrentemente sobre isso, sempre alegando o contrário.

A Microsoft também possui tecnologias integradas em seus softwares de produtividade – amplamente utilizados por empresas – que permitem o monitoramento do trabalho de colaboradores.

A companhia de Redmond já chegou a afirmar no passado que a tecnologia foi instituida para trazer dados com foco em suporte técnico. Mas funcionários recorrentemente afirmam que o recurso passou a ser implementado como ferramenta de vigilância por muitas companhias, para medir produtividade.