Com quase três décadas de planejamento, finalmente chegou a hora de começar a construção do maior radiotelescópio do mundo. A partir de hoje (1), redes de antenas localizadas em parques estruturados na Austrália e África do Sul serão erguidas, e o conjunto completo permitirá a mais profunda observação do espaço de que se tem notícia para esse tipo de artefato.

Nomeado “Observatório SKA” (Square Kilometer Array, Matriz de Um Quilômetro Quadrado”) o telescópio é um projeto liderado pela Organização SKA (SKAO), que confirmou o início das obras no último dia 29 de junho, durante reunião anual da Sociedade Astronômica Europeia (ESA).

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Ilustração mostra o visual do maior telescópio de rádio do mundo, quando sua construção terminar.
Ilustração em 3D de como deve ficar o observatório SKA, depois de sua construção ser finalizada: mais de 130 mil antenas vão compor a rede de escuta espacial. Imagem: SKAO/Divulgação

Segundo suas especificações técnicas, o telescópio de rádio poderá escutar qualquer coisa entre as frequências de 70 megahertz (MHz) até o teto de 25 gigahertz (GHz), com uma área de abrangência de um quilômetro quadrado (km²).

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Toda essa capacidade vem de um diferencial dele em relação aos seus pares: ao invés de depender de uma única – e gigantesca – antena, o Observatório SKA fará uso de várias antenas distribuídas em duas localidades: o primeiro sítio – no deserto de Karoo, África do Sul – vai instalar 197 antenas com 15 metros (m) de diâmetro cada. Essa estrutura vai captar frequências de faixas medianas.

Já o segundo sítio, localizado ao norte de Perth, na Austrália, consistirá de 131.072 antenas de escuta de baixa frequência. “Estou em êxtase. Esse momento é aguardado há 30 anos”, disse Philip Diamond, diretor geral da SKAO, em um comunicado.

“Hoje, a humanidade dá mais um enorme salto ao se comprometer com a construção do que será a maior estrutura científica do tipo no planeta; com não apenas uma mas duas das maiores e mais complexas redes de antenas de rádio, criadas para descobrir alguns dos mais fascinantes segredos do nosso universo”.

O “êxtase” do diretor não vem à toa. Simulações primárias estimaram que o Observatório SKA será capaz de identificar objetos tão distantes que suas ondas de rádio normalmente levariam 13 bilhões de anos para chegar à Terra.

Ao atingir uma análise tão distante, espera-se que o projeto consiga nos dar informações mais detalhadas sobre a evolução do universo ao longo de sua história, bem como avaliar, no futuro, mudanças que estejam ocorrendo nele hoje.

“O SKA será o divisor de águas em vários campos, incluindo a astrofísica, cosmologia e física fundamental”, disse Chiara Ferrari, supervisora da contribuição do governo francês para a SKAO. “Ele estará em uma posição única para responder a algumas das mais persistentes questões sobre a evolução das galáxias e nos oferecer uma oportunidade exclusiva de começar a estudar a matéria prima por trás da formação e evolução do nascimento cósmico até os anos atuais”.

Originalmente proposto em 1993, o SKA promete entregar imagens mais detalhadas que o telescópio Hubble, que se encontra no fim de sua vida, segundo notícias recentes. Ao todo, 16 países colaboraram com o projeto, financiando os cerca de US$ 1,55 bilhão (R$ 7,81 bilhões), necessários para a primeira década de seu funcionamento.

O maior telescópio de rádio do mundo poderá coletar até 13 terabits de dados por segundo o que, em termos práticos, equivale a você baixar 300 filmes de alta definição a cada instante.

“Os dados serão bem complexos se comparados às imagens e informações de rádio que tivemos no passado”, disse Philipa Hartley, pós-doutoranda associada da SKAO. “Isso porque nossos telescópios são capazes de ver mais longe no espaço do que outros de seu tipo poderiam. Então nossas imagens terão bastante interferência, com várias galáxias se sobrepondo umas às outras”.

A previsão de funcionamento do SKA também é otimista: estima-se que ele fique parcialmente operacional a partir de 2024, quando a construção das primeiras subredes terminar.

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