Nesta quarta-feira (30), é comemorado o Dia Mundial dos Asteroides. A data foi criada pela organização Asteroid Day e sancionada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em dezembro de 2016, quando foi instituída a resolução A/RES/71/90, dedicando este dia a celebrar, internacionalmente, todos os anos, o aniversário do Evento de Tunguska.

Nesse dia, em 1908, um objeto atingiu a Terra, provocando um impacto que destruiu oitenta milhões de árvores em uma área de dois mil quilômetros quadrados na Sibéria.

Em todo o globo, existe um esforço cada vez mais crescente na busca e no rastreamento de asteroides próximos à Terra. No Brasil, esse empenho se concentra no trabalho de astrônomos amadores que, mesmo sem qualquer investimento público, têm se destacado nessa pesquisa. 

Observatórios amadores e a caça a asteroides

Nos últimos anos, o Observatório SONEAR, em Oliveira (MG), e o Observatório Campo dos Amarais (OCA), em Bilac (SP), foram as instituições que mais descobriram asteroides, entre todos os observatórios amadores do mundo.

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Para o engenheiro, físico e astrônomo amador Cristóvão Jacques, sócio fundador do Observatório SONEAR e do canal Astro NEOS, no YouTube, a importância do Dia dos Asteroides é “criar nas pessoas, e no mundo em geral, uma conscientização sobre o possível risco de um dia algum asteroide impactar a Terra”. 

SONEAR
Cristóvão Jacques, cofundador do observatório SONEAR. Imagem: Arquivo Pessoal

SONEAR é a sigla, em inglês, de “Observatório Austral para Pesquisa de Asteroides Próximos à Terra”. Foi criado por Cristóvão Jacques e João Ribeiro, dois astrônomos amadores, que, posteriormente, convidaram o advogado Eduardo Pimentel, também entusiasta da astronomia, para compor o time.

“A gente pesquisa e busca asteroides que estão principalmente visíveis no hemisfério Sul, região que não é muito enxergada pelos observatórios do hemisfério Norte. Já que a maioria dos observatórios está localizada no Norte, nós resolvemos criar este no Sul, para tentar cobrir essa área”, explica Jacques. 

O observatório, que foi fundado em 2014, já identificou dezenas de objetos no espaço. “Nós já descobrimos 33 asteroides próximos da Terra, além de nove cometas”, afirma o responsável. “Nossa função é observar tanto asteroides próximos da Terra já encontrados, para determinar a órbita deles, como também tentar descobrir novos asteroides que podem passar próximos do nosso planeta, agora e no futuro”.

Admirador do trabalho do SONEAR, Leonardo Scatena Amaral, analista de sistemas do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), também construiu seu próprio observatório, no sítio da família, tornando-se uma das grandes referências no ramo da astronomia amadora. 

Ele conta que a ideia do OCA surgiu em 2016. “Inicialmente, a ideia era construir um local para observação do céu e realização de astrofotografias. Mas, eu sempre acompanhei o trabalho do pessoal do SONEAR e ficava maravilhado com as incríveis descobertas deles. Inspirado no trabalho deles, eu comecei a automação do observatório em 2017”.

Observatório OCA
O Observatório Campo dos Amarais (OCA) fica em Bilac (SP) e é operado remotamente pelo astrônomo amador Leonardo Scatena Amaral, que mora no Rio de Janeiro.
Imagem: Arquivo Pessoal

Segundo Amaral, que atualmente mora no Rio de Janeiro, essa automação é necessária para conseguir operar o observatório de forma remota, todas as noites de tempo favorável e também durante a noite inteira. 

“Em 2018, consegui começar as buscas. Nesse ano, eu bati na trave na descoberta de um cometa e consegui identificar meu primeiro asteroide. Isso me deixou ainda mais empolgado com as buscas”, relata o astrônomo amador em entrevista ao Olhar Digital.

No total, Amaral descobriu sete asteroides do cinturão principal, quatro próximos da Terra e um cometa. “Também reportei observações de milhares de asteroides já conhecidos ou recém-descobertos. Essas observações são importantes para o refinamento das órbitas desses objetos”, explica.

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Em 2019, o OCA apareceu no ranking dos 10 melhores do mundo entre os observatórios de busca de asteroides próximos da Terra. Nesse mesmo ano, Amaral ganhou um prêmio da Planetary Society para a compra de novos equipamentos para o OCA. “Fico feliz em contribuir com essa área da ciência e também por, de certa forma, representar o Brasil”.

Funções dos observatórios e sua importância na localização de asteroides

De acordo com Jacques, os observatórios exercem funções terrestres e realizam missões espaciais. “As funções terrestres são os trabalhos de ficar buscando, noite a noite, possíveis asteroides que possam passar perto do nosso planeta, e, com isso, a gente calcula a órbita deles e projeta essa órbita para o futuro, para ver se tem alguma condição de impacto”. 

Já quanto às missões espaciais, ele explica que elas servem, principalmente, para estudar o formato e a composição dos asteroides. “Nós temos, por exemplo, a missão Hayabusa, que foi ao asteroide Itokawa, e que trouxe algumas amostras para a Terra, assim como a missão Osiris-REx, que foi ao asteroide Bennu, e captou algumas amostras também, que vão chegar daqui a dois anos aqui na Terra”, lista Jacques ao Olhar Digital.

Não existe uma região do globo mais propícia para colisão de um asteroide. Qualquer parte do globo pode ser impactada. Como nosso planeta é dois terços composto por água, as chances de um asteroide cair no mar são muito maiores do que de atingir o solo. 

E as consequências desse impacto variam de acordo com algumas variáveis, sendo o local da colisão um fator determinante. “Tudo depende do tamanho, composição, ângulo de entrada que ele vai entrar na Terra e onde ele vai cair”, explica Jacques. “Uma coisa é o asteroide cair no mar. Dependendo do tamanho e da composição dele, ele pode causar até alguns maremotos e tsunamis. E, se ele cair no continente, pode causar, dependendo também do tamanho, problemas em uma cidade, um estado ou um país”

Um asteroide pode causar a destruição da Terra?

Para gerar grandes consequências em nível global, um asteroide deve ter, pelo menos, 1km de diâmetro. 

O asteroide que mais se aproximou do nosso planeta foi o 2020 VT4, que chegou a cerca de 6,7 mil km do centro da Terra, em novembro de 2020. O objeto, que sobrevoou a apenas 400 km acima do Oceano Pacífico e só foi detectado pelos nossos sistemas 15 horas depois,  tinha entre 5 e 11m de diâmetro.

Muito antes disso, há quase 66 milhões de anos, um grande asteroide de 10 km de diâmetro caiu na península de Yucatán, no México, causando uma grande explosão no local e ondas de choque que se espalharam pelo mundo. Teorias do mundo todo apontam que esta foi a causa da extinção dos dinossauros

Questionado se existem chances de uma nova dizimação dessas acontecer, Jacques explica que existe uma previsão de uma possível colisão com a Terra do asteroide 1950 DA, ou número 29075. “Ele tem uma aproximação muito perigosa com a Terra no ano de 2880, por isso que ele está listado no site da Nasa como o mais perigoso, com uma pequena probabilidade de ele se chocar com a Terra. Porém, é no ano de 2880, ainda tem muito tempo até lá”, pondera. 

De qualquer forma, o trabalho dos observatórios consiste, também, nisso: tentar evitar que impactos desse tipo aconteçam. E, quanto antes for detectado um potencial perigo de choque, melhor. 

“Tudo vai depender de quanto tempo antes se descobre o asteroide”, afirma Jacques. “Se for um asteroide que a gente descubra poucos dias ou poucos meses [antes do impacto], a gente praticamente não vai poder fazer nada. Se for um asteroide que vai cair daqui a 20, 30, 40 anos, aí temos tempo suficiente para tomar medidas”. 

E as medidas a serem tomadas variam entre o desvio de rota e a destruição do objeto. “Existem várias táticas para desviar o asteroide ou tentar destruí-lo, até partir em duas ou três partes. O que não vai resolver muito. Então, as agências espaciais estão estudando essas técnicas e vão lançar missões nos próximos anos para tentar testar essas técnicas de desviar aos poucos o asteroide, que parece ser a tática de melhor performance para a gente conseguir impedir que um asteroide atinja a Terra”, explica Jacques, salientando que  tudo vai depender do intervalo entre o momento da descoberta e o momento da possível queda de um asteroide. “Quanto mais tempo a gente tiver, melhor vai poder agir”.

Portanto, neste Dia Mundial dos Asteroides, e em todos os outros dias do ano, é importante valorizar o trabalho desses profissionais, que atuam na proteção e segurança do nosso planeta contra os perigosos (e fascinantes) mistérios do universo.

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